Capítulo 04

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A rotina diária é uma repetição de problemas, ou melhor dos mesmos problemas, só mudam as pessoas, não entendo a dificuldade em seguir o exemplo com as disciplinas dos outros, faz parte do ciclo eles erram a gente cobra e assim vai.

Dentre todas as atividades, o que mais gosto de fazer são os serviços sociais, fortalecer a comunidade me deixa com o coração quentinho, cesta básica, remédios, telhas, cimento, tijolo... De tudo um pouco!

Por alguma razão, que ainda desconheço hoje tudo está mais intenso, não sei o que está acontecendo, ou o que vai acontecer, mas o meu coração está com uma sombra e isso me assusta. Torço para que não seja nada de ruim com os meus, e não sendo com eles está tudo certo.

Concentrada em meus afazeres, ignoro meu telefone que toca insistentemente, por ser no aparelho do corre sequer olho para ver quem está me ligando, contudo pouco tempo depois, Val bate a porta e entra pedindo que eu atenda a chamada que o irmão Papa está tentando falar comigo, antes mesmo que ela deixe a sala o telefone volta a vibrar.

— Fala maninho, tudo pela normalidade?— Atendo apreensiva, apesar de ter uma estima muito grande, ele não me liga para conversar abobrinha.

— Opa mana, muito ocupada?— Ele fala em um timbre sério.

— Não mano, o que está pegando?— respondo simples.

— Parada é a seguinte, soube que o vacilão do Thor está na redondeza, vamos para cima da missão, é capturar e deixar de exemplo, mas tem um adendo... eu quero que você esteja pessoalmente resolvendo isso— Ele fala como se estivesse me desafiando.

— Ok! Eu estarei lá meu irmão, tudo vai ser feito com senhor presente na ligação de vídeo— Eu concordo, porém meu coração está gelado.

— Certo mana, no mais tá tudo certo por aí?

— Sim sim meu mano, está tudo certinho! — Confirmo e encerramos a chamada.

Meu corpo está travado, minha mente revirada, cada dia uma coisa diferente e eu só me afundando, um pedaço de mim quer sair correndo o outro está amando essa adrenalina.

Se tem uma coisa que tenho absoluta certeza de que em cima do muro não posso continuar, se bem que estou mais dentro do que fora, não sei quem estou tentando enganar. Respiro fundo, pego novamente o aparelho e ligo para JK, passo a visão sobre o Thor explico detalhadamente como deve ser o resgate e peço que me avise assim que chegar na "casinha", o tratamento dele será vip.

(JK) 12:35

Mana, já vasculhamos o morro de ponta a ponta e nada, vou mandar um grupo descer e ficar na contenção lá no asfalto e também alguns guris para ficar de olho na ex namorada dele que mora num bairro aqui próximo.

(Eu) 12:36

Positivo! Temos que achar esse vacilão. Ele está na redondeza... de hoje não passa, qualquer novidade me chama aqui. Saio com a mente a milhão, vou até em casa, assim que entro vejo minha mãe que já está terminando de fazer o almoço, não sei como vai ser o resto do dia, faço um prato cheio e como, sabe Deus a que horas vou parar novamente.

Deixo meus pequenos na escola e vou direto para o barracão, preciso muito achar ele e eu vou. Entro e encontro Val fazendo toda parte burocrática do abastecimento, ela tenta me passar alguns relatórios, mas peço para que façamos isso em um outro momento. Me sento em uma cadeira próximo a mesa dela e meu telefone vibra,é mensagem de número estranho, abro rapidamente, já sentindo um estímulo de adrenalina correr meu corpo.

(Número desconhecido)

A caçada começou, só que eu estou em vantagem, sei onde você está, sei onde todos que você ama estão, já você está muito longe de me encontrar... passei só para dizer que é melhor intensificar isso aí, de hoje um de nós dois não passamos.

