Helena

78 9 11
                                    




Separações sempre são complicadas, afeta o psicológico de todos os envolvidos. Eu tinha apenas 9 anos quando meus pais colocaram um ponto final naquele casamento desastroso. Digo desastroso, porque vivíamos num inferno, todo dia tinha briga, troca de xingamentos, gritos e estresse. Tudo isso foi desgastando até virar cinza.

Meu pai Sr. Ricelly Henrique Tavares Reis segurou enquanto podia para que desse certo, não queria que eu e o meu irmão Miguel vivêssemos com pais separados, mas não teve jeito, não só de gratidão segura um casamento. O meu pai teve um amor único na vida que viveu muito pouco tempo e isso o destruiu. Desde que Marília Mendonça faleceu em um acidente aéreo há 20 anos atrás, nunca mais conseguiu ser o mesmo, ficou perdido, não sorria como antes, uma parte dele se foi naquele dia. A verdade é que ele era uma pessoa antes de ela partir e se tornou outra pessoa depois de toda aquela tragédia... Na época tinha uma dupla sertaneja com o meu tio Juliano e continuou por mais uns anos, mas após um tempo aposentaram os microfones. Meu tio ficou em Palmas e o meu pai comprou outra fazenda para a criação dos Nelore dele em Goiânia que é uma paixão que tem desde que me conheço por gente, e aqui virou nossa casa desde a separação dos meus pais.

Minha mãe Amanda Barbosa de Mendonça Vasconcellos, sempre foi apaixonada pelo o meu pai, viveu pensando que algum dia ele a amaria da mesma forma, acredito eu, mas isso nunca aconteceu. E até hoje, mesmo ela sendo casada com o meu padrasto, Diogo, parece ainda amar o meu pai, já que sempre arruma uma nova briga quando meu pai arruma uma nova namorada. Pois é, sempre falo para ela: supera mãe, a vida seguiu e pronto! Mas ai ela começa a falar o que toda mãe fala: Ah, você é um puxa saco do seu pai, sempre foi. Então, quando se separaram não foi novidade para mim, até penso que demoraram tempo demais para isso.

Toda essa implicância é que quando se separaram, meu pai veio morar em Goiânia e a princípio minha mãe iria ficar comigo e o meu irmão em Palmas. Porém, quando isso aconteceu, eu chorava chamando pelo o meu pai e acabei ficando doente. E minha chantagem emocional funcionou, meu pai foi me ver e me levou para ficar um final de semana e isso resultou em 12 anos que eu moro com ele, nunca mais quis ir embora. Minha mãe ficou chateada porque eu nunca reclamei ou chorei por morar com o meu pai, aliás me adaptei rapidamente, talvez a minha ligação com o meu pai é mais forte e penso que foi a melhor coisa que aconteceu, começamos a ter paz dentro de casa. Fiz novos amigos, entrei em uma escola nova, tive minhas primeiras desilusões e ganhei um melhor amigo no meio de toda essa trajetória: Léo, que agora é quase namorado, falo esse "quase" porque estamos nessa relação complicada, meus pais, os avós e o pai do léo não sonham com isso. Meu tio é o único que pegou a gente no flagra uma vez e prometeu guardar segredo e cumpriu até hoje ninguém sabe, mas acredito que até meu tio pensa que ficou só naquele dia mesmo. Até porque o Léo mora em São Paulo, mal sabem que quando viajo a trabalho fico hospedada no apartamento dele. Mentir nunca é uma opção né, estou tentando encontrar uma forma de falar com o pai, porém sempre travo quando tento contar a verdade. Nunca pensei em como seria me apaixonar, mas as coisas foram acontecendo sem que eu buscasse...Quando o Léo se declarou para mim, achei que estava sendo impulsiva só para não magoá-lo, mas estava enganada, meu coração parece que queria aquilo tanto quanto ele, estamos cada vez mais apaixonados. O problema de assumir para a minha família, é que eu me apaixonei por ninguém menos que Léo Mendonça Huff, filho de Marília Dias Mendonça, a mulher que o meu pai mais amou nessa vida. É confuso pensar nisso, não sei qual seria a reação do meu pai, mas tenho certeza que não é das melhores e minha mãe não quero nem pensar, vai surtar, ela nunca tratou o Léo mal, mas era visível o desconforto. Pelo que entendi, a Marília e o pai eram loucos um pelo outro, mas eram muito geniosos e viviam em um relacionamento complicado, e nesse meio tempo o meu pai engravidou a minha mãe sem nem a conhecer direito, então elas nunca foram amigas, é claro quando envolve sentimentos fica difícil e tudo isso foi antes da minha mãe aparecer na vida dele, porém foi vísivel que ambos sofreram muito... Meu pai abdicou do amor para assumir a paternidade e responsabilidade do que tinha feito e ele é um excelente pai, filho, irmão, mas nunca foi bom marido, ele se esforçou , mas era nítido que tinha uma lacuna, algo incompleto e quando tive idade suficiente para entender resolvi visitar o passado do meu pai por fotos e vídeos na internet, e conheci um Henrique diferente do meu pai, o amor transbordava quando ele estava perto dela, era um olhar apaixonado e foi surreal porque percebi que nunca tinha visto esse olhar dele para ninguém, e quando a vida dela foi interrompida de forma cruel, Sr. Henrique se fechou no mundo dele e até hoje de vez em quando ainda percebo o sofrimento que a ausência dela causa nele, mesmo depois de 20 anos, fala dela com pesar daquilo que não viveu... As vezes o pego distante sorrindo sozinho, tenho certeza que as lembranças ainda o assombram.

Unidos pelo destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora