- Não acredito! Eu conheço muito seu pai, é uma boa pessoa - Minha mãe estava empolgadíssima com a visita de Lis, ainda mais depois de descobrir que se tratava da filha de um amigo de longas datas. Nem sei se ainda eram amigos, afinal, ela nunca tinha nos apresentado e muito menos sabia que ele tinha tido outro relacionamento e um fruto disto. O mais engraçado é que elas se deram bem, tão bem que eu podia jurar que eram cúmplices e estavam fingindo se conhecerem pela primeira vez.
Depois que terminamos de tomar o café, voltamos para casa em passos arrastados, como se voltar para casa fosse um sinal do fim da nossa noite. Ela estava mais quieta, pensativa e fora de órbita. Mas ainda assim, entrelaçou nossas mãos e não a soltou até chegarmos à porta de casa. Lis era impressionante, conseguia me tirar da realidade como passos de mágica e truques especialistas.
Antigamente, no auge dos meus quatorze anos, ficava tentada em descobrir como as pessoas reagiriam quando me vissem andando e namorando com uma garota, porque ninguém, absolutamente ninguém que eu conhecia, parecia familiarizado com a ideia. Quando me mudei novamente, neste ponto, eu poderia viver tranquila. Eu poderia ser eu mesma, sem me preocupar com possíveis comentários de pessoas conhecidas, porque isso machucaria bem mais do que o mau olhado dos desconhecidos. Além do mais, eu já não me importo. E quando conheci Lis naquele dia na praça, ela me fez enxergar com ainda mais clareza, sendo totalmente direta e genuína.
- Ele é mesmo. Já que vocês se conhecem, porque nunca fomos apresentados? - Na lata, era a pergunta que rebatia na minha cabeça.
- Faz um tempo desde que conversamos, acho que ele nem lembra mais de mim - Ela abaixou os olhos e estalou os ossinhos do dedo sobre o próprio colo. De repente ela adornou uma caretinha melancólica e tudo se tornou mais suspeito. - Mas então, o que vocês queriam me perguntar?
- Eu fiz um convite para Ellie, mas antes precisamos da sua permissão.
- Se for uma viagem de última hora, podem tirar o cavalinho da chuva.
- Não, não é isso! Eu queria que a Ellie pudesse passar a noite na minha casa. Meu pai já está sabendo, então não se preocupe. - Ela sorriu sugestiva, querendo ser convincente.
No meio daquelas duas, eu mais parecia uma criança. Estava sentadinha ao lado delas apenas ouvindo a conversa, como se não fosse eu a protagonista dali.
- Pode, sim - Suas bochechas ficaram levemente avermelhadas e eu não gostei daquilo. Não tenho como provar minhas teorias em relação a ela, mas tenho quase certeza que ela pensou que iríamos fazer outras coisas além de tirar uma boa soneca. Essa velha, vou te contar. - Ah, deixe-me lhe mostrar umas fotos de Ellie... - Era aquelas fotos! Ela foi toda pimposa buscar o celular em cima do balcão da cozinha e eu aproveitei a deixa.
- Ótimo! - Olhei para Lis e sorrimos uma para outra - Vou arrumar minhas coisas, quer vim? - Ela assentiu e entramos no quarto pequeno. Comecei a arrumar minhas coisas na única mochila que eu tinha e tive ajuda de Lis na hora de escolher um pijama bonitinho para levar.
- Sua mãe é uma comédia, ela ficou toda desconfiada, né?
- Ela sempre é assim... sempre mesmo.
- Por que você não me deixou ver as fotos? Eu ia amar ver suas fotos de bebê! - Ela fez um biquinho.
- Não era minhas fotos de bebê... eram umas bem vergonhosas... - Fiquei toda sem jeito. Não achei que aquele discurso de mostrar as fotos fosse sério. - Aliás, obrigada por concordar vir para o quarto e só fazer as perguntas estando nós duas aqui. Sério, obrigada.
- Eu percebi que você ficou desconfortável, então não quis que ficasse chateada. Quero que tudo seja perfeito esta noite: quero passar horas conversando, quero começar um livro novo contigo e encher bem a barriga para irmos dormir como dois sapos. Eu sei que, talvez, acampar não fosse bem o que você esperava, né? Mas foi a primeira coisa que eu pensei, e daria certinho porque meu pai não estaria em casa. - Ela se levantou do colchão duro que estava sentada e ficamos ali, em pé no meio do quarto encarando uma a outra.