Sinto o ar faltar nos pulmões, meu rosto queima e tudo gira, preciso ser forte para bater de frente com esse cara. Se eu não tinha, agora eu tenho certeza de que preciso encontrá-lo. Hoje ainda e eu vou achar, tiro um print da mensagem para encaminhar ao Papa que imediatamente me liga.

— Oh mana, dá mole não, tem todo pessoal aí, tem armamento, tem dinheiro, tem tudo é só pegar e botar para pular, vamos pra cima do problema... agora é a hora de fazer o bagulho acontecer.

— Já tô no problema meu irmão, pode ter certeza que uma mãe que vai chorar e não vai ser a minha.— Afirmo convicta.

Passamos a tarde toda procurando esse rato como se estivéssemos procurando agulha num palheiro, porém é como eu disse, a mãe que vai chorar não é a minha, em um estalo me recordo dele dizendo que eu não passaria de hoje, e neste momento tenho uma ideia.

— Serei a isca! — Falo para todos, enquanto me levanto.

Todos são contra, principalmente o Papa, mas essa decisão não é deles e sim minha, sei que Thor gosta de resolver as questões dele pessoalmente, então é óbvio que se ele realmente for me matar ele é quem virá.

O plano é eu seguir para fora do morro "sozinha" e ser capturada por ele, realmente espero que dê certo, pois não estou afim de morrer hoje, sou muito nova e ainda não fiquei rica o suficiente.

Abaixo os vidros do carro, JK vai no porta-malas, saio como se tudo estivesse normal, desço para o asfalto, fora do morro há alguns carros na contenção e um pessoal andando como pedestre, para não ser reconhecidos contei com o apoio de aliados, torço para que ele apareça logo, não quero ir muito longe, pois ainda devemos levá-lo de volta.

Não poderia ser mais perfeito, no primeiro semáforo, Thor entra e ergue a camisa para mostrar que está armado, confesso que meu corpo está travado e minha respiração pesada, no mesmo instante o carro é cercado pelos irmãos que o rende e eu dirijo de volta para o morro.

— Pensei que você fosse mais esperto! — Falo enquanto ele se debate.

Se eu soubesse que seria tão fácil, teria descido antes, perdi vários dias procurando ele,estressando meu juízo e correndo riscos, mas hoje todo esforço que fizemos foi validado. Subimos novamente o morro, o show se inicia agora na "casinha", escolho uma mais afastada, não faço questão que os moradores mais tranquilos sejam assombrados com isso, já são muitas turbulências cotidianas.

Enquanto JK e os demais o levam para dentro e o amarra, Thor desfere vários xingamentos e ameaças que não me abalam nenhum pouco. A essa altura do campeonato, estou entorpecida pela adrenalina, e revoltada com a situação, quero fazer ele se arrepender de cada momento de terror que me fez passar.

Para começar a brincadeira, preparo uma dose especial de dor, essa é pelas ameaças a minha família, mexa comigo, mas em hipótese alguma com os meus. Vou caprichar até que ele se arrependa de cada palavra dita, embora nada mudará o destino dele.

Ligo para o mano Papa, contudo ele está desativado, tento falar com alguém no sistema, mas ninguém está on-line, provavelmente está tendo procedimento no presídio.

—Deu sorte! Só pra contrariar seu desejo de que um de nós não íamos virar a noite vivos, estaremos os dois vivíssimos de tudo, porém eu vou estar em casa, desfrutando do conforto do meu lar com as pessoas que eu amo, já você... você vai ficar aqui piado igual um porco, sentindo frio para refletir a vida.— Falo para Thor olhando em seus olhos.

— Vadia, desgraçada, isso não vai ficar assim!— ele esbraveja e eu sorrio debochada.

— Realmente não vai, amanhã isso acaba, ou hoje de madrugada, não sei... — falo e defiro um soco em sua face.

Saio da sala, deixando ele supervisionado e com instruções para dar banho gelado de hora em hora, estou com muita raiva desse fudido e satisfeita comigo por tê-lo capturado, minha primeira missão sendo cumprida.

A DonaOnde histórias criam vida. Descubra agora