Capítulo 10

204 49 7
                                    

Kara Zor-El | point of view

Jamais imaginei que voltaria àquele lugar, não depois de fugir. Minha cabeça estava latejando, zunindo devido a todas as malditas lembranças que não me permitiam raciocinar com clareza. A confusão de sentimentos piorava a cada pensamento, cada vez que minha mente me lembrava do acidente que Lena, Liam e eu sofremos.

— Você não me parece bem – observou meu pai, aproximando-se de mim, que estava me aquecendo próxima à lareira acesa — A propósito, ainda não me contou quem são aqueles dois.

— E nem pretendo – falei, seca — Não é da sua conta.

Ouvi sua bufada, seguido do barulho da lenha que ele simplesmente jogou no chão, sem qualquer cuidado.

— Tem uma criança lá em cima, Kara – ele disse, apontando — Desde quando começou a caçar crianças?

Não respondi.

E minha reação pareceu irritá-lo um pouco mais, porque suas mãos me seguraram pela jaqueta, forçando meu corpo junto ao seu. O rosto furioso colou ao meu, deixando claro sua decepção.

— Então foi nisso que se transformou depois que os perdeu? – acusou — Diana e Karl não gostariam de presenciar esse seu lado escuro...

— Não ouse pronunciar os nomes deles – minha voz soou cavernosa — Você não tem o direito.

Sacudiu a cabeça, mas me soltou, afastando-se com uma risada amarga.

— Me esqueci de que você me culpa – murmurou — Devo ser o culpado pela primeira e pela segunda Guerra Mundial também? – ironizou.

— Pare de se fazer de santo, porque esse papel não lhe cabe – decretei — Ambos sabemos da sua responsabilidade comigo, então pare de tentar se safar.

— Eu só quero saber o que pretende fazer com a garota e aquela pobre criança, Kara – justificou, tenso — Você pode descontar toda sua raiva em mim, não me importo, mas jamais vou permitir que prejudique inocentes.

Sacudi a cabeça, achando graça.

— Juro que quase acreditei, velho... – continuei rindo — Quase acreditei.

— Olha aqui, sua...

— Por que estão brigando?

Ambos nos calamos e olhamos para a escada, onde o pequeno Liam estava, parado, nos encarando com o rosto confuso. Deitei a cabeça de lado, reparando em suas vestes. Lena o vestiu com uma camiseta desgastada, que ficou parecendo um saco de batatas na criança.

— Oh, garoto – pigarreei, encarando meu pai — Nós não estávamos brigando.

O velho semicerrou os olhos para mim, deixando claro sua frustração comigo. Foda-se! Eu não estava nem um pouco diferente dele.

— Minha filha e eu só estávamos conversando alto, campeão, só isso – soou o velho, se aproximando da escada — Por que não desce e fica conosco? Está com fome?

Liam desceu os degraus, atento a tudo.

— Estou – respondeu.

— Sua mamãe está dormindo?

— Está – ele respondeu, fazendo meus olhos semicerrarem com isso. Minhas desconfianças de que Lena era mãe biológica dele se reforçavam cada vez mais. Merda! Eu não fazia ideia de qual seria a reação de Lionel quando ele visse o garoto — Ela ficou muito cansada da viagem – explicou, naquela sua voz infantil encatadora. Sua pronúncia não era perfeita, mas conseguíamos entender — Penso que sou muito pesado pra ela carregar, a Lee é bem fraquinha.

A Caçadora de RecompensasOnde histórias criam vida. Descubra agora