Ilécebras advém do vocábulo grego "illekebrein",
significando a pluralidade do ato de se encantar.Em resumo,
tudo o que se faz para atrair, blandícias.•
Dois mil e vinte e três.
⎯⎯⎯ Pelos meus cálculos, devo estar buscando o Inã por volta das três horas da tarde. — Respondeu Giovanna ao empurrar o carrinho pelo corredor minimamente movimentado.
Apesar de ter os olhos grandes e escuros direcionados à prateleira de industrializados, compreendia tudo o que a mulher de idade avançada dizia contra a sua orelha já quente; principalmente quando o aparelho celular estava inserido no pequeno espaço reservado entre o ombro e o ouvido, aproximando-se continuamente em resposta ao habitual dinamismo exigido por sua rotina agitada. Obrigava-se a executar simultaneamente mais de uma função com constância.
Apesar do cansaço da noite mal dormida se externar na ardência de seus castanhos pesados, continuamente empurrando as pálpebras ao ordenar algumas latas no interior do carinho que se definiria como ainda desguarnecido.
Por se dedicar à carreira artística ainda bastante deficiente e incapaz de suprir uma vida digna, percorria noites em claro na execução de alguns bicos e pequenas prestações de serviços - ou qualquer coisa que lhe mantivesse afastada de pedidos auxiliares. E as contas não iam bem, nada bem.
⎯⎯⎯ Iremos ficar ótimos. — Rolou os olhos.
Definitivamente não fazia parte dos seus planos matutinos ter Carmen — conhecida também como a insuportável mãe de Karen — tagarelando contra os membros já dormentes pelos tais períodos direcionados aos monólogos inacabáveis (e reiniciados a cada cinco minutos).
Detestava o modo como a mulher costumava lhe tratar como uma adolescente rebelde e inconsequente — mesmo que isso não fosse uma inverdade completa —, e não como a madrinha de seu único neto.
Antonelli estava próxima dos vinte e cinco anos de idade, possuía longos cabelos escuros e um belo sorriso livre. Abrangia-se na capacidade de encantar indivíduos, independentemente de suas naturezas (exceto Nero, com quem compartilhava uma inimizade desde o dia um, e a mãe da melhor amiga - que nunca fez o menor esforço para a enxergar como indivíduo merecedor de atenção ou de respeito) — embora seus atributos sejam extintos no ressalte da realidade caótica em que se vive.
⎯⎯⎯ Eu tenho uma audição daqui a pouco. — Desculpou-se ao mastigar uma batata de saquinho, recém aberta (a qual havia a embalagem repousada à frente enquanto o corpo inclinado da carioca lhe visitava vez ou outra), considerada também como o seu almoço e a extensão do café da manhã que se resumira em um adormecido e gelado pedaço de pizza.
O micro-ondas do quitinete em que vivia havia quebrado e as economias eram sensíveis demais para serem ditas às meras futilidades — principalmente quando os papéis estavam em escassez no currículo resumido da jovem atriz.
⎯⎯⎯ Não posso desmarcar. — Parou no corredor, apoiando a planta do pé na lateral da perna malhada. Sendo melhor amiga de um dono de academia, permaneceria em forma mesmo sem um mísero tostão no bolso.
Ela trabalha com o próprio corpo,
afinal de contas.Era um investimento válido,
argumentava.⎯⎯⎯ Porque eu preciso pagar as minhas contas, caramba! — Esbravejou ao bater a palma no bastão que lhe suportava as palmas no veículo de compras. ⎯⎯⎯ Então ligue para o Alexandre! — Agrediu o pé no chão, completamente desacreditada com a folga da mulher, reproduzindo uma careta para a menina que deveria ter cerca de seis anos de idade e insistia em lhe encarar há bons e incansáveis minutos do outro lado do corredor.
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Ilécebras. (Edição)
FanfictionGioNero | Você seria capaz de se encantar por uma realidade que nunca lhe foi cogitada? Famosos pelo compartilhamento de uma relação turbulenta e quase problemática, Giovanna e Alexandre adentram a caótica energia de Ilécebras quando se enxergam na...