Capítulo 04

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Kara Zor-El | point of view

Tempos atuais...

- Você vai voltar para devolvê-lo? - pisquei ao ouvir a voz suave. Eu não fazia idéia de quanto tempo estava a observando, enquanto ela acariciava o menino adormecido na única cama do cômodo.

Tinha se passado algumas horas desde que chegamos ao hotel, e obviamente paguei por um único quarto. Comprei bastante comida, pois tanto eu quanto ela e a criança estávamos famintos.

- Não tenho tempo pra isso - respondi, me ajeitando na cadeira em que estava sentada, me mantendo alerta a todo e qualquer movimento ou barulho suspeito - Portanto, ele vai junto - decretei.

Nesse momento, os olhos verdes se voltaram para os meus, ferozes.

- Está me dizendo que pretende colocar uma criança no seu trabalho sujo? - a pergunta soou baixa, já que ela não queria que o menino acordasse e escutasse nossa conversa.

- Para começo de conversa, a culpa não é minha que ele esteja aqui - apontei - Não foi atrás de mim que o garoto veio - sorri para ela em desafio - E meu trabalho não é sujo, querida, sou boa no que faço.

Vi que seus olhos se arregalaram em descrença.

- Não seja cruel comigo, não previ que Liam viria atrás de mim - murmurou, parecendo magoada, o que me deixou com a sensação de culpa, mas não transpareci. Vi que se afastou do menino adormecido - As crianças tendem a ser imprevisíveis. - me encarou intensamente por um segundo - Acredito que você tenha família, alguém que você se importe. Um filho, talvez?

Fiquei a observando, entendendo exatamente o que ela pretendia.

- Garota, não tente fazer esses joguinhos comigo... - falei, tensa com suas palavras - Pois não vai funcionar - decretei, travando o maxilar - Não sei, e não quero saber quais segredos descansam na sombra da árvore do seu passado. A criança vai junto conosco e ponto final. Quem sabe assim, eu não tenha a sorte de ganhar duas recompensas? - sorri com deboche.

- Babaca! - rosnou, entre dentes.

- E honestamente, acredito que um pai não deve ser tão ruim assim - joguei a mão no ar, indiferente ao seu drama.

- Eu sabia que não podia esperar nada de bom vindo de uma mercenária como você - rugiu, se colocando de pé. Estava com roupas limpas, pois acabei me obrigando a comprar algumas, visto que quando a peguei estava sem nada.

- Garota, não me provoque! - semicerrei os olhos em sua direção, me ajeitando na cadeira. Cruzei os braços, dobrando as pernas no processo - Ou juro que jogarei você aos lobos impiedosos, sem nem pensar duas vezes - ameacei friamente - Eu já deixei claro que seu pai não estipulou regras e nem limites para sua caçada.

Ela estava zanzando no quarto, mas parou ao ouvir minhas palavras.

- Como assim? O que quer dizer com isso? - pânico abrilhantou suas belas feições, apresar de lutar com veemência para não transparecer.

Eu não deveria me concentrar tanto na maneira como seu nariz franzia sempre que se sentia acuada, nem no rubor que cobria suas bochechas quando estava tomada de raiva. E pelo visto, eu tinha facilidade em lhe causar tal reação. Lena era uma mulher singular para mim, atrevida e esperta, embora irritante com a mesma proporção.

- Com tantas informações desencontradas, sua sobrevivência poderá não ser a prioridade - respondi, dando de ombros enquanto absorvia suas reações. Era prazeroso observá-la, estudar seus movimentos e tentar prever suas ações e atitudes. - Não sei te dizer como, mas seu nome vazou, está nas ruas. Então agora, você está sendo caçada por qualquer um, e isso significa perigo, querida. Significa merda... E das grandes - expus a informação que descobri assim que fiz check-in naquele hotel. O próprio John tinha me contado, e estava muito puto com isso, porque significa concorrência - A porra de um viciado pode querer te matar para pegar a recompensa - tirei uma moeda do bolso da jaqueta e lancei para ela, que a pegou no ar, curiosa com o objeto - A recompensa pela sua caçada é alta, pois há três tipos de moedas - expliquei - E essa que você está segurando é a de ouro. Acredito que você entendeu - inspirei fundo e soltei o ar em lufadas. Me sentia exausta fisicamente - Como eu já havia explicado, o mer...

Minha frase foi interropida por uma batida inesperada na porta.

Lena e eu encaramos a madeira, curiosas. Vi o momento que ela deu um passo à frente, na intenção de atender quem quer que estivesse chamando, mas rapidamente a parei, sinalizando para que ficasse quieta e longe da porta.

Notando minha preocupação, ela correu para perto do menino, tentando acordá-lo.

- Serviço de quarto! - exclamou a pessoa do outro lado do corredor, mas meu sexto sentido sabia que aquilo não era verdade.

Peguei minha pistola e me aproximei da porta lentamente. Novamente sinalizei para Lena ficar em silêncio.

Assim que abri a porta, visualizei um homem com o uniforme do hotel, mas a maneira como ele olhou o quarto, fixando os olhos em Lena deixou claro que seu alvo era ela.

Antes que pudesse agir, desviei o rosto no instante que seu punho tentou me atingir, com uma faca. Segurei seu braço e o puxei para dentro, pois não tinha a intenção de chamar ainda mais atenção.

Então, passei os próximos minutos em luta corporal com aquele idiota, até jogá-lo no chão e enrolar seu pescoço com minhas pernas em uma "tesoura", cortando seu oxigênio.

Longos minutos depois, com a respiração entrecortada, me desvicilhei do moribundo e me coloquei de pé. Ainda na adrenalina, olhei ao redor, em busca de Lena e do garoto, mas não vi nem sinal deles dois.

Rapidamente peguei minhas coisas e corri para fora do quarto. Cheguei no estacionamento bem a tempo de vizualizar a maldita fugindo com meu carro, acelerando para longe, cantando pneu.

Apesar da irritação, foi impossível impedir que um pequeno sorriso tomasse conta dos meus lábios pela audácia da infeliz.

Sacudi a cabeça, numa mistura de incredulidade e diversão.

- Filha da puta! - exclamei.

Joguei a cabeça para trás e comecei a rir. Uma risada tão verdadeira que acabei me surpreendendo comigo mesma.

Quando foi a última vez que sorri assim, tão livremente?


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