23- Eu não quero matar você

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– Vejamos... Por onde eu começo? – Hongjoong deu início a conversa – Primeiro, me diz como é? Qual a sensação de ter um pai, uma mãe, uma família? – Girou o bastão de ferro colocando-o nos ombros e apoiando suas mãos sobre ele ao mesmo tempo em que caminhava de um lado para o outro – Sabe, Lee Yongbok... Se a vida fosse justa para todos, assim como foi para você, eu também teria o nome Lee na minha certidão de nascimento...

– É isso que eu não entendo – Felix permaneceu parado observando os passos do nortista – Por que essa obsessão com o meu nome? Comigo? Com a minha família?

– Nossa família, Lee Yongbok – O australiano franziu o cenho estranhando o rumo que aquela conversa estava tomando – O quê? – Sorriu satisfeito com a reação do garoto – Não é tão estranho quando se sabe a história toda – Tombou a cabeça para trás apoiando-se à barra de ferro e encarando o teto, pensativo – Nós somos irmãos...

– Tolice... – Sorriu incrédulo.

– Tolice? – Girou o bastão ao se aproximar de Felix – TOLICE?? – Alterou a voz para assustar o mais novo ao mesmo tempo em que aproximou o objeto do rosto do mesmo com toda sua força, parando a apenas alguns centímetros fazendo o australiano fechar os olhos e se proteger com os braços temendo de ser atingido – O quão cego você é pelas mentiras que te contaram durante toda a sua vida? – Abaixou o bastão e o australiano também abaixou os braços abrindo os olhos cuidadosamente – Olha só pra você... – Deu um passo para trás analisando o australiano de cima a baixo – Acredita mesmo que aquele mundinho em que vivia era perfeito? – Colocou o bastão mais uma vez sobre os ombros – Acredita mesmo que o nosso pai era o homem gentil e honesto que transparecia ser? Acha mesmo que ele não tinha nada a esconder?

– Ninguém é perfeito Hongjoong, mas você ser meu irmão? – Torceu o rosto com desprezo.

– Por que? Não sou digno de fazer parte da milionário família Lee? Não sou bom o suficiente?

– A questão não é essa...

– É o que então? – Se aproximou do australiano o encarando nos olhos – Ter uma boa educação? Uma boa índole? Fazer sempre o que os outros esperam que você faça? – Afastou-se sem tirar os olhos dele – O que o nosso pai fez comigo e com a minha mãe, é pior do que qualquer coisa que eu já tenha feito pra sobreviver.

– O assassinato da minha família também era necessário pra sua sobrevivência? – Perguntou com os punhos cerrados no intuito de provocá-lo, pois não importa a história por trás disso, jamais o perdoaria por tal feito.

Hongjoong não pode evitar deixar escapar um sorriso sádico em resposta a provocação do garoto de sardas e desviou o assunto rapidamente:

– O Bangchan era o mais próximo de família que tive, ele sempre cuidava de mim, era como um irmão mais velho – Voltou a caminhar de um lado para outro com o olhar perdido em seus pensamentos – Mas alguns anos após nossa fuga, ele quis viver uma vida cheia de hipocrisia, seguindo uma ideia totalmente contra de quem ele realmente é... – Respirou fundo cheio de pesar – Quando nos separamos, me senti sozinho pela primeira vez... Então decidi ir atrás da minha família biológica e foi quando descobri quem eram eles... Dois anos antes de você nascer, o papai teve um caso com uma empregada, ela engravidou e é claro que ele não iria por em risco a reputação da sua família perfeita. Sendo assim, me rejeitou e rejeitou minha mãe, a despedindo... A pobre coitada sem ter onde cair morta e sem condições para criar uma criança sozinha, me largou em um orfanato e sumiu pelo mundo... – Parou de frente para Felix cabisbaixo – Eu a procurei por todo lugar, mas já era tarde, a pobrezinha ficou doente e sem condições de se tratar acabou morrendo, enquanto o papai, ele tinha você... O filhinho favorito dele... – O encarou – O tão privilegiado, Lee Yongbok... – Começou a andar em círculos, ao redor do australiano, o analisando – Ela tentou procurar por ele, nosso pai, mas ele a ignorou e a deixou pra morrer. Nada melhor do que a morte para se livrar de um empecilho, não é mesmo?

