Apenas ensaios

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                                  Poliana

Entro no quarto e escuto a porta sendo fechada em seguida. Pego meu celular a procura do roteiro, ainda de costas para João.

- Quer começar pelo ato inicial? -pergunto, na torcida de ele responda sim.

- Na verdade, eu ia sugerir ensaiar a parte do beijo… - de repente, parece que meus pés grudam no chão e se recusam a sair. Ele disse exatamente o que eu não queria - eu sei que não precisamos apresentar amanhã, mas da última vez você não conseguiu fazer a cena. Seria bom tirar essa pedra do caminho, e se não se sentir confortável, podemos pedir para tentar mudar essa parte.

- Então você concorda?

finalmente me viro para ele, ainda nervosa. Assinto com a cabeça. Não podia atrasar esse ensaio novamente.

- claro, é só um beijo técnico, não é?

- Sim, pode ficar tranquila - eu estava tudo, menos tranquila.

- Você sabe suas falas?

Ele me confirma mostrando o celular, que já estava aberto com o roteiro. Começamos com a mesma cena que já havíamos apresentado na sala de teatro. Estava tudo igual, se não fosse pelo pequeno detalhe que agora, nós iríamos nos beijar.
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                                   Luísa

- Cheguei com a sobremesa, desculpa a demora… - Marcelo para e olha confuso para os dois assentos vagos na mesa - cadê eles?

- Eles subiram. Precisavam treinar o texto da peça e eu achei que não iria ter problema se fosse agora. Mas fica tranquilo, já já os dois descem.

- Ué, não avisaram aos alunos? - levanto uma sobrancelha e Marcelo percebe minha falta de compreensão - ah, você não sabe ainda, e pelo visto nem eles. A peça foi cancelada.

- Como assim? Porque cancelaram?

- Parece que alguns pais reclamaram foram a escola reclamar, aí já viu. A Ruth não pode ir contra, a única coisa que restou foi cancelar.

- Entendi… tem gente que vê problema em tudo, era só uma peça escolar. Mas fazer o que, é uma pena. Os alunos deviam estar muito animados.

- Estavam mesmo, pelo menos alguns.

- A gente precisa avisar aos dois então.

- Sim, assim não gastam tempo à toa.

Ele, finalmente, larga o pavê sobre a mesa e subimos para o quarto
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                               Poliana

Depois de algum tempo tentando acertar minha fala, finalmente consigo. João tinha razão, provavelmente eu não conseguiria fazer a cena sem esse ensaio.

-... então não se mexa, enquanto recebo a recompensa das minha orações -ele se aproximou ainda mais de mim e passou uma mecha de meu cabelo para trás, exatamente igual a primeira vez que nos beijamos. Fechei os olhos esperando que ele tomasse a iniciativa, mas isso não aconteceu de imediato, senti suas mãos acariciando meu rosto e parando em meu queixo. Seu toque, sua respiração desregulada queimando meu rosto, tudo isso era a mistura perfeita para todo o meu corpo desarmar. Abri meus olhos e ele encarava minha boca, alternando o olhar entre ela e meus olhos.

- Se não estiver preparada, paramos aqui - João sussurrou, fechando os olhos em seguida e roçando seu nariz com o meu.

Não respondi, apenas levei minha mão para sua nuca fazendo carinho em seus cabelos. Baixei meu olhar para a boca e não pude negar mais o quanto queria aquilo. Sem mais hesitação, juntei nossos lábios. Minha outra mão subiu para seu pescoço e senti as dele deslizando até chegar em minha cintura. A intenção era ser só um selinho, mas o beijo foi se intensificando. O correto seria parar ali mesmo, claramente não era um beijo técnico e isso ficaria estranho quando nos separássemos. Mas quando nossas línguas se encontraram, não tive forças para pensar em mais nada. Me entreguei completamente aquele momento. Senti um frio na barriga como se fosse a primeira vez que estávamos fazendo isso, ele é o único que me desperta essas sensações. As mãos de João hesitando entre descer ou não despertavam ainda mais meu desejo. Queria congelar o tempo ali e não ter que inventar desculpas sobre. Mas como tudo que é bom dura pouco, escutamos um barulho de maçaneta e nos afastamos de súbito.

Um novo recomeço - EM PAUSA Onde histórias criam vida. Descubra agora