💥Capítulo III: O Fim do Mundo💥

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U̷m̷ Minu̷t̷o̷ P̷a̷r̷a̷ F̷i̷m̷ d̷o̷ Mun̷d̷o̷

Obviamente tinha o poder de devolver a vida, mas isso tinha um preço, ainda mais em uma situação na qual um minuto já havia se passado. A morte foi dada, mas não concretizada, a alma ainda estava no corpo estilhaçado no asfalto frio e duro, esperando o anjo para buscá-la e direcioná-la para o além. 

Mesmo estando na floresta repleta de penumbras que percorria justamente aquela rodovia, Agust D não conseguiu chegar a tempo de impedir o acidente, entretanto, recusava-se com todas as forças e personalidades que tinha de retirar a luz amarela do corpo do garoto.

Aceitou que seus sentimentos colocariam um de seus poderes mais complexos em ação, iria onde precisasse para salvar Hoseok.

Revirou os olhos em fúria e os fechou, juntou as mãos em uma reza e bateu as asas exatamente três vezes de maneira bastante forte, emitindo o som de uma lufada de vento; com isso, o ar ao redor começou a formar breves redemoinhos que logo se desmanchavam quando a forma ficava mais nítida.

Agust D, Min Yoongi e Suga insistiram, bateram novamente o par preto, só que, desta vez, o trio depositou os sentimentos mais perversos de todos os envolvidos: colocaram as chamas de seus corações no ato.

O primeiro, reuniu seus pavores sobre a humanidade e suas crueldades; o segundo depositou seus medos da solidão e, o terceiro, colocou sua paixão pela guerra e sua repulsa pelos atos imorais dos seres humanos quando o estado de calamidade era o único presente entre os imortais.

Todos ali entendiam muito bem que a junção de decisões e sequência de atitudes que viriam nunca tinham sido feitas antes e poderiam colapsar toda a ordem natural do universo; poderiam colidir planetas; destruir espécies; aniquilar a própria imortalidade dos deuses.

Um crime de proporções celestiais tinha resultados avassaladores.

O mais complicado era que eles sabiam de forma totalmente consciente que o fim daquele mundo poderia acontecer, o que faria todo o trabalho ser jogado fora... Hoseok morreria de qualquer forma se tudo colapsasse e não voltasse ao norma.

Mas o anjo mortífero não fazia aquilo somente pelo imortal, fazia por si mesmo; não queria continuar a existência sem a doce criatura, tinha um medo descomunal de continuar o ofício sabendo que aquela alma tinha ido para um plano no qual a Morte nunca mais poderia vê-lo; o espaço entre a vida e a não-existência.

Purgatório, céu, Inferno, nomenclaturas insuficientes para definir o que espera os seres humanos no chamado "além" ou o "outro lado".

Para evitar a viagem sem volta de Hoseok, Agust D iniciou a volta no ponteiro do relógio; não pensou duas vezes; ninguém em sua mente questionou, comemoraram em êxtase quando o poder começou a surtir efeito; a festa inesperada dos dois egos coloriu em tons pastéis marrons e tonalidades de sépia a escuridão de sua suposta alma.

A escuridão não era mais tão dominante.

Os três redemoinhos compostos por areia, sujeira e vento se intensificaram após as seis batidas das penas grossas e transparentes, foram desenvolvendo um tamanho inimaginável, ao passo que cresciam sem parar, a criatura permanece na postura de prece: rezava pela alma de Jung Hoseok.

As moléculas de oxigênio brigavam entre si, os eletrodos pulavam de uma camada para a outra e depois voltavam em uma fração de segundos, transformando os elementos em algo totalmente novo e desconhecido pelo homem. Enquanto os três vendavais tomaram o sudeste da Coreia do Sul e subiram para além dos prédios abandonados, as aves da região foram engolidas com o puxão brusco dos ventos e mortas minutos depois de entrarem na centrífuga.

Assim, de pequenos e inofensivos redemoinhos de vento eles foram para três vendavais e, por fim, transformam-se em tufões, aglutinando cidades, engolindo mares e acabando com toda a forma de vida que chocava-se contra eles. Azrael permaneceu imóvel, seus cabelos agitavam-se com ódio e as penas negras tremiam sem cessar em um movimento frenético de arrepiar-se e encolher-se a todo instante.

