Capítulo 4: Encontro

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M a r
Eu morri toda vez que pensei nas ondas quebradas
O peso delas nas costas me banharam por completo,
me deixaram sem fôlego, afoguei muitas vezes

Mas como um mecanismo invisível, elas continuam a se formar
Só me resta nadar para mais longe
e aceitar que algumas virão mais forte do que hoje sou
Mas não ganharão todas, pois nem sempre serão mais forte do que posso me tornar

Mesmo depois das grandes e pequenas ondas,
o mar segue lá, permanece lar
e eu sigo a nadar.

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S a u d a d e
(dedicado à minha mãe)

A pétala seca da flor macia que um dia foi
é o conjunto de um álbum instrumental repleto de solos de piano
é a única dor que aperta e faz a gente querer sorrir
e a gente sorri chorando
viajando no tempo, acreditando naquele momento que podemos retomar o passado
saborear aquele dia, sentir o aroma, reviver quem éramos de uma versão nossa que só reconhecemos agora

é a acorde que toca o meu corpo, faz meu peito de instrumento e me transcende à você
ao seu sorriso, ao seu abraço, à sua comida, ao seu jeito de falar

as memórias compõem uma linda melodia
e nossas experiências vão formando música
Comparação melhor não tem. A música hidrata a alma e transpassa décadas, marca história
como o amor, que quando bebemos dele, hidratamos o espírito, fixamos o olhar no que nos faz bem até de olhos fechados

saudade é dizer que posso viver sem tudo aquilo que foi
mas desejar a qualquer hora poder voltar no momento em que toco a campainha e você abre a porta do nosso lar

é saber que a vida segue e que construímos algo novo em nosso ser toda vez que o sol nasce e se vai
mas também compreender que somos o que somos por tudo o que já passamos
por todos por quem passamos, por todos os lugares que visitamos
por toda a luz que fazemos brilhar no universo

saudade é o que toda noite tentam dizer as estrelas para nós que estamos embaixo
ocupamos espaço onde menos esperamos, colocamos sementes onde nem percebemos
e quando nossa sabedoria é desabrochada naqueles que passaram por nosso caminho
estamos em paz para nos unirmos a elas

É toda a dimensão do céu azul e desenho das nuvens dançando nas emoções no silêncio da noite
é a carta em cima da mesa que diz
"eu amei ter você aqui".

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A m a n h ã
São os ventos da mudança. É o passo apertado que desacelera, é a pressa que acalma e reconecta ao equilíbrio. É a passada de pano, começo de página, é despertar outra vez.
São os pássaros escrevendo uma nova canção, as árvores trocando suas folhas, vidas numa outra estação. É o cubo de gelo que retorna ao líquido, o sono do adulto que no frio retorna a criança, o amor que une almas e na chuva ou nascer do sol está em chamas.
São todos os cortes de um filme se autotransformar numa obra prima do cinema, é a história que chega ao meio e deve acabar para que os próximos sonhadores possam com o show continuar. É um muito obrigado que dá espaço para o próximo bem-vindo, um até logo que abre portas para quem diz "ainda bem que você chegou".
São os ventos da mudança, tempo que encerra para uns e se apresenta para outros. É o desafio do hoje ensinando o poder para mudar o amanhã.

Versos PassageirosOnde histórias criam vida. Descubra agora