Capítulo 09

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Desço o morro para buscar minhas coisas, toda semana é a mesma história, já adiei tantas vezes que minha mãe já começou a acreditar que mudei de ideia. Aproveito minha vinda para passear com meus bebês no shopping, inclusive comprar umas coisinhas que estou precisando. Assim que entro meus pais estão sentados tomando um café e comendo um bolo de fubá que exala um aroma maravilhoso,me junto a eles, a conversa flui leve e agradável como nos velhos tempos, depois de dias tensos é muito bom ter o convívio com a família.

Arrumo meus pequenos e saímos os três, nossa primeira parada é no shopping, nos divertimos muito a área de recreação, até eu entro na brincadeira, uma verdadeira festa, preciso tirar mais tempo para sair com eles, estou deixando a vida no morro me consumir, não posso simplesmente esquecer que tenho uma vida e família só porque escolhi entrar de vez na caminhada.

— Mãe, estou com fome! — Beatrice fala me abraçando.

— Eu também mamãe! — Henrique complementa vindo para junto de nós duas.

— É? E o que os dois amores da minha vida todinha querem comer? — pergunto me abaixando para ficar na mesma altura deles.

— Sorveteeee!!! – Henrique fala erguendo os dois bracinhos em comemoração.

— Sorvete não... eu quero um Mac — Beatrice fala com expressão chorosa.

— Podemos comer os dois sem problema algum, vamos lá comprar— Falo me levantando e segurando as mãozinhas deles.

Ouço um "eba" uníssono e os vejo correr em direção a fila para comprar, sorrio grande, a emoção e adrenalina que emana em meu corpo por estar junto desses dois pequenos não há nada explique.

Eu posso ter todos os defeitos do mundo, fazer inúmeras coisas erradas, ter me envolvido numa trilha sem voltas, mas eu nunca vou esquecer o meu sangue e minha origem, tampouco meus princípios. Meu ponto fraco sempre será minha família, por eles eu mato e morro sem pensar duas vezes, em especial meus filhos, que ninguém nunca se atreva a tocar um dedo neles.

Terminamos de lanchar e eu já estou realmente cansada, porém as crianças ainda desejam assistir um filme, eu vou né! Pegamos os ingressos, as pipocas e os refrigerantes, seção de filminho infantil. É tão gratificante poder proporcionar aos meus filhos experiências que não tive quando criança, faz muita coisa vale a pena.

Minha família sempre morou em casas bem localizadas, tínhamos uma vida confortável, mas nada podia ser esbanjado, meu pai sempre trabalhou muito para nos proporcionar uma vida tranquila, não tinha luxo, mas tinha paz e amor.

O padrão de vida deu um UP e tanto, os méritos não são meus, depois de crescidos os filhos todos passaram a ajudar em casa e foi muito bom para todos. Eu sou a ovelha negra da família, mesmo tendo até mais opções que meus irmãos em relação a seguir uma carreira, formar e viver tranquilamente, fui exatamente a que fez o contrário.

Na minha adolescência meus pais ficavam na zona rural cuidando das coisas dos meus avós e nessa época eu sofri abusos sexuais por parte do pai da minha mãe e também pelo diretor da escola em que eu estudava, foi horrível, eu não sabia como contar para minha mãe, sentia culpa, nojo... então simplesmente deixei de lado, os anos passaram e eu de certo modo aprendi a conviver com os abusos e as chantagens psicológicas.

Poucos meses depois que eu fiz 15 anos tudo que eu mais queria era sair de casa, mas não tinha como, então comecei a namorar na esperança de que assim os abusos reduzissem, mas não foi o que aconteceu, tudo foi ladeira abaixo, fez foi aumentar a frequência com que eu era abusada. Eu não tinha forças para sair daquilo e por mais que eu estivesse sofrendo eu não sabia como sair, não me sentia segura para pedir socorro para ninguém, a realidade é que mesmo cercada de familiares não estava acolhida.

A DonaOnde histórias criam vida. Descubra agora