"Restolho"

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O que sobre do resto de cana e cereais após à ceifa. Em sentido mais amplo significa resto

Fazer mais raiva em vocês

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Traumas nos acompanham o tempo todo. Nós escolhemos se eles serão uma muleta ou uma carteira no bolso

O medo de água de Regulus era uma carteira depois de tantos anos o tratando. Tratando na escola, com a psicóloga que era sua amiga

Pomfrey era uma graça. Ajudou ele durante todos os anos de escola. Que com o tempo ele acabou conseguindo viver com aquele medo sem se importar tanto. Era só não ir fundo em uma piscina ou praia

Mas Pomfrey dizia que parte daquele medo não era da água ou de se afogar em si, e sim da figura que olhou aquilo tudo tomando chá normalmente

Aquela foi a sessão que mais o marcou. Onde ele detalhou a memória origem daquele medo

Ele estava na piscina coberta da mansão. Sirius estava trancado em seu quarto como sempre. Pomfrey disse que portas trancadas também eram algo que o incomodava por conta de uma sequência de fatores. Mas aquilo era assunto para outra sessão

Órion estava trabalhando e Walburga estava na borda da piscina, tomando seu chá da tarde

O menino tinha seus quatro anos. Era a memória mais antiga que tinha

Estava abaixado perto da água, passando sua mãozinha por cima do líquido transparente

Se levantou e foi correr ao redor da piscina. Mas o piso estava escorregadio. Sua sandalinha vacilou e o pequeno Regulus caiu dentro da piscina

Pomfrey perguntou o que ele sentiu

Se fosse resumir... Desespero

Tentou subir, mas não sabia nem nadar, nem boiar. Sacudia seus bracinhos e perninhas

"Mamãe!" Tentava gritar

Se debatia tanto que o fundo e a superfície se misturaram. Não sabia para onde ir. Seus olhos ardiam pelo cloro

Puxou o ar e água entrou

Queimou seus pulmões e aquele pavor tão puro cresceu

"Talvez" Regulus disse para Pomfrey naquela sessão "Quando você sente que vai morrer... seu corpo reage tão naturalmente que o medo é incapaz de ser reproduzido. Não tem como eu descrever direito como me senti. Foi apenas pânico e desespero em suas formas tão puras que meu corpo só sabia debater e tentar gritar"

Mais e mais água entrava em seus pequenos pulmões. Tentava gritar por sua mãe

Aqueles poucos segundos que ficou sem se debater. Perdendo as forças e sentindo a consciência se apagar. Pareciam horas

Talvez não merecesse ser salvo, pensou naquele momento, sua mamãe avisou para não ficar correndo pela casa

Talvez ela estivesse certa em o deixar afogar daquele jeito

Fechou seus olhinhos. Só um soninho, pensou e suas costas bateram no fundo da piscina

A água tremulou quando alguém pulou ali

Pegaram o corpo do menino e subiu com um girar de corpo. Era o empregado que Regulus e Sirius apelidaram de: Monstro

O homem em seus cinquenta anos colocou o menininho na pedra fria da piscina

Fez massagem cardíaca nele e logo o garotinho cuspia a água com cloro. Tremendo ele agarrou a roupa molhada de Monstro

- Já passou, rapaz - O empregado levantou o olhar para a mulher à qual servia

Walburga estava sentada em seu lugar, sem mover um músculo. Levou a xícara de chá para a boca

- Ele estava aprendendo uma lição - Ela falou quando Regulus a olhou. Escondendo o rosto na roupa do empregado em seguida

Monstro segurava o corpo trêmulo contra seu peito. O menino chorava e respirava com dificuldade

"Talvez sua asma venha daí" Pomfrey apontou "A água danificou seus pulmões"

Regulus deu de ombros. "Nunca mais me aproximei da piscina, ou desobedeci minha mãe sobre algo"

A mulher o olhou e retirou os óculos de leitura. "Mas ela estava certa?"

Regulus disse que sim na época. Sua mãe estava sempre certa. O motivo dela ter expulsado Sirius de casa era válido. O que ele era... alguém que gostava de pessoas do mesmo sexo... era errado

Com o passar das sessões. Regulus respondeu a pergunta diferente para Pomfrey. "Walburga não estava certa. Ela nunca esteve. Sirius não fez nada errado. Na verdade... ele e os amigos são bem legais. Ela me fez ter medos... medos que eu demorei à conviver junto... essa pessoa não pode estar certa"

Pomfrey o abraçou naquele dia. Sabia que naquele momento, o mundo inteiro que Regulus conhecia. O que ele sabia ser certo ou errado caiu por terra. Foi com a mulher que ele percebeu precisar de toques quando fica instável daquele jeito

Era tão melhor de lidar recebendo um abraço

Depois de sair da escola. Regulus sabia conviver com seus traumas gerados por seus genitores. Eram apenas uma carteira em seu bolso

Se livrou daquela muleta que o fez um peso por tantos anos. Mas uma muleta que não sabia se livrar era a sombra que a presença de Walburga fazia em sua vida

A sombra que carregava medos tão fortes e inseguranças da qual não conseguia se livrar

Se os fantasmas fossem como aqueles em filmes de Natal, cheios de correntes por seus pecados e histórias inacabadas em vida... Walburga levaria tantas correntes consigo

E uma particularmente extensa e grossa seriam todos os traumas que fez Regulus desenvolver

Pensamentos assim o faziam sorrir de leve antes de dormir ao lado de seu marido

Ter seu nome cravado em uma das correntes que prenderiam aquela mulher asquerosa sem poder fazer a passagem o aliviava. Pelo menos não a veria do outro lado

Poderia ser livre daquela sombra





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Beijinhos<3

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