Meu Diário de Memórias Póstumas

20 anos

Não sei se é comum à todos que chegam, ou quase chegam, a essa idade, mas tô muito confuso e perdido em tudo que vêm acontecendo. Nunca duvidei tanto de mim mesmo, do meu futuro e das procedências das minhas escolhas. Ao que me parece, eu gostaria de estar em qualquer lugar, com quaisquer pessoas e em qualquer situação e condições que não fossem as que eu tô agora. Eu escolhi as pessoas erradas, os lugares errados e os sentimentos errados a se priorizar. Por muito tempo minha principal ocupação era encontrar culpados para toda a merda que minha vida vinha se tornando. Me colocar no lugar de vítima me privava da responsabilidade de promover alguma mudança, me mantinha na zona de conforto, uma na qual tudo havia, exceto qualquer conforto de fato. Mas depois de algumas leituras e alguns tombos e decepções acumuladas, entendi que o único culpado sou eu, minha mãe tem parte nisso também, tudo me ajudou a entender que eu escolhi essas coisas, eu escolhi passar por tudo que passei nos últimos dois ou três anos. Muita coisa do meu passado realmente não dependia de mim, mas essas do passado recente dependiam, eu me pus em cada uma das "bolas-de
-neve de caos" em que estive.
Eu já fui muito ambicioso e tinha certeza do futuro que me aguardava, sempre foi essa certeza de um futuro melhor que me manteve vivo. Mas hoje não passo um segundo sequer do meu dia sem pensar no quanto tenho fracassado e sigo fracassando, no quanto nada mudou de fato e meu único motivo para viver se tornou a dor que deixaria para trás, a mancha do luto e da ausência que deixaria no peito de minha mãe.
Odeio a vida que tenho, odeio o fato das pessoas que eu amo não me amarem nem a metade. Odeio ter trocado uma pessoa que independente do que fosse dito, no final do dia a única certeza seria o seu amor por mim (mãe), por pessoas que me fazem duvidar disso e muito mais coisas. Troquei a verdade absoluta e destemida pela mentira vedada e agonizante. Estou longe de casa, longe de quem me enterraria e arcaria com todos os gastos caso eu tivesse feito o que tanto desejava, mas não fiz por empatia aos seus sentimentos. Tô perto de pessoas que no segundo dia após minha pele encontrar a terra, estariam voando mais do que no céu a base de substâncias bem mais que duvidosas, e na missa do sétimo dia já nem lembrariam da cor da minha pele, do meu cabelo, do meu sorriso e do tom de desprezo que acompanhava o meu olhar. Ela lembraria de cada detalhe, sofreria por cada um deles, perpetuaria em sua memória e lágrimas cada um deles. Esse é de longe meu maior arrependimento e minha pior escolha, trocar o amor verdadeiro, pelo amor de pessoas que parecem amar tudo, exceto a mim.

Te amo mãe, se sobrevivi a esses 20 anos, foi por você💖