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18 de maio de 2002

Parece que estou ouvindo a voz quente e tranquilizadora da minha mãe me contando uma história, porque eu estava de cama com gripe:

- Uma coisa difícil e não desejada pode se revelar uma grande dádiva. Sabe, Lan Zhan, muitas vezes a gente recebe, sem saber, um presente. Esse conto narra a história de um jovem rei que assume o governo de um reino; ele já era muito amado antes mesmo de se tornar rei, e os súditos, felizes com sua coroação, levaram muitos presentes para ele. Depois da cerimônia, o novo rei estava jantando no seu palácio quando, de repente, ouviu baterem à porta. Os criados saíram e encontraram um velho vestido como um miserável, parecendo um mendigo, que desejava ver o rei. Fizeram de tudo para dissuadi-lo, mas foi inútil. Então o rei decidiu sair para encontrá-lo: o velho cobriu-o de elogios, dizendo que o rei era belíssimo e que todos no reino estavam felizes por tê-lo como soberano. Ele havia lhe trazido de presente um melão. O rei detestava melão, mas, para ser gentil com o velho, aceitou e agradeceu. O homem então foi embora satisfeito. O rei voltou ao palácio e entregou a fruta aos criados para que a jogassem no jardim.

Na sétima semana depois daquele dia, na mesma hora, bateram novamente à porta.

O rei foi de novo chamado e o mendigo mais uma vez o elogiou e deu-lhe um outro melão. O rei aceitou, cumprimentou o velho e, mais uma vez, jogou o melão no mesmo jardim. A cena se repetiu durante várias semanas: o rei era gentil demais para ofender o velho ou desprezar a generosidade de seu presente.

Então, certa noite, justamente quando o velho estava para entregar o melão ao rei, um macaco pulou do pórtico do palácio e fez o fruto cair de suas mãos: o melão partiu-se em mil pedaços contra a fachada do palácio. Quando o rei olhou, viu uma chuva de diamantes cair de dentro do melão. Ansioso, correu até o jardim: todos os melões haviam se desfeito liberando uma montanha de pedras preciosas.

Eu a interrompi dizendo:

- Posso deduzir eu mesmo a moral da história? - Estava entusiasmado com o lindo conto.

Ela sorriu e disse:

- Claro!

Respirei fundo como respiro toda vez que me preparo para dizer a lição na escola:

- Às vezes as situações incômodas, os problemas ou as dificuldades escondem uma oportunidade de crescimento: muitas vezes no coração da dificuldade brilha a luz de uma preciosa joia. É prova de sabedoria acolher o que é desagradável e difícil.

Ela sorriu de novo, acariciou meus cabelos e disse:

- Você cresceu, pequerrucho. Você é um tesouro.

Eu queria chorar, mas me segurei. Minha mãe não sabe que os diamantes do rei foram para mim as cruas bestialidades de homens grosseiros e incapazes de amar.

。・:*:・゚★,。・:*:・゚☆

20 de maio

Hoje o professor veio me encontrar novamente na frente da escola. Eu estava esperando por ele e entreguei-lhe uma carta junto com uma cueca especial.

"Essa cueca sou eu. É a coisa que melhor me descreve. De quem poderia ser, estranha e assim desenhada, com um enfeite pendurado de cada lado, senão de uma pequena peça?

Mas essa cueca, além de me pertencer, é o meu corpo e eu.

Já me aconteceu muitas vezes de fazer amor usando-a, talvez nunca com você, mas não importa... Esses enfeites são um obstáculo para meus instintos e meus sentidos, são amarras que, além de deixar marcas na pele, bloqueiam os meus sentimentos...

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