Oi garota, você recebeu tudo?
Você sabe que não precisa dizer
Eu vou embora agora
Agora você se esqueceu de mim?
Agar Agar - Requiem
2019
Estudar História é se conformar com a lentidão violenta que o tempo passa e as consequências de se esquecer disso. Como dói perceber que há muito barulho por nada, que todos os sentimentos podem chegar a nunca serem falados ou demonstrados e que nada disso permanece.
E como, no fim, nada vale verdadeiramente a pena.
Saskia acordava todos os dias se odiando e odiando suas próprias escolhas e se odiando, principalmente, por se odiar. Até então, seu trabalho era sua vida, suas pesquisas e suas restaurações o maior motivo de orgulho e que significava sua vida e sua existência. Odiar a si mesma por ser quem era poderia ser o maior indicador de que ela estava descontectada de si, fora da tomada, esquecida sobre uma cama pequena de lençois revirados e sem esperar pelo momento de melhora.
Ela tentava seguir as dicas de saúde mental, uma caminhada, pegar um pouco de sol e quem sabe, tomar uma limonada ao ar livre. Ela saía de casa e conseguia fazer tudo isso arrastando os pés dentro de um moletom gasto, mas voltava para casa e não se levantava mais da cama.
Em alguns momentos, ela retirava uma mala repleta de relíquias que encontrou no Mausoléu dos Zelts, mas não conseguia puxar qualquer objeto para analisar ou pesquisar. Abria a mala, fitava o conteúdo, a fechava com um suspiro e voltava para debaixo da cama.
E se sentia tão mal quanto o primeiro dia que chegou na casa da sua mãe.
}{
— Saskia, meu amor, temos visita.
— Mãe, por favor. — o suplício de Saskia saiu rouco.
Senhora Konig se apoiou no umbral da porta. Usava um óculos pqueno na ponte do nariz e tinha o rosto muito similar ao da filha.
— É um rapaz muito educado e bonito. Alemão. Tanto, que se ofereceu para me ajudar a cozinhar o jantar. Ele está lá em baixo lavando as verduras.
Saskia se sentou na cama, assustada.
— Estamos te esperando. Venha. — A mãe disse, sorrindo.
Saskia levantou-se com pressa, sentindo o sangue fluir nas veias pela primeira vez em dias.
A ausência de aventuras nos últimos meses era refletido na maneira como estava: suas sobrancelhas se uniam por um fio de pelos, as olheiras repuxadas estavam mais roxas do que nunca e ela usava seu óculos havana antigo, ligeiramente torto.
— Oh, doutora Konig. Você continua radiante como sempre.
Saskia desceu as escadas e encontrou Marcel Altmeyer usando um avental com a frase "When in Rome, do as the Romans" com a torre de Pisa.
— Já que Sarah e Sam estão fora e seu pai está viajando, achei muito justo mais uma companhia para jantar. Você mal sai do seu quarto.
— Marcel...
— Temos muito o que falar, mas me sinto feliz por ter sido convidado para o jantar. — Marcel Altmeyer sorriu educado para a mãe de Saskia, que enrubesceu. — Ainda mais feito por uma legítima família belga.
— Oh, meu rapaz, vou te ensinar como fazemos nossas batatas. — Senhora Konig apanhou Altmeyer pelo braço e o levou à cozinha.
— O que faz aqui? — Saskia sussurrou enquanto ele picava as batatas. Mas era segunda vez que Altmeyer respondia num sussurro:
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Nas Marés do Tempo
RomansaTRILOGIA TRAGICOMEDIA - LIVRO 2 Nas Marés do Tempo - A continuação do livro "Das Fitas Vermelhas" disponível na Amazon. == Doutora Saskia Konig perdeu tudo. Seu trabalho, suas pesquisas e seu dinheiro estão em investigação pela Interpol e agora ela...