- Lis, foi o melhor convite que eu poderia ter! - Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ela resolveu acabar com ausência de nossas palavras:
- Ellie... essa vai ser a melhor noite da minha vida, sabia? - Ela veio andando em minha direção sem desconectar seus olhos dos meus, sem cautela alguma e, quando percebi, estávamos a poucos centímetros uma da outra. Meu coração acelerou como um relógio descontrolado, rodando seus ponteiros ainda mais rápido do que eles poderiam girar, cercado de batidas erradas. - Eu aposto isso!
- E-eu... também acho isso... - Ela passou seus braços por minha cintura, apertando-a com firmeza para, em seguida, distribuir selares fodidamente gostosos no meu pescoço. Senti que estava delirando, à beira - senão dentro - de um abismo sem volta. Era a primeira vez que alguém me tocava tão intimamente e foi tão bom, tão bom...
Minhas mãos foram ao encontro de seus cabelos, alisando-os, vendo o quanto seus fios eram macios e cheirosos. Nossos passos foram se tornando cada vez mais cambaleantes até que topamos da beirada da cama e caímos no colchão, trazendo o peso do seu corpo em cima do meu, entre minhas pernas, me fazendo delirar por sua boquinha estar tão próxima a minha.
Minha cabeça estava completamente voltada para ela, dando voltas como um pião e atenciosa tanto quanto se eu estivesse ouvindo sermões de um padre. Ela acariciou meu rosto de forma tão delicada que me senti valiosa, como se ela estivesse tomando cuidado para não me machucar. Busquei sua cintura fina e acariciei-a da mesma maneira, ouvindo-a arfar rente meu ouvido e sentindo os pelos do meu braço se arrepiarem como se eu tivesse encostado na televisão da sala - eu amo fazer isto. Como se toda minha sanidade já não estivesse sendo sugada, Lis gemeu no meu colo, passando uma perna em cada lado do meu corpo, me abraçando com suas coxas gostosas e sedutoras, com o tecido do short marcando-as. Eu não imaginaria que isto pudesse acontecer naquele momento, não achei que chegaríamos tão longe em poucas horas estando juntas, mas não era como se eu a negasse; estava passando de todos os meus limites, mas era incrivelmente bom.
- Amor, você tá indo tão bem... achei que fosse me empurrar quando tentasse fazer isso contigo - Ela deu dois selinhos seguidos em meus lábios e eu não poderia ter ficado mais feliz. Foi tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar, que eu poderia passar horas e horas relembrando do quão sua boquinha era macia e parecia perfeitamente feita para está colada na minha.
- Mesmo se eu quisesse, não conseguiria te negar. Você está me mostrando coisas que nunca senti antes, nunca mesmo. E... eu gostaria de aprender muito mais contigo...
- Achei que fosse tímida, hum? - Ela passou a língua naqueles fodidos brincos de bala, sendo minha vez de abrir a boca em deleite de suas provocações. - Estou vendo que me enganei, bela.
- Meninas! Vocês estão demorando tanto, vai ficar muito tarde para irem a pé. Andem logo! - Minha mãe deu o recado lá da cozinha, me fazendo respirar trezentas mil vezes por segundo por achar que ela tinha vindo até o quarto.
- Vamos terminar logo de arrumar tudo.
Terminei de organizar minhas coisas sendo observada com os olhos de gavião de Lis, daquele jeito que bem sabemos e que me deixa desnorteada. Meu corpo estava quente; minha cabeça estava dançando em pensamentos; eu estava mergulhada numa afrontosa atmosfera de tesão. Enquanto isso, a morena com quem eu estava lidando, parecia extremamente consciente, sorrindo carinhosa e me apressando para irmos andando antes que minha mãe voltasse a questionar nossa demora.
A matriarca da casa ainda tentou persuadir a menina, querendo mostrar as benditas fotos quando retornamos para sala, mas ela negou prontamente e eu me apaixonei mais ainda por ela. Pedi a benção a minha mãe antes de atravessar a porta à caminho da rua, e ela veio abençoar não só a mim como Lis também - que ficou comentando durante o caminho o quanto minha mãe era legal. Mereço?
Sobreviver esta noite vai ser quase impossível!
Notas do autor:
Trouxe mais um capítulo recém saído do forno para vcs. Sinto lhes informar que o próximo será o último, sim... é uma história curtinha e de final aberto. Mas vejam pelo lado bom, assim vcs podem ter uma visão de futuro delas a sua forma, não é? Bem, espero que tenham gostado e até a próxima, se cuidem!
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Balinhas de Goma & aqueles fodidos brincos!
Romance[concluída] |+16| [gl] Qual probabilidade Ellie tinha para encontrar um brinco no formato de seu doce favorito e, ainda no mesmo dia, encontrar a dona do seu achado? Definitivamente era um emanado de forças do universo para que pudesse se perder em...