Feel for you - especial de Natal

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Havia um charme macabro em maçãs secas penduradas em uma guirlanda de galhos secos, mas que surpreendentemente mantinham uma casca vermelha vibrante como sangue. Tyler não podia esperar menos de um arranjo natalino na porta de entrada da mansão da família Addams. Ao bater na aldrava de metal, um som de corvo reverberou pelas paredes como um chamado fúnebre de morte. Em seguida, ouviu passos.

—Espero que aproveitem o... Ah, é você, o fazedor de café. Tyler?

Era Fester, o tio de índole duvidosa de Wednesday que Tyler havia conhecido meses atrás enquanto sua namorada ainda tinha aulas em Nevermore.

—Sim... Só o Tyler. Esperava outra pessoa?

—Várias! O coro de uma igreja do outro lado da cidade. Todo ano aparecem para cantar na nossa porta.

—Não imaginei que fosse fã de músicas natalinas.

A risada nasal maquiavélica do tio Fester deixou claro que não era exatamente esse o motivo para querer ver a cantata de Natal. O patriarca dos Addams fez sinal para que o balconista entrasse na mansão e o mesmo já foi recepcionado por um garoto de roupas listradas e bochechas muito similares às de sua querida.

—...Ah... Pensei que fosse aquele pessoal da igreja.

—Infelizmente há sempre a possibilidade de termos espantados eles permanentemente no natal passado, Pugsley — como se lembrasse da presença de mais uma pessoa na sala de entrada, apontou para o garoto loiro de olhos esbugalhados — Este é Tyler Galphin. Namorado da nossa cadaverzinha preferida!

O garoto lhe olhava como se estivesse procurando algum ponto fraco, lembrava Wednesday enquanto consertava a máquina de café.

—É, isso explica porque ela pareceu menos pálida ultimamente. Pensei que estivesse doente— como se as engrenagens se encaixassem em sua mente napoleônica se encaixassem, o garoto sorriu inocente — Pode me ajudar com alguns enfeites de natal? São tradição de família... Minha irmã iria gostar que me ajudasse!

Já esperando o pior, afinal, ele era um Addams, o receptáculo do Hyde concordou em lhe acompanhar em algumas festividades natalinas.

***

Wednesday se olhava no espelho e gostava do que via. O mesmo vestido usado naquela bobisse de baile de Nevermore. Pelo menos aquele evento resultou em duas coisas positivas: um belo vestido e um escravo. Um escravo-namorado, é claro. Seria melhor se o sangue despejado fosse de verdade? Definitivamente, mas já foi satisfatório o suficiente poder desvendar o mistério das mortes em Jericho, levar a professora irritantemente sorridente, senhora Thornhill, para a cadeia e de quebra ouvir um obrigado vindo do xerife por garantir a liberdade de seu filho. Enfim, aquele velho reconheceu sua superioridade investigativa.

E havia Tyler. Não conseguia entender que tipo de feitiçaria um humano sem herança wicca poderia ter, mas o garoto de olhar penetrante conseguia lhe deixar sem ar só de estar por perto lhe encarando. Quando lhe tocava, então? Sentia o coração pulsar como se estivesse tendo um ataque do coração e tudo ficava ainda pior quando sentia sua pele áspera deslizando pelo rosto, como se milhares de morcegos tentassem lhe perfurar o estômago... De um jeito bom.

Batidas na porta.

Thing.

Pela empolgação das batidas, ou a mansão estava mais uma vez em chamas, ou Tyler havia chegado. Em ambas as opções, era melhor checar o que seu irmão estava aprontando.

Descendo as escadas para o grande salão da mansão, se depara com o namorado em uma escada bamba se equilibrando enquanto segura uma estrela de sete pontas e enfeitada com teias de aranhas e pelo de gambá. Sua estrela dos pecados. O garoto acena sorridente enquanto tenta prender a piñata no que parecia ser uma corda para enforcamentos.

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