Alguém inventa uma lei que me impeça de beber, por favor!

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Alô? Quem é?

Sem muita demora, ouço uma voz bastante sonolenta do outro lado da linha. Não sei até que ponto o álcool tem culpa nisso, mas eu não posso negar, a voz do filho da mãe é mesmo bonita e faz um friozinho se formar bem na boca do meu estômago.

Na primeira vez que nos falamos no telefone, não consegui ouvir muito bem sua voz, mas dessa vez, mesmo que tenha ouvido apenas poucas palavras, consigo notar o quanto o seu timbre vocal é agradável, diria melodioso até, nem grave nem agudo demais, levemente aveludado. Suave e gentil é como posso definir seu jeito de falar, mesmo aparentemente tendo sido acordado a força pela ligação de uma maluca em plena madrugada.

De novo.

Entretanto, antes que esses pensamentos me inundem, resolvo acordar para o meu real objetivo com essa ligação. O que eu quero mesmo é descontar em alguém toda a minha frustração. E usar esse homem como bode expiatório me parece a melhor opção.

— Ei, você! Você é um filho da mãe, sabia? — falo e uma pequena pausa é feita, como se a outra parte estivesse assimilando meu insulto.

Como é que é? — pergunta-me ainda sonolento, parecendo não entender o que estava acontecendo.

E, bom, eu não posso lhe julgar por isso, já que a situação não é lá a mais convencional.

— Você é um filho da mãe. Idiota. Panaca. Banana. Pateta. Ridículo... Humm... Idiota! Seu, seu...

Tento me lembrar de todos os adjetivos gentis que Lunna costuma usar para se referir a Frederico, mas nada mais vem em minha cabeça já dominada pelo álcool. Até que após uma pausa dramática, como num estalo, me lembro de outro xingamento que minha prima adora usar:

— Arrombado!

Isso, isso, isso!

Ouço o homem respirar fundo do outro lado da linha. Coitado, parece ter uma paciência de Jó, viu? Mas, mesmo assim, resolvo continuar meus insultos:

— Você é tão arrombado que até o seu "alô" é irritante!

Tudo bem, isso não faz muito sentido, nem é verdade. Mas ninguém precisa saber. Vamos dar um desconto para o tanto de etanol em minhas veias, né?

Ahn... Desculpa, mas quem está falando?

O homem parece realmente confuso, mas ainda estava sendo bastante educado, o que, incrivelmente, me irrita: eu não quero cordialidade. Neste exato momento, eu escolhi a violência.

— Uma fodida que tá enchendo a cara e xingando um desconhecido qualquer!

Eu rio de desgosto ao responder. É patético e eu sei disso. Não me julguem. Eu estou praticamente no fundo do poço e minha dignidade não é lá a minha prioridade no momento.

Ah, não... Espera. — Respira fundo, parecendo finalmente entender. — Você é a garota de ontem? — Como um alerta, o meu corpo vibra só de lembrar da nossa última ligação. — Olha, eu tô muito cansado, estava muito bem dormindo e tô sem tempo pra isso agora. E não pago conta de telefone todo mês pra ficar ouvindo ofensas não, tá?

Ouço um bocejo que me contagia a fazer o mesmo. Mas desperto rapidamente, a tempo de continuar os meus planos.

— Muito engraçado! Ontem você teve tempo bastante pra me fazer de trouxa, não é, seu otário? E não são ofensas, é a verdade! Você é igualzinho a todos os seus amigos homens, exalando testosterona e que só pensam com a cabeça de baixo!

Mas o que foi que eu te fiz, mulher? Você é maluca? Foi você quem ligou pra mim! E agora é você que está ligando pra mim, de novo! E já é madrugada, sua doida! Eu tô cansado! — reclama e eu percebo que seu tom fica progressivamente agudo e cantarolado conforme ele se irrita, o que é até um pouco cômico. — Trabalhei pra caramba hoje à noite pra uma maluca qualquer ligar pra mim me xingando? É isso mesmo que está acontecendo?

Desculpa, foi engano!Onde histórias criam vida. Descubra agora