Foi aí que a conversa enfim, começou a fazer sentido para Felix. Quando uma memória da sua infância veio a tona, de um dia em que estava no jardim brincando com sua irmã mais velha e de repente, uma mulher magra e de aparência bem pálida apareceu no portão. Os seguranças não a deixaram entrar, sua mãe os chamou para dentro, mas ainda podia ouvir a mulher gritando em completo desespero, pedindo por ajuda, enquanto era retirada do local.

– Aquele dia em que meus homens e eu fomos até sua casa, era você que eu queria – Apontou para o australiano com o pedaço de ferro – Era você, eu queria matar você na frente do papai, queria que ele visse o tão amado e perfeito Lee Yongbok implorando pela vida. Eu queria ver você sofrer e que ele acompanhasse cada segundo da sua dor – Segurou a barra de ferro com as duas mãos em uma tentativa falha de torce-la, por ser um material bem resistente, mas só a ideia de imaginar ser o pescoço do próprio Felix lhe era bem satisfatório – Mas sua mãe fez um belo trabalho ao esconder você de mim – Sorriu ladino – Ela sabia, ela sabia quem eu era assim que me viu... E ela te protegeu, pagou com a vida por isso... Então não me culpe pela morte dela, foi você que se escondeu – Começou a girar o bastão caminhando novamente de um lado para o outro – E eu fiquei tão irritado que os matei, matei todos eles.

A confissão que tanto esperava, depois dessa história, não surtiu o mesmo efeito que achava que teria. Felix não conseguia odiá-lo, sentia raiva, muita raiva, queria mata-lo, queria vingança, mas também sentia pena e culpa...

– Quando soube que você estava pelas redondezas eu quis te matar, eu quis muito completar o que havia começado... – Colocou o bastão sobre o ombro e caminhou em direção ao garoto de sardas – Mas agora, não sei se isso faz tanto sentido, quer dizer... Somos iguais agora, não é? – Colocou a mão sobre o ombro do mesmo mantendo contato visual – Órfãos, sem nada e sem ninguém... Pela forma em que fugiu depois do que aconteceu, você automaticamente se tornou um suspeito e agora nós só temos um ao outro... Eu não quero matar você... Somos irmãos...

– Filho da puta – A voz rouca e quase sem forças de Hyunjin atraiu a atenção de todos para si – Ele só quer te manipular Lix...

– Você não sabe mesmo quando calar a boca, não é!? – Hongjoong virou-se para Hyunjin com a barra de ferro pronta para golpeá-lo.

– Sai de perto dele! – Segurou a barra de ferro ainda no alto e a prensou contra o pescoço de Hongjoong, quase o estrangulando.

Hongjoong tentava a todo custo afastar a barra de seu pescoço e San não viu outra saída a não ser puxar o gatilho da arma que apontava para Hyunjin.

Então o som do disparo ecoou pelo grande galpão, fazendo Felix afrouxar o bastão dando ao nortista a oportunidade de se soltar e recuperar o objeto para si.

Foi tudo tão rápido, uma questão de segundos, mas quando os olhares de Felix e Hyunjin se encontraram naquele momento, tudo parecia passar em câmera lenta. Estavam tão preocupados um com o outro que ignoraram o que acontecia a sua volta.

Uma outra pessoa surgiu no local, a pessoa que disparara a arma acertando o ombro de San e o impedindo de atirar em Hyunjin.

– MATEM ELE! – Ordenou o líder apontando para Taehyun que ao escutar os primeiros disparos em sua direção saiu correndo – VÃO ATRÁS DELE, RÁPIDO!

Wooyoung e Seonghwa seguiram Taehyun imediatamente, até mesmo San com o ombro machucado, não ficou para trás. De repente, o som de sirenes surgiram pelo bairro, de pelo menos 8 viaturas e um helicóptero se aproximando cada vez mais. E Hongjoong não perdeu tempo, segurou Felix pelo pescoço em uma chave de braço e o arrastou para fora daquele lugar, enquanto o mesmo se sacudia inutilmente para se soltar.

– Felix!!! - Hyunjin não pode fazer nada a não ser observar seu amado sendo arrastado até sumir de sua vista. Após suplicar por seu nome, tossiu uma grande quantidade de sangue devido a hemorragia interna. Estava tão ferido que mal podia se mover, estava anestesiado pela dor insuportável, mas mesmo assim, conseguiu juntar forças para um último impulso e se arrastar pelo chão por míseros centímetros até sua visão escurecer e acabar desmaiando ali mesmo.





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Street Love {Hyunlix}Onde histórias criam vida. Descubra agora