Os gloriosos professores
Não servem para as criaturas
Que sabem como brincar com os deuses
Aurora - Cure For Me
1773
— Eu não gosto desse homem.
— Ele está pagando ridicularmente bem para levarmos seu baú estúpido e ele próprio até as Índias Orientais. Você faria o mesmo que eu fiz.
— Não, eu teria pedido referências.
— Você é burro demais para isso.
— Algo nele me lembra alguém que ainda não conheço. Algum traço de memória que não consigo condensar em palavras. Acho que já o vi nos meus sonhos.
— Você bebeu de novo, meu irmão?
Greg e Maree Schopfer estavam a beirada do terraço de sua própria casa, no centro comercial de Rotterdã, próximo o suficiente do mar para ter as treliças de metal das portas sendo carcomidas pela salinidade.
Olhavam para o homem dos olhos cinzas, sentado no pátio interno da casa partindo uma maçã com um punhal. De banho tomado e roupas limpas, parecia mais bonito, mas o aspecto de saúde ainda não o rondava: as bochechas macilentas e os olhos fundos indicavam muitas noites na estrada.
— Mestre Schopfer, Zimo está aqui com novidades.
Antes que Greg se virasse, Maree foi apressada até o mordomo.
— Mande-o para minha sala de chás, é de extrema importância termos uma reunião agora.
— Ei, espere! - Greg foi logo atrás, mas Maree já andava apressada pelo corredor.
— É um táler prusso. Provavelmente original do Marco de Bandeburgo.
Zimo estava solene e atencioso, segurando uma moeda de prata entre os dedos. Maree analisava outra moeda idêntica segurando com sua mão enluvada, com ajuda de um monóculo sobre o olho esquerdo. Greg estava de braços cruzados ao lado da porta.
— Não estamos longe da Baviera. — Maree apertou a moeda nas mãos. — Ele pode ser um viajante comum.
— Ele não é. — Zimo depositou a outra moeda na mão de Greg. — Esse tipo de moeda com o rosto do Marquês de Brandeburgo não é muito vista nem mesmo na Baviera. Este homem andou muito. Estima-se que pode ser uma moeda vinda do Leste do território dos germânicos, os que habitam na divisa com os francos.
— Até então isso parece normal para mim, sempre levamos viajantes.
Greg e Zimo se entreolharam.
— Pode ser arriscado, Capitã. Este homem pode estar fugindo de alguma coisa.
— Concordo. Precisamos de referência. Você sabe como está a Marinha Espanhola abaixo da Costa do Marfim, nos pegando como peixe nas redes. Irão nos pressionar e precisamos ter uma boa resposta sobre esse homem e sua carga. Os documentos precisam conter o nome dele.
— E nas tavernas? Alguém falou sobre ele?
— Não. Ninguém nunca viu esse homem em Rotterdã ou no porto dinamarquês. Pelo que perguntei, nenhum marinheiro do norte conhece esse homem ou o carroceiro que o acompanhou.
— A carga não deve ser tão valiosa, se ele viajou até aqui sem uma escolta.
— Então está decidido. — Maree mordeu uma moeda e viu que ela não fez nenhuma marca, era prata pura. — Enquanto o dinheiro for verdadeiro, não vejo porque não ajudarmos esse pobre homem. Seja ele um viajante ou não.

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Nas Marés do Tempo
RomanceTRILOGIA TRAGICOMEDIA - LIVRO 2 Nas Marés do Tempo - A continuação do livro "Das Fitas Vermelhas" disponível na Amazon. == Doutora Saskia Konig perdeu tudo. Seu trabalho, suas pesquisas e seu dinheiro estão em investigação pela Interpol e agora ela...