Capítulo 08

236 53 6
                                    

Kara Zor-El | point of view

Eu estava quebrando minhas próprias regras ao falar com minha caça a respeito de coisas que não eram para dizer, e isso jamais aconteceu.

Mas que maldição!

A verdade era que, minutos antes, quando Lena me flagrou esfaqueando aquele desgraçado do caralho, eu senti uma estranha necessidade de provar para ela que eu não era a porra de uma doente psicopata, ou alguma espécie de assassina em série.

Algo dentro do meu peito ansiou arrancar a expressão de pavor que tomou conta de seus olhos depois que ela presenciou aquela merda. E isso para mim se tornou perturbador.

Nesse momento, olhei para o espelho retrovisor e espiei o garoto adormecido no banco de trás. Senti meu peito sufocado por um sentimento há muito tempo esquecido. As últimas horas foram absurdas, porque me permiti fazer coisas que não eram do meu feitio.

Mesmo me esforçando para negar. Lena e o garoto estavam moldando minhas ações, e isso vinha se tornando perigoso.

Travei o maxilar, encarando meu próprio reflexo no retrovisor. Pensei comigo mesma: O que estou fazendo? Aquela não era minha família.

Porra!

Minha respiração começou a acelerar sem eu poder evitar, e foi piorando com os sons dos soluços baixos que escapavam de Lena. Eu não podia ser hipócrita em afirmar que não entendia que toda aquela violência devia estar sendo demais para ela, mesmo tendo nascido filha de um mafioso.

Os últimos dois dias foram como uma montanha russa de emoções e acontecimentos, então seu descontrole emocional era compreensível.

Outra vez espiei o pequeno Liam, sentindo vibrar em meu peito aquela estranha necessidade de olhar para ele. Era óbvio que mesmo eu me esforçando na tarefa de me manter indiferente, estava falhando miseravelmente, porque a porra do meu coração ainda pulsava no peito, me fazendo consciente do que tive um dia, mas que perdi por imprudência minha.

— Então quer dizer que você trabalha como caçadora de recompensas, mas nas horas vagas, assassina estupradores?

Pisquei, espantada pela pergunta abrupta, dado que o silêncio no carro se pendurou por um longo tempo.

Apertei o volante com um pouco mais de força.

— É um bom resumo da minha vida – murmurei em tom zombador.

— Não faça piadas, isso é sério! – exclamou, incomodada — Estou tentando não te julgar, será que pode se esforçar para conversar direito comigo?

Inspirei o ar, me concentrando em manter meu espírito controlado.

— Não estou fazendo piada, raposinha – murmurei, soando tranquila, apesar da turbulência em meu estômago — Apenas sendo honesta. Sinto muito que minha honestidade choque você.

Como ela não disse nada, me obriguei a encará-la de canto de olho.

— Por incrível que pareça, eu te entendo, Kara – comentou em tom baixo, encarando a paisagem noturna fora da janela — Entendo o que é sentir essa fúria toda, porque sinto o mesmo desde que perdi minha mãe. Na verdade, fui tomada por esse sentimento muito tempo antes, quando descobri a verdadeira face do meu pai... Eu acreditava que ele fosse um homem honrado – soltou uma risada amarga — Eu o idolatrava, sabe? Tinha ele como um herói, um exemplo a se seguir. Me diga, Kara, como posso seguir um homem conivente com o tráfico humano e todo tipo de crueldade que se pode imaginar?

Voltei a olhar para ela, suspirando.

— Lionel certamente não construiu aquele império em cima de negócios lícitos – comentei, sacudindo a cabeça.

A Caçadora de RecompensasOnde histórias criam vida. Descubra agora