Fins.

1K 56 127
                                    


"Que venham todos os fins,
porque eu sei recomeçar ."

⎯⎯⎯ Cadê meu jardim?
Alexandre Nero.

A manhã se iniciou com um pequeno corpinho, inquieto e sorridente. Inã parecia não se lembrar, tampouco questionar acerca da conversa noturna; não enquanto se lançava contra Giovanna e atacava o seu rosto com beijos estalados.

⎯⎯⎯  Bom dia, Ica! — Bradou alegremente, esticando-se o suficiente para envolver o pescoço da madrinha com os bracinhos curtos e fortificados.

⎯⎯⎯  Bom dia. — Respondeu em um tom baixo, completamente sonolenta e desorientada.

Não se habilitou a dormir quatro horas seguidas, apenas fragmentos de toda a sua composição. Assim, acordou na execução de intervalos contínuos no soar mórbido da madrugada; admirando o nascer do sol e obrigando-se a encarar os demônios libertos.

⎯⎯⎯  O Lelê fez comida. — Comentou ele, enfiando-se sob as cobertas quentes. O quarto frio, potencializado pelo ar-condicionado, lhe agoniava; principalmente quando na presença do clima calmo que abordava o Rio de Janeiro naquela manhã de outono.

⎯⎯⎯ É mesmo? — Tocou-lhe o rosto com receio, acariciando suas bochechas vermelhas e infladas. ⎯⎯⎯ E você já comeu? — Questionou com calmaria, obtendo a negação em forma de gesto.

⎯⎯⎯ Vim chamar você. — Ele fechou os olhos, acomodando-se no colchão ao esticar as mãos e abraçar a cintura fina da mais velha.

⎯⎯⎯ Você é um doce. — Murmurou ao continuar, despreocupadamente, a movimentação da palma ao encontro dos fios acastanhados.

⎯⎯⎯ A minha barriguinha 'tá fazendo barulho! — Indicou a respectiva em meio a pequenos tapinhas, gargalhando ao que o mencionar se concretizou, então dobrou o corpo (sentando-se no colchão) e puxou Giovanna pelo pulso, arrastando-lhe à medida em que se afastavam da cama.

⎯⎯⎯ Meu Deus! — Guiou as mãos aos lábios, transparecendo surpresa enquanto o mais novo sorria. ⎯⎯⎯ Precisamos resolver isso com a maior das urgências! — Ergueu-lhe em um solavanco ágil, equilibrando-o na lateral dos quadris.

⎯⎯⎯ Sim!

Deslocando-se à cozinha,
deparou-se com um Alexandre de calças moletom.

Apenas.

O cabelo desgrenhado era característico e familiar, embora a face amassada em resposta ao sono fosse algo novo para a captação de seus sentidos.

⎯⎯⎯ Bom dia. — Entoou em mínimo calibre.

⎯⎯⎯ Bom dia. — A voz dele era rouca e grave, causando estranhamento na carioca ao que deixou o menor sobre a bancada de mármore. ⎯⎯⎯ Gosta de panquecas? — Indagou sem lhe olhar, tampouco identificar a sua presença propriamente dita.

⎯⎯⎯ Gosto. — Respondeu e foi em busca de uma caneca (não se privando de espiar o abdômen digno de incontáveis horas na academia e disciplina).

Como aquilo havia surgido?
Como ela nunca havia visto?

⎯⎯⎯ Ótimo. — E continuou o que estava fazendo.

Ilécebras. (Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora