Nunca atenda telefonemas de madrugada se estiver bêbado

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— Amigo, me vê mais uma dose sem gelo, por favor!

Não é nem meia-noite ainda e eu já perdi as contas de quantas vezes ouvi o barulho do garçom enchendo o meu copo da mesma cachaça barata. A essa altura, a bebida já nem desce mais tão amarga quanto nos primeiros goles, o que é um indicador de que, talvez — só talvez —, já esteja passando da hora de parar com toda essa bebedeira.

Mas o que eu faço? Viro o shot que o garçom acabou de me servir tão rapidamente que quase me engasgo, enquanto o barulho do copo ecoa forte contra o tampo da mesa do bar.

Em meu celular há várias ligações de Fernando e milhares de mensagens de Rafael, ambos preocupados em saber onde estou. Ignoro meus melhores amigos, focando meus pensamentos apenas no motivo para estar aqui nesse boteco de esquina. Motivo esse que tem nome e sobrenome.

Mariana Duarte.

Mais cedo, eu até que estava feliz, por mais que me classificar como "feliz" seja um baita de um eufemismo para esse momento, quase se tornando uma piada. Fui liberado mais cedo do restaurante que trabalho, portanto, planejava finalmente sair de casa e tentar espairecer, para enfim acatar a sugestão dos meus amigos, que há tanto tempo tentam me tirar da escuridão do meu apartamento solitário. Mas foi então que aquela minha "felicidade" deixou de ser um eufemismo para se tornar um grande balde de água fria.

Combinamos de nos encontrar — Nando, Rafa e eu — em um barzinho bem bacana no centro da cidade. Por trabalhar bem perto do local, acabei sendo o primeiro a chegar. Devido ter saído direto do trabalho, digamos que eu não estava vestindo as minhas melhores roupas, até porque meu estilo é sempre bem simples mesmo: nada mais que um bom e velho jeans, uma camiseta básica e, às vezes, uma camisa de xadrez por cima. Eu não estava desarrumado, estava apenas bem à vontade como sempre gostei de estar. Porém, me arrependi um pouco de não ter dado uma passada em casa antes para trocar de roupa quando vi que o local escolhido pelos meus amigos era mais bacana do que eu imaginava e estava cheio de gente com roupas bem mais elegantes do que a que eu vestia.

Mas até aí tudo bem. Simplesmente escolhi uma mesa na parte externa do estabelecimento, onde o clima era mais fresco e agradável, e fiquei esperando meus amigos de forma despreocupada, enquanto mexia no celular para me distrair. Até que ouvi uma voz muito familiar e, quando olhei para o lado, eu a vi.

E então meu mundo parou de girar.

Mariana estava bem perto, porém sequer me notou. Minha ex-namorada estava ainda mais linda do que eu conseguia lembrar. Ela sim, combinando perfeitamente com o local, trajava um bonito vestido vermelho, marcando todas as suas curvas e exibindo parcialmente uma de suas belas pernas pela fenda na lateral de seu corpo. Mariana estava, simplesmente, deslumbrante.

Vê-la depois de tanto tempo fez um sorriso automático nascer em meus lábios. Porém, na mesma velocidade, esse sorriso se desfez. Antes que sequer desse tempo de chamá-la ou de me aproximar, um cara muito bem-vestido com uma roupa social de marca brotou ao seu lado. Com um drink na mão e um sorriso cheio de intenções no rosto, o dito cujo se aproximou de Mariana e lhe ofereceu a bebida, que a julgar pela cor e adornos na borda do copo, parecia ser bem cara.

Eu nunca fui um cara violento, mas o meu impulso foi ir até lá e encher aquele filho da puta de socos, chutes e pontapés, até que não sobrasse mais nada de sua cara de playboyzinho de merda, para que ele aprendesse a jamais ousar se aproximar da minha mulher.

Porém, não foi isso o que eu pude fazer.

Até porque já faz três meses que não posso mais chamá-la de minha.

Com um sorriso de orelha a orelha, Mariana não apenas aceitou o maldito drink, como também puxou o cara para um beijo muito do bem dado. Um beijo daqueles que ela sabe dar tão bem. Um beijo dos que eu sinto tanta falta e que desejo provar de novo todos os dias, só de me lembrar dela.

Desculpa, foi engano!Onde histórias criam vida. Descubra agora