Capítulo 3: Partida

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A n s i e d a d e
É um engasgado de palavras sem som, uma orquestra fora de sintonia, uma sensação de movimento veloz sem corpo, um rosto - amedrontador - sem matéria.

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E s c a v a ç ã o
Eu tô abrindo um buraco no meu peito

É uma escavação solitária:
a pá, minhas mãos e eu
Tá tudo acelerando, perdendo o controle
Acho que agora começa a viagem no tempo sem freio
Eu me sinto culpada no escuro
sem trilha sonora, sem minha lanterna
Entrei no vão e escorrego ao chão
Quando eu chegar lá, vou olhar pra cima
Eu vou vê-la, bela como sempre,
e fazer o prometido: amar para a vida
Mesmo que longe
e jamais pôr alguém acima
do filme que dirigimos, roteirizamos juntas
e escrevemos os créditos.
Nossa história teve dois começos, dois meios
e dois fins
É esta sensação tamanha tão ruim

Eu tô abrindo um buraco no tempo,
tô escavando o mais profundo no meu peito.

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À g u a  f r i a
Eu não quero mais
o toque, a textura, a voz, a ideia
Não quero mais falar, tocar, tentar
A cabeça dói, sentimento explode, peito grita
Não posso, não quero mais
É um engano tardio, uma traição constante
Mágica sem magia, dois corpos de fada sem o conto de final feliz
Não posso mais querer forçar demais
Eu não sinto preencher, não sinto escorrer
Sinto falta de tudo que foi e para sempre sentirei
Mas ficou vazio, fiquei confusa, sou hoje mera intrusa
Ficando, ocupando o tempo, bloqueando caminho
Capítulo 3, 4... 5, 6. Quando perdi o controle, quando perdi minhas leis?
Cambaleio, me escoro, me arrasto contra a vontade
Pedi espaço e sumi com minha própria identidade
São gritos, gemidos, uma dor inquietante
Onde está a coragem para acordar num dia vibrante?
Meu subconsciente me espera
Meu inconsciente sussurra
Não posso, não quero mais.

Versos PassageirosOnde histórias criam vida. Descubra agora