O sol, a lua, a estrela... e alguns alienígenas no meio

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As meninas estão muito falantes hoje, o que é bom, já que assim não precisarei me pronunciar tanto — e não me sentir desconfortável por não estar tão no clima quanto elas para conversar. Estela e Lunna são minhas primas e, portanto, são minhas melhores amigas desde sempre. Nossas mães sempre foram tão próximas — assim como hoje nós três somos — que decidiram até combinar os nomes de suas filhas, então viramos o sol, a lua e a estrela da família Brandão. Apesar dos nossos nomes sinalizarem astros que nunca se encontram, e de termos personalidades um tanto quanto distintas, sempre acompanhamos umas às outras em todas as situações importantes de nossas vidas.

Inseparáveis deveria ser o nosso verdadeiro sobrenome.

Estela sempre foi uma romântica incorrigível. Apesar de ter apenas 27 anos, ela já é casada há nove com o Pedro, e é mãe de dois filhos lindos, dos quais Lunna e eu somos madrinhas. Ama a vida de mãe de família e é completamente realizada assim. O grande orgulho das matriarcas da família Brandão. A típica moça bela, recatada e do lar. E que é extremamente feliz sendo assim.

Temos também a Lunna, a minha prima advogada, aquela que foi acordada em plena madrugada só para ouvir minhas lamentações. Ela sim destoa totalmente no nosso grupo. Sabe o estereótipo de mulher poderosa, independente, empoderada e que não precisa de homem nenhum? Pois bem, essa é ela. Lunna vive muito bem o auge dos seus 30 anos em seu apartamento com o Louie, seu nada simpático gatinho barrigudo de estimação, e sua bela adega de vinhos. Sua vida amorosa se resume a casos de uma noite que ela faz questão de não repetir, pois segundo a própria, "pessoas dão muito trabalho".

Ao contrário da sua irmã mais nova, Lunna é o verdadeiro ponto fora da curva da família Brandão que sonha em ver nós três casadas e felizes em uma família de comercial de margarina, algo que a Lunna é completamente avessa. Ela foi a primeira de nós a bater o pé e entrar numa universidade, já que antes disso, apenas os homens da família que haviam conquistado o seu diploma. E ainda precisou ouvir muita merda quando desistiu do curso de Engenharia Civil a poucos semestres de se formar para iniciar do zero uma faculdade de Direito. A família Brandão é muito conhecida por seus grandes empreendimentos e por todos os homens atuarem na área de Construção Civil. Ela até tentou seguir a área a princípio, mas descobriu que não era aquilo que queria para si. Com muita coragem, ela foi contra tudo e todos e hoje estuda e rala bastante para tirar sua carteira da OAB e assim poder atuar na área que ela realmente ama: o do Direito da Mulher.

E, por fim, estou eu. A caçula de nós três. Nunca achei que eu tivesse muitos atributos assim, para falar a verdade. Enquanto eu posso facilmente definir minhas primas e falar sobre suas qualidades por horas, o mesmo eu não consigo fazer comigo mesma.

O que falar sobre mim?

Bom, que eu sou uma arquiteta frustrada com a minha vida profissional e que, atualmente, encontra-se desempregada? Ou alguém que vive mendigando por migalhas da atenção do namorado que me enrola há cinco anos e, até agora, ainda não me pediu em casamento?

O que é menos ruim?

Desde muito pequena, ouvia minha mãe sonhando com o casamento de sua filha. Um casamento perfeito, dos sonhos de qualquer mulher. Um casamento tão perfeito quanto o seu. Cresci pensando que para encontrar meu lugar no mundo eu precisava encontrar o amor da minha vida, que me levaria ao altar rumo ao meu "felizes para sempre". Assim, conhecer o Frederico, filho mais velho e herdeiro dos Aguiar, uma importante família de políticos da nossa cidade, foi um dos meus maiores feitos, poderia arriscar a dizer. Pelo menos é isso que minha mãe me fala sempre: que eu deveria levantar as mãos para o céu por ter encontrado alguém como o Fred.

Eu conheci meu namorado no escritório de arquitetura onde trabalhava até pouco tempo atrás. Apesar de não ser o emprego dos meus sonhos, até que era legal, eu gostava bastante do lugar. Meu chefe sempre me dizia que eu tinha muito talento e potencial, mas estar no meio de todos aqueles desenhos, esquadros e compassos nunca foi o que de fato me deixava feliz. Fiz faculdade de Arquitetura puramente para agradar os meus pais. Queria ter a coragem de Lunna de seguir os meus reais desejos. Mas enquanto crio essa coragem, guardo no meu coração o meu verdadeiro sonho que também envolve desenhar, mas que passa muito longe do desenho arquitetônico. Com o total incentivo de Fred, acabei pedindo demissão do meu trabalho e hoje encontro-me desempregada. Tentando ser bem otimista, um primeiro passo foi dado, pelo menos.

Desculpa, foi engano!Onde histórias criam vida. Descubra agora