Era normal.
Não sei quanto tempo, mas acho que já ia fazer uns cinco minutos que eu estava esfregando aquele vidro daquele café caindo aos pedaços. O pano imundo que eu sempre passava na vidraça do alojamento já estava ficando com uma gosma nele que não saia quando esfregava e em vez de limpar o vidro, estava o deixando mais imundo, desfocado e com arranhões. Já sou adulto mas não importa o quanto eu tente sair desse trabalho não consigo encontrar emprego em hipótese nenhuma ! Esse trabalho me mata, das sete da manhã até as nove da noite. Poderia ser um simples café, mas de noite é um bar para alcoólatras malucos por apostas em sinuca. O lugar na maior parte do tempo tá sempre imundo.
Desisto de esfregar o vidro quando ouço a porta da frente se abrir e um cheiro azedo penetrar o ar, cheiro de peixe com álcool e bombom de menta para ser mais específico. Me viro para olhar e olha, que surpresa era só o irmão da chefe vindo comer fiado de novo e fazer o ambiente ficar com um cheiro pior do que já estava. Mas, dessa vez ele entra com um envelope na mão.
Um envelope branco.
School Science.
-Hmmmm...- Ele bate com o dedo indicador no envelope enquanto lia o título dele. Eu temia isso.-Isso é seu ?- Pergunta olhando para mim.
Não respondo nada. Já estava na cara de quem era aquilo, estava o nome no título.
-Seu nome. Edward Richel, é você não é?- Ele olha para mim de olhos caídos e a pupila dilatada. Usava uma camisa branca suja de lama ou sei la o que seja aquilo e uma bermuda com uma estampa de baleia. Sua barba grisalha e a blusa um pouco pequena deixando a mostra um pouco do seu umbigo e os pelos da barriga me davam arrepios.
Agora, agora ele estava cm algo que eu queria. Queria mais que tudo.
-Sou eu. É pra mim.- Digo depois de uns 20 segundos em silêncio. -Pode me devolver?- Pergunto estendendo a mão a fim que ele me devolva o envelope de bom agrado sem dizer nada.
-Edward, edward. Já não disse que não pode ficar usando o endereço da loja para receber esses... papéis. Júlia também já falou com você não?- Tenta de forma falha me repreender com um sermão barato do ensino fundamental.
-Já expliquei para a Srt. Jackssom os meu motivos.- Digo balançando minha mão que se mantia firme. -Poderia me devolver?- Pareço um adolescente pedindo permissão da minha mãe para sair para brincar.
-Tem que falar para mim também por que sou irmão dela e seu segundo ch- urgh-efe. - Fala após soltar um soluço arrastado por conta do álcool que ainda tinha efeito sobre si.
-Pode me devolver o envelope Carlos?_ Pergunto de novo com uma certa rudez na voz. Ele me olha dessa vez com uma sobrancelha franzida.
-Aqui. E é senhor Jackssom.- Ele larga o envelope no chão de mal gosto com a voz arrastada. - ﹰMe traz um café e um copo de água garoto.- Ordena se sentando em uma cadeira perto da janela que eu estava limpando.
Ele parecia estar desligado do mundo. Pego o envelope do chão o guardando no meu bolso e olho para Suzie que trabalhava comigo, mas nova que eu e ainda estava na escola então só a via de tarde.
-Suzie ainda tem café?- Pergunto indo até o bebedouro com um copo de vidro para encher de água. Se pudesse envenenaria o homem com veneno de rato.
-Sim.- me responde bem rápido pegando uma xícara e enchendo de café. -Leite ?- Pergunta com a bochecha vermelha.
- não..- Digo a olhando, me aproximo e pego a xícara de café me aproximando do homem bêbado.
Deixo lá e volto para a sala dos funcionários. Assim que piso na sala meu celular toca.
Número desconhecido.
✅ .......... ❌Já sabia quem Era, atendo e vou até a porta verificar se tem alguém.
- Alô?- Digo.
-Eddie!-Ouço do outro lado da linha a voz de Marinna Porsch gritando. - Não porra coloca ali essa merda! Eddie, Argh, hoje o Lugar vai está bem movimentado. Você vem não?- Fala. Parecia falar uma hora comigo e outra com alguém. Gritava incansavelmente.
- Eu tenho turno a noite no trabalho.- Respondo me encostando na beira de um armário daquela sala imunda com mofo na parede e a tinta desbotada. Ouço um suspiro.
- Eddie ! Você sabe como aqui da gente esses dias. Estamos quase no final do ano, já é dezembro. Vai. Você quer.- Fala mas para um tom manipulador que suplicando. Começo a fitar o teto tentando pensar em algo. Ela já sabia por que eu queria tanto dinheiro em pouco tempo.
Decidi...
-Se acontecer algo hoje e eu for liberado, eu vou.- Digo baixo nada confiante. Ouço uma comemoração do outro lado da linha.
-Venha como sempre planejamos, hoje a noite vai ser boa. Poderia dar golpe em 4 de uma vez !- Fala exagerada batendo palma e dando risadas que eu acho maleficamente malucas e estranhas.
- não exagera garota.- Falo finalmente sentindo. Depois de estar ocupado o dia quase todo, eu sente dor nas costas, o cansaço, uma solidão querendo me tomar de novo.-Vou desligar, preciso falar com a Meives.- Digo sem dar tempo de ela dizer tchau.
Guardo o celular.
Argh...