Prólogo.

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"As palavras têm a leveza do vento,
e a força da tempestade. "
                                                                                                    ⎯⎯⎯ Victor Hugo.

RIO DE JANEIRO,
Há três anos.

⎯⎯⎯ São sete horas da manhã. — Alexandre rosnou, coçando os olhos escuros ao que adentrava a residência de Karen e de Leonardo. ⎯⎯⎯ Eu realmente espero que seja algo de vida ou morte. — Depositou o capacete negro sobre a bancada e se sentou ao lado de Giovanna que contraiu o rosto em uma careta enojada. ⎯⎯⎯ Tu não dorme não, assombração? — Deu-lhe uma cotovelada nas costelas, gargalhando ao receber um tapa na nuca. Estava prestes a revidar com alguma gracinha quando Karen (exibindo o oitavo mês de gestação) tratou de apaziguar o iminente desentendimento.

⎯⎯⎯ É o seguinte. — A curitibana optou por erguer a voz e posicionar as palmas na altura dos quadris, empolgada o suficiente para precisar de uma pequena pausa na própria respiração. ⎯⎯⎯ Nós. — Indiciou a si e ao marido em um gesto frenético. ⎯⎯⎯ Queremos que vocês sejam os padrinhos do Inã.

⎯⎯⎯ Porra! Você escolheu o nome que eu sugeri. — Nero remexeu a cabeça lentamente e a direcionou ao espaço entre as mãos na demonstração do seu crescente desacreditar.

⎯⎯⎯ Pietro soaria bem melhor. — Giovanna desdenhou ao verter o rosto bronzeado, demonstrando um explícito descontentamento com a escolha dos amigos que fora determinada a partir das sugestões de suas conexões mais próximas.

E sabendo — justamente — que os seus palpites disputavam a semifinal da fatídica competição, a dupla havia apostado dinheiro na escolha do nome do novo integrante do grupo — confiantes o bastante com as suas respectivas seleções. Com a vitória anunciada, a subtração de cem reais da conta bancária de Antonelli acontecia naquele mesmo instante.

⎯⎯⎯ Eu concordo com você. — Leonardo interviu, obtendo um agradecimento da carioca em voz alta (a qual se definia como revoltada à medida em que realizava a transferência para o homem bem ao seu lado).

⎯⎯⎯ Que delícia é estar vivo! — Alexandre se serviu com um pouco de água, ingerindo o líquido translúcido em meio a uma dancinha desleixada; executava pequenas piruetas na extensão da cozinha. ⎯⎯⎯ Ganhei dinheiro de uma otária e o meu afilhado ainda terá o nome que eu queria. — Jogou a cabeça para trás, finalizando o solver com um largo e pretensioso sorriso em seu rosto. ⎯⎯⎯ Obrigado por me pouparem de ter um filho que eu definitivamente não iria querer.

⎯⎯⎯ Para de falar besteira. — Karen rolou os olhos, apegada o bastante nas contínuas palestras de Giovanna que se tratavam do poder das palavras e de suas convicções. ⎯⎯⎯ Mas então... Isso é um sim?

⎯⎯⎯ Você acha mesmo que nós seríamos capazes de negar isso? Principalmente sendo o bebê de vocês? — Antonelli se ajoelhou à frente da melhor amiga, observando o barrigão com um sorriso. ⎯⎯⎯ Estou contando os segundos para finalmente conhecer você, carinha. — Beijou a superfície acobertada pelas vestes da figurinista e lhe abraçou a cintura. ⎯⎯⎯ Vou amar você como se fosse o meu próprio. — Apertou a amiga, fechando os olhos ao imaginar o pequeno menino. ⎯⎯⎯ Amo vocês. — Ergueu o olhar escurecido, direcionando-o para o jovem casal. ⎯⎯⎯ Obrigada por confiarem em mim.

⎯⎯⎯ Isso é o que eu chamo de falta de opção! — Alexandre mastigava uma maçã em meio ao pronunciar ágil e de natureza juvenil, tal qual fora automaticamente recebido pelo dedo médio da morena; estendido em sua direção. ⎯⎯⎯ Mais respeito com o padrinho. — Ordenou a jaqueta de couro em seus braços malhados.

⎯⎯⎯ Vá à merda!

⎯⎯⎯ Será que ainda dá tempo de reconsiderarmos? — Leonardo questionou com calmaria ao envolver a esposa por trás e inalar a essência floral que a nuca esbranquiçada disponibilizava.

Ao plano de fundo,
Giovanna e Alexandre instauravam mais um pé de guerra.

⎯⎯⎯ Não se preocupe. — Selou os lábios do homem. ⎯⎯⎯ Estaremos aqui para vigiar eles.

Ilécebras. (Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora