Nas Marés do Tempo

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Eu ouvi que você fodeu tudo de novo, Elijah

Um dia você está acorda e vê que está nesta cidade velha

E todo mundo ao redor, confuso

Oh Elijah, oh Elijah

Você nos traz de volta dos mortos no verão

Quando todos esses corpos já não estiverem mais aqui.

Blood Red Shoes - Elijah

2019

Arredores de Brakestein, Westergeest, Holanda.

A primavera não trouxe temperaturas mais altas, como Agnes esperou. Após o inverno intenso, a moça carecia de horas no ar livre tomando um pouco de sol. As tílias desbotam flores pequenas e amarelas, ainda muito tímidas.

Agnes estava sentada na sombra de uma árvore de copa grande e esverdeada, com um cobertor xadrez sobre as pernas quando seu pai se aproximou, junto de um empregado que segurava uma bandeja de chá.

— Olá, querida, tenho novidades. — Ele balançou um envelope.

— Papai, pensei que tinha sido expressamente clara ao dizer que não queria se incomodada.

O pai, um homem alto e loiro com as bochechas rosadas sentou-se em frente a filha e lhe entregou uma carta selada. O empregado pousou a mesinha entre os dois com uma garrafa térmica e duas xícaras.

Agnes apanhou a carta e uma corrente elétrica vibrou do seu dedo indicador até o coração.

— Sabe, querida, nesse tempo todo você devia ter me falado que estava trabalhando para os Zelts. Leon e eu temos negócios juntos, você sabe.

Agnes ergueu a sobrancelha enquanto ainda olhava o papel. O mordomo saiu, rumando para a casa há alguns metros dali.

— Você não teria me deixado ir até o Castelo se soubesse que era o dos Zelt.

— Não mesmo.

— O que veio fazer aqui? Edward poderia ter me entregado a carta. — Agnes apontou para o empregado se afastando.

— Eu vim conversar. Acontece que eu consegui fazer com que seu nome não saísse junto da doutora König. Você sabe, o ministro das comunicações está do nosso lado. E também, junto como outros pais e patrocinadores da universidade Vrije, entramos numa cassação do direito da doutora de lecionar no país. Ela não vai mais ensinar na Holanda e sua dissertação está sendo questionada em Bruxelas.

Agnes mordeu a bochecha, nervosa.

— Se veio aqui para me falar o que já sei, pode se retirar.

— Sua mãe acha que devemos maneirar a mão, mas eu discordo. Essa mulher quis afundar você. Ela te iludiu.

— Você não a conhece e não tem nenhum direito de falar dela. Eu seria capaz de seguir Saskia König até os confins da terra. Ela é a mulher mais incrível que eu conheço e eu estarei com ela para sempre.

O pai bufou e virou o rosto para observar o campo aberto.

— Ah é? E onde ela está agora? E por que não te responde?

— Os métodos dela não te interessam.

— Sabe, quando você quis estudar história em vez de seguir com nosso negócio de ferragens, eu não falei nada. Mas ter o sobrenome Jansen afiliado a qualquer transgressão principalmente contra os nobres homens do nosso tempo, já é demais. Sempre fomos respeitadores da monarquia, da grande história da Europa. O que essa mulher desprezível fez não deve ser perdoado.