O mundo acabava, enquanto Agust D rezava.

Em conjunto da morte em formato de vento e desastres, uma tempestade que surgiu com um estrondo na Ásia começou a engolir todos os outros cinco continentes do planeta; os raios gigantes caiam e formavam fendas de quilômetros no chão quando os clarões lampejavam uma, duas, três vezes, seguidos depois pelos barulhos ensurdecedores que soavam uma atrás do outro – como quando uma pedra mergulha em um lago e forma ondulações que seguem uma à outra.

A perpetuação do timbre fazia com que o primeiro som parecesse distante e mais grave, pareciam o bater intenso de tambores de guerra – o conglomerado e trovões anunciavam o fim do mundo, o apocalipse, a aglutinação de matéria dentro dos tufões. A tormenta engolia tudo, nada estava a salvo.

As gotas grossas e enormes da chuva inundaram todos os espaços da América do Sul à Oceania; os céus tinham sido preenchidos por uma cor escura que beirava a matiz escarlate e, a cada minuto que o relógio batia, a tonalidade mudava gradativamente para uma coloração mais amarelada; parecia que a realidade tinha sido engolida por uma fumaça nojenta, o ar não era mais possível de ingerir e a vida não tinha escapatória.

A morte, materializada em anjo ou não, era certeira.

A água do céu caia pelo seu rosto pálido e translúcido, escorriam rapidamente pela testa, tomavam os cabelos negros e preenchiam seu corpo etéreo, ainda estava com as palmas das mãos juntas, rogando, e, quando ousou abrir os olhos levemente, o peso do líquido dos céus dificultou sua vista ao fazer os cílios penderem para baixo.

Ofegante e exausto, Azrael entrou em uma nova realidade.

Em um único lampejo, o universo inteiro ficou branco, Agust D sentiu o coração acelerar quando viu como estava num espaço totalmente esbranquiçado, sem chão, sem teto, sem objetos, sem pessoas, sem o acidente, sem a floresta, sem Hoseok... sem nada.

A criatura mortífera sabia muito bem que lugar era aquele: a porta de entrada do mundo físico para o metafísico. O vazio da existência, o corredor brilhante que sempre percorria levando as almas até o purgatório. Aquele era o lugar em que seus poderes eram intensificados ao extremo, era o rei daquele extenso e, ao mesmo tempo, curto espaço onde a vida não existia, mas a morte também não ficava por muito tempo.

Rapidamente, Agust D começou uma meditação para cometer seu real crime – iniciar o fim do mundo não era o verdadeiro ato celestial que poderia lhe render tamanhas e incalculáveis punições – Deus ou o Diabo, ou até mesmo os dois no pior dos casos, iriam cobrá-lo em algum momento.

Mas o Senhor da Morte não pensava nisso.

O anjo abriu o menu de Deus em sua mente, uma variedade de opções estava diante de seus olhos: aniquilar aquela realidade; manter alguns traços da realidade, mas reiniciá-la por completo; desfazer todos os efeitos do poder temporal e voltar ao instante antes do bater das penas; alterar aquela realidade em mais de um fator e, por fim, mudar aquela realidade em somente um fator.

Não pensou muito e escolheu mentalmente a última opção; a decisão era fazer com que soubesse do acidente um tempo antes, somente o necessário, um minuto. E, assim, pudesse impedir que Jung fosse atropelado; desenvolvendo, com isso, o sopro da vida que não deveria ter saído de maneira tão injusta e brutal.

Escolheu poder salvar sua criatura mais favorita do mundo, sem raciocinar duas vezes sobre as consequências. Só que, no cardápio de Deus, não há almoço grátis; além disso, Lúcifer não é conhecido por perdoar, apenas condenar. Qualquer um deles poderia muito bem dificultar a existência de Agust D quando tudo aquilo terminasse – mas, o que realmente angustiava a Morte não era quais punições sofreria, mas, sim, a fatídica pergunta: quem aplicaria a sua sentença?

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Um Minuto Para o Fim do Mundo || YoonSeok/Sope 🔒Onde histórias criam vida. Descubra agora