"Amor e Sexo." Capítulo III, part. I

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Sierra Maestra, Cuba; 29/04/58.

Adormecido na grama molhada, depois de dias de chuva. Sinto meu rosto marcado de lágrimas e um pouco de... sangue. Parece que acordei depois de um pesadelo, que parece que foi verdade. Meu corpo dói muito, eu só consigo mexer meus braços e minha cabeça...

Ouço passos, rápidos, parecia várias pessoas. Chamavam pelo meu nome, queriam me salvar? parece que sim. Aleida e Camilo estavam a madrugada inteira me procurando junto do Raúl, realmente faço falta naquele lugar.

A moça grita meu nome duas vezes, ao olhar pro lado, me encontra. Aleida chama o outro para cá, no maior desespero.

— Ernesto! onde estava?! procuramos você a madrugada inteira! - se ajoelha ao lado de che, apertando o braço do mesmo.

— me tira daqui, Aleida... por favor... - che se acabava de chorar, no desespero das lembranças de ontem.

— o que houve pra você estar assim? nos conte!! - Aleida segura na mão dele, nervosa.

— eles me machucaram... por dentro e, por fora! doeu tanto! por que fizeram isso comigo?! - bota seu braço oposto encima de seu rosto, para cobrir os olhos vermelhos de tanto chorar.

— meu Deus... eu sinto muito.. me desculpe por não ter te salvado, hermano. - Aleida chora junto do outro, beijando a mão de Che.

Camilo chega para Aleida e fica parado olhando para mim, assustado. "O que faz aí parado?! se mexa homem!" diz Aleida, com raiva, em seguida Camilo me levanta com cuidado, deixando-me apoiar no ombro dele.

Depois de uma caminhada pequena, Raúl chega com uma égua já com sela e ajuda Camilo a me deixar sentado de lado encima da égua. A última vez que tinha andado de cavalo foi quando tinha uns 18 anos, num campo de hipismo, memória nostálgica.

— a princesa necessita de mais alguma coisa? você possui três cavalheiros em sua disposição. - Raúl solta uma risadinha, olhando diretamente para Che.

— voltar á andar a cavalo, tanto tempo... - che fecha os olhos e sorri levemente, fazendo carinho na lateral do pescoço da égua. – ele tem um nome?

— não, um dos camponeses que foram recrutados nos deu esta égua de presente. - raúl puxava (a mais) a égua para seguirem o caminho, enquanto os outros dois seguiam-nos.

— é uma égua? interessante... vai se chamar... Anna!

— Anna? nome bonito, quem sabe ela pode ser sua futuramente? - Raúl acaricia o pescoço da égua.

Em tanta conversa, chegamos no acampamento. Quase todos paravam quando me viam, surpresos com minha chegada. "Voltei, filhos da puta!" gritei, com os braços pra cima. Raúl ajuda-me a sair de cima da égua, já estava conseguindo me equilibrar.

Fidel sai da casa, feliz, incrivelmente feliz ao me ver. Ele só se aproxima de mim e me abraça, muito forte.; Aleida me solta do abraço de Fidel, olhando-o sério.

— você não tem vergonha na cara não? Deixar um comandante de quase 70 homens sozinho desse jeito?! Você sabe o que houve ontem?! - estava furiosa, encarando o Fidel.

— é... d-do que você tá falando? eu não sabia que ele tinha-

— VOCÊ SABIA SIM! SEU SONSO! - Aleida empurra o Fidel, com força. – confiamos em você pra cuidar dele enquanto estivessemos de vigia ontem na PUTA QUE PARIU QUE VOCÊ NOS MANDOU!

— se acalma Aleida, eu não sabia que ele ia sumir! - ficou nervoso, olhando para o che.

— e você não ponha a mão no Ernesto, não ponha a mão nele! depois de você deixar ele ser abusado pelos seus homens, você nunca mais terá nossa confiança! NUNCA MAIS!! - Aleida dá um tapa no rosto de Fidel.

Depois, ela se vira para mim e fomos junto de Camilo para longe deles, levando a égua junto. Raúl tenta consolar o irmão, de todas as formas. "Por favor, não... não toca em mim." dizia Fidel, indo pra dentro da casa denovo.

Paramos perto de um lago, me sentei na beirada e comecei a chorar. Raúl nos seguiu, queria ajudar por qualquer custo.
"Eu sou um fracasso! Não consegui nem me defender daquilo! Sou fraco demais pra tudo!! Eu estava certo o tempo todo, eu sou um fracasso!!" gritava, chorando e tossindo.

— você não é um fracasso, está errado. - dizia Raúl, se ajoelhando perto de Che.

— eu sou sim! eu não consegui me defender daqueles caras, eu entrei em desespero!

— você é homem. - raúl puxa o rosto de che para ele. – e homem chora, você estava vulnerável, você sentiu o que muitas mulheres sentem. você não tem culpa de nada disso.

— por favor... eu quero me limpar... - tentava segurar o choro, mas as lágrimas continuavam a cair.

eu quero me limpar, limpar essa minha sujeira.

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