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4 de março de 2002

A noite foi cheia de pesadelos, especialmente um que me fez tremer. Eu corria por um bosque escuro e árido perseguido por personagens obscuros e maléficos. Diante dos meus olhos erguia-se uma torre iluminada pelo sol, exatamente como Dante, que tenta chegar ao monte sem conseguir por causa do obstáculo das três feras. Só que não eram três feras que me impediam, mas um anjo presunçoso e seus diabos, e atrás deles um porco com o ventre cheio de corpos de meninas, mais além um monstro andrógino seguido por jovens sodomitas. Todos tinham a boca cheia de baba e alguns se arrastavam com dificuldade, esfregando os próprios corpos na terra seca. E eu corria, virando a toda hora, com medo de que algum deles me alcançasse; todos gritavam frases desconexas, impronunciáveis. A uma certa altura, não percebi um obstáculo bem na minha frente e gritei. Arregalando os olhos, notei o rosto bondoso de um homem que, tomando minha mão, levou-me por escuras passagens secretas até os pés da alta torre. Apontou com o dedo e disse:

- Suba as escadas e não se vire, no topo vai encontrar o que sempre procurou em vão no bosque.

- Como posso agradecer?

- Corra antes que eu me junte a eles! - Gritou ele sacudindo a cabeça com força.

- Mas é você, você é meu salvador! Não preciso subir a torre, já o encontrei! - Berrei, dessa vez cheio de alegria.

- Corra! - Repetiu ele.

Seus olhos mudaram, tornaram-se famélicos e vermelhos, e ele, babando, fugiu dali. E eu fiquei aos pés da torre com o coração despedaçado.

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22 de março de 2002

Meus pais viajaram por uma semana e só voltam amanhã. Durante alguns dias, tive a casa só para mim e pude entrar e sair a hora que bem entendesse. No início, pensei em convidar alguém para passar a noite comigo, talvez Mingjue com quem falei uns dias atrás, ou quem sabe ousaria chamar Song Lan ou Mian.

Resumindo, alguém que me fizesse companhia. Mas ao contrário, desfrutei da solidão, fiquei sozinho comigo mesmo pensando em todas as coisas boas e as coisas ruins que aconteceram comigo nesses últimos tempos.

Eu sei, diário, que fiz mal a mim mesmo, que não tive respeito por mim, pela minha pessoa, que eu digo que amo tanto. Não estou mais tão seguro de me amar como antes: alguém que deixa qualquer homem violar seu corpo, sem nenhum objetivo preciso e nem pelo prazer de fazê-lo? Estou dizendo isso para contar um segredo, um triste segredo que eu preferiria, bobo que sou, esconder de você, na ilusão de que poderia esquecer. Numa noite em que estava sozinho pensei que precisava desabafar e tomar um pouco de ar. Fui então ao pub onde sempre vou e entre um copo e outro de cerveja conheci um sujeito que me abordou com modos pouco simpáticos e pouco educados. Eu estava bêbado, minha cabeça girava e dei corda pra ele. Ele me levou até sua casa e quando fechou a porta, tive medo, um medo horrível, que fez o porre passar imediatamente. Pedi que me deixasse ir embora, mas ele não deixou, obrigando-me com olhos enlouquecidos e pequenos a tirar a roupa. Cheio de medo, obedeci e fiz tudo que ele me mandou fazer. Penetrei-me com o vibrador que ele pôs na minha mão, sentindo as paredes da minha bunda queimarem horrivelmente como se me arrancassem a pele.

Chorei quando ele me ofereceu seu membro pequeno e mole e, segurando minha cabeça com uma das mãos, me obrigou a fazer o que ele queria. Não conseguiu gozar, eu já sentia as mandíbulas doloridas quando ele adormeceu de repente.

Jogou-se na cama e adormeceu na mesma hora. Instintivamente, olhei para a mesinha de cabeceira esperando encontrar o dinheiro que caberia a uma boa puta. Fui até o banheiro, lavei o rosto sem ter coragem de olhar nem que fosse por um segundo a minha imagem refletida: teria visto o monstro em que todos querem que eu me transforme. E não posso permitir que isso aconteça, não posso permitir a eles. Estou sujo, só o Amor, se é que existe, poderá me limpar de novo.

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