A água

954 69 1
                                    

_Jimin, sou eu! Abre a porta! Tá caindo o mundo aqui fora! Me deixa entrar!

Eu berrava e esmurrava a porta da nossa velha casa…agora era dele, ele ficou com a casa depois que decidimos nos separar. Ele largou tudo pra vir morar comigo depois do casamento, era injusto eu deixar ele na rua.

Está chovendo muito. O frio penetrava minhas roupas mesmo eu estando agasalhado. Jimin sempre disse que mesmo usando carro eu tinha que carregar guarda chuva comigo…não escutar Jimin nesse aspecto não é nada se comparado a não ter parado pra conversar com ele todas as vezes que ele me pediu. 

Eu sou cantor de uma banda de sucesso…ao menos era…nem ensaiamos mais, a indústria cansou de nós, mas na época que conheci Jimin estávamos realmente ascendendo no mundo da música. Jimin me deu suporte pra tudo que eu tentava na vida, então eu pensei: porque não?

Meu primeiro salário pós show foi inteiro na compra de um par de alianças. Três meses depois eu estava dizendo " sim" no altar. Jimin estava lindo aquele dia, o terno branco o fazendo brilhar.  Nós éramos jovens inconsequentes, topavamos um a loucura do outro. De transar no camarim dos shows até em cima do meu carro de madrugada numa rua deserta. Nos divertimos muito.

Como tudo na vida, tivemos nossos altos e baixos. Num desses baixos eu fui expulso de casa. Segundo Jimin, se eu não queria escutar o que ele tinha a dizer não fazia diferença ele estar comigo…mas fez diferença sim, muita diferença…eu quero Jimin comigo, mas ele não perdoa, não quer ouvir minhas desculpas. Sempre que tento me desculpar ele diz que não tem obrigação nenhuma de me escutar, que vou ter o processo de divórcio todo pra contar o que eu quiser. Infelizmente ele levou a história do divórcio para a justiça…a primeira audiência é amanhã às nove da manhã. Agora são exatamente onze da noite. Bom porque Jimin disse que se eu não viesse pegar o resto das minhas coisas ele ia jogar fora.

É a última caixa, tem algo muito valioso pra mim lá dentro. Eu não trouxe logo pra casa porque tinha certeza da nossa volta, que o lugar dela era na casa…mas não dá pra ter esperança pra sempre…já é amanhã. Se é o que ele quer eu não tenho escolha, tenho que me separar ainda amando Jimin. 

Eu confesso que fui pegando uma caixa de cada vez, o mais lento possível…eu queria ter uma desculpa pra voltar várias vezes até nossa casa…voltar a vê-lo…quantas vezes não apareci na hora do almoço ou do jantar apenas pra ver se recebia um convite pra ficar na casa mais tempo. Às vezes funcionava…às vezes não. Eu ainda não acredito que vamos nos separar pra valer…vou sentir falta dele.

Finalmente ouvi o som da chave ser girada na porta, eu enterei assim que ele deu passagem. Eu me sacudia todo tirando o excesso de água no corpo. 

_ Que chuva! Está uma tempestade lá fora!

_ Aqui também, se não reparou.

Jimin apontou a casa cheia de goteira. É…eu lembro dele ter falado algo sobre consertar o chão do sótão e as telhas da casa. Eu olhei pro teto…é, tá complicado. Pior que minha caixa tá lá em cima. 

_ Achei que não vinha mais.

_Como se você disse que se eu não chegasse ainda hoje ia jogar as coisas fora?

_ Hu, só assim você me ouve, quando ameaço algo que tem valor pra você…pena que não sou eu…

Eu notei o tom raivoso e triste dele…talvez até saudoso. Eu voltei minha atenção para onde ele estava. Encontrei Jimin atrás de mim de braços cruzados, o peso apoiado em uma das pernas…eu confesso que olhei ele de cima a baixo. Os pés descalça, as pernas grossas, lindinhas e macias. O blusão que usava me impedia de ver o que tinha acima das coxas dele, mas sei bem que Jimin dorme de calcinha, pela hora, ele já devia ter deitado…essa blusa larga esconde seu corpo bonito, mas mostrar seu pescoço, o ombro que sempre gostei de beijar.

Meu ex marido Onde histórias criam vida. Descubra agora