Blueberries

Pedro. (14)

- Tem algo que não me contou? -perguntou Hiro ficando preocupado com a cara de Miguel.

- Sim e algo muito grave, se alguém descobrir que te contei você também pode correr perigo, então só vou te contar se você deixar e estiver ciente que algumas pessoas dentro daquela comunidade são perigosas, a maioria são só famílias gentis e que realmente querem seguir uma vida de retidão, mas não são todos assim, entendeu? -Miguel olhou no fundo dos olhos dele muito sério.

- Eu entendi, conta, estamos juntos em qualquer situação.

- Tá bom. -Miguel respirou fundo. - O rapaz da foto se chama Pedro, ele era meu melhor amigo dentro da comunidade, nós fazíamos tudo juntos e por ele ser mais velho me ensinava muitas coisas e eu o admirava muito, parando para pensar agora talvez eu até fosse apaixonado por ele. -Hiro cruzou os braços nessa parte da história. - Mas como todo lugar nossa comunidade tinha algumas pessoas que faziam coisas erradas e uma delas era o irmão mais velho do nosso líder espiritual, o nome dele era José, Pedro sabia de tudo de ruim que acontecia e sempre abria a boca para dizer como isso era errado para nosso líder, mas era sempre em vão, nada acontecia, eu sempre estava com ele só para depois o ouvir dizendo que queria ir embora, já que nem seus líderes faziam o certo não havia motivos para fazer o que eles diziam, isso perdurou por alguns anos, até que um dia eu estava cuidando dos animais e Pedro chegou correndo desesperado, me lembro dele dizendo "Miguel agora eu provoquei demais o José." Ele então me mostrou algumas fotos de José beijando uma jovem que ainda não tinha passado dos 15 anos, além dela ser muito jovem, José já era cansado com alguém, Pedro me contou que ameaçou ele com a imagens e que foi ameaçado de volta quando fez isso então correu para se esconder... -nesse ponto da história Miguel começou a chorar, Hiro então se levantou e pegou um pouco de água para ele.

- Se quiser esperar e terminar de contar depois...

- Não, vou terminar... -Miguel respirou fundo e continuou. - Pedro me pediu para pegar minhas coisas e fugirmos juntos, a princípio eu me neguei, mas ele disse que caso eu mudasse de idéia iria me esperar na entrada da floresta que era o caminho mais fácil de sair sem ser notado, depois disso eu voltei para casa pensando, então peguei tudo o que era meu e quando anoiteceu pulei a janela, eu corri muito com medo do Pedro ir sozinho, mas meu mundo caiu quando me aproximei da estrada e vi José com mais dois homens espancando Pedro... -o choro de Miguel se transformou em um soluço de dor. - Eu não podia fazer nada, pensei em chamar os pais dele, mas quando me virei para poder fazer algo um deles disse "para, ele não está mais respirando" então eu fiquei ali paralisado, enquanto eles enterravam o Pedro, foi a pior noite da minha vida, não conseguia me mexer, não conseguia fazer nada, mas eu sabia que se ficasse ali iria acabar do mesmo jeito, então entrei na floresta pelo outro lado e corri o mais rápido que podia enquanto praguejava o mundo inteiro pela morte do Pedro, fiquei alguns dias dormindo na rua, vagando por ai, até encontrar seu tio, ele me ajudou tanto que não posso nem agradecer, depois disso eu jurei nunca mais voltar naquele lugar. -quando Miguel terminou Hiro estava incrédulo, com cara de choque.

- A gente tem que ir para polícia, eles tem que desenterrar seu amigo e prender esse maluco! -afirmou abraçando ele.

- Eu tenho medo de eles descobrirem onde eu estou e me matar também.

- Entendo meu amor, mas se o Pedro foi alguém importante para você, não pode deixar a morte dele assim.

- Fico apavorado só de pensar em contar isso para mais alguém, acha seguro falar com polícias?

- São as únicas pessoas em quem a gente pode confiar por hora, a gente faz uma denúncia anônima, assim eles não vão achar você.

- Tudo bem...

   Hiro ajudou Miguel a denunciar o que havia acontecido, o problema é que ele não tinha provas e sequer sabia se o corpo de Pedro ainda estava no mesmo lugar, já haviam se passado alguns meses desde que tudo havia acontecido e ele não fazia idéia de como as coisas ficaram depois que fugiu.