01. Nova Orleans...

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Lan Zhan amaldiçoou o diretor da firma de direito, por escolher como local para o encontro dos advogados a cidade menos adequada para negócios que ele já havia visitado.

Nova Orleans.

A cidade onde tudo era fácil.

Mas não era fácil ser um homem de negócios focado, numa cidade que tratava a preguiça como uma virtude. Não era fácil gastar cinco minutos passando gel no cabelo para lutar contra a umidade que os arrepiava. Não era fácil usar roupa social e no calor pegajoso da primavera.

E o tempo que levava para ter uma simples conversa!

Ele detestava pensar nas horas desperdiçadas apenas pelo sotaque arrastado e relaxado do Sul. Zhan tinha prazos a cumprir, por isso não havia tempo para a fala lenta e para a hospitalidade calorosa dos sulistas.

Chicago era perfeita em qualquer época. Fazia frio no inverno, e o verão era atenuado com o uso prático do ar-condicionado. Além disso, não havia nenhuma magnólia para tornar as pessoas mais sonhadoras.

Magnólias são ridiculamente lindas, com seu aroma forte e adocicado que fazem lembrar romance. Como tudo em Nova Orleans. A cidade era tão sensual que Zhan não conseguia raciocinar com clareza.

Todos os seus sentidos estavam aguçados, como se esperasse para sair da hibernação, quando se inclinou sobre o parapeito de ferro batido e absorveu a beleza da noite. Olhou para o jardim, com videiras verde-escuras ao redor das estátuas banhadas pela luz da lua.

Atrás dela, dentro do salão de baile, ouvia as vozes de mais de cem advogados conversando, discutindo... exatamente da forma que ele deveria estar fazendo. Como se eles não se reunissem daquela mesma maneira em Chicago, 70 horas por semana.

À sua frente havia o suave barulho da água caindo da fonte, e, de alguma maneira, ativando sua imaginação.

Zhan inalou a combinação de aromas, podendo identificar apenas alguns. O de magnólia predominava. Mas também havia o aroma de rosas, e talvez de ervas. Mesmo a terra possuía um cheiro forte. Aromas que pareciam acariciá-lo e convidá-lo a ir para o jardim. Ele desceu os degraus de pedra, sentindo a respiração se acalmar, e a irritação que o dominara durante todo o dia foi substituída por um tipo de tristeza.

Por que estava ali, naquele jardim romântico, sozinho?

Caminhou, pensativo e frustrado, parando para sentir uma fragrância aqui e ali. O gosto do Mint Julep ainda estava em sua língua, tão estranho quanto aquela sensação de descontentamento. Estava prestes a se tornar o advogado mais jovem que já fizera parceria com Nie, Wen & Jin. Tinha o mundo a seus pés.

Com um suspiro, sentou-se no banco de pedra, sombreado por uma grande magnólia cheirosa. Cedendo ao seu estado de espírito, interrompeu os pensamentos e ficou à mercê dos sentidos.

O ar estava úmido como um beijo. O aroma era tão puro e doce que ele queria chorar. Os sons da noite eram exóticos, dando-lhe a impressão de que poderia se tornar parte daquele jardim. Acima, a lua era um anel dourado cercado de estrelas. O céu brilhante combinava com a energia de uma cidade que parecia sempre preparada para festas.

E Zhan estava cansado de agitação. Para um homem que vivia com pressa, era maravilhoso apenas ficar sentado, imóvel.

Sem pensar, planejar, pesquisar ou argumentar... apenas ser.

Fechou os olhos, deixando os músculos relaxarem e as sensações o percorrerem.


– Diga-me o que você quer. – O sussurro era rouco, masculino e sedutor. 'Diga-me o que você quer', a voz tinha saído de sua cabeça? – Diga-me. – Íntimo e seguro, o sussurro não estava vindo de seu interior, mas de algum lugar muito perto. Sua pele arrepiou-se, mas ele manteve os olhos fechados.

Sussurros de Prazer - ADAPTAÇÂOOnde histórias criam vida. Descubra agora