Anabelle

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Anabelle se jogara na cama, havia acabado de retornar de sua faculdade e seu pai não saíra do hospital, iria vê-lo mais tarde, sentia-se cansada, pouco dormira aquela noite, milhares de ideias vagavam por sua mente e a atormentavam, impedindo-a de dormir.

Aquela sensação de impotência chegara de forma tão sublime e se tornara avassaladora, afinal, o que mais poderia fazer para salvar seu pai? Nunca pode fazer nada para impedir sua degradação, sua queda lenta e profunda, apenas podia sentar e observar o que acontecia, ele havia escolhido o próprio caminho e não havia como mudar a trilha pela qual ele seguia.

Seu dia fora longo, mais longo do que poderia parecer, fora humilhada mais uma vez, tratada como lixo, como um animal desprezado, foi excluída pelo grupo, até mesmo seus professores a rejeitavam, como se ela fosse uma peça defeituosa em uma fabricação.

Ela não era um objeto, tinha sentimentos, e tinha um coração, um coração partido e desolado, espatifado em milhões de pedaços, mas que ninguém parecia ligar, nem mesmo seu pai, o único parente vivo que possuía, talvez a única coisa que lhe desse motivos para continuar a viver era escrever.

Era a única coisa que a ligava com a vida, uma linha fina e sensível que poderia romper a qualquer instante, também chamada esperança, criatividade, amor ao que se faz, mas talvez só isso não seja o suficiente para mantê-la viva por muito tempo.

Anabelle andou a passos cansadas pela casa, seguiu para o banheiro e se despiu lentamente, seu corpo estava dolorido pelas caminhadas rotineiras e pelo cansaço de seus dias, sua cabeça latejava de dor, como se um martelo lhe golpeasse a cabeça a cada instante, sempre colocando mais força a cada batida.

A água fria contra sua pele quente causou-lhe arrepios e um leve choque térmico percorreu seu corpo, porém o frio lhe relaxou os músculos dos ombros, ela queria que a água levasse toda a dor em seu coração, mas sabia que isso era impossível, a dor não pode ser carregada por outros, deve ser liberada por quem a possui e talvez não fosse o momento para deixá-la ir.

Após o banho a morena seguiu para o quarto enrolada em sua toalha fina e desgastada de um azul desbotado, suas mãos rechonchudas foram tateando a parede procurando pelo interruptor e logo o encontrando e iluminando o quarto simples, porém organizado.

A jovem abriu o armário, retirou as primeiras peças de roupa que encontrara, uma blusa de mangas longas brancas, mas não era um branco bonito, aquele que gostamos de olhar, era um branco opaco, amarelado, como se já tivesse sido usada várias vezes, a calça jeans se encontrava em um estado próximo ao precário, talvez pior que a blusa, mas era o que ela possuía.

Anabelle nunca teve as melhores roupas, os melhores sapatos, ou as melhores maquiagens, nunca teve dinheiro para tais regalias e tão pouco se importava com isso.

Em poucos minutos estava pronta para seguir para o hospital, finalmente iria ver seu pai e com sorte trazê-lo de volta para casa, seus passos eram apressados enquanto seguia para sua bicicleta de dois lugares enferrujada, com pedaladas fortes e ritmadas chegou ao hospital onde prendera a bicicleta e partira para a ala onde estava seu pai.

Ao chegar próximo ao local onde seu pai se encontrava notou uma aglomeração no local, alguns enfermeiros andavam as pressas levando ferramentas hospitalares e outras máquinas, o que deixou Anabelle angustiada e sem reação, a única coisa que fez foi sentar-se nos bancos a frente da porta e chorar baixinho consigo mesma enquanto observava a movimentação de todos.

Era agoniante ver a movimentação no local, muitos dos enfermeiros traziam consigo uma cara preocupada enquanto entravam e saiam da sala sem dizer nada, Anabelle tentou perguntar o que estava ocorrendo porém não adiantou nada, ninguém lhe respondia ou dava qualquer tipo de informação.

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