O chamado

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  Na volta para casa o coração e estomago da Navi não a deixavam em paz,a inquietação a deixava preocupada mas mesmo assim tudo que ela fazia era por sua família e povo. Não era difícil imaginar a cara de sua irmã quando ela chegasse com Walak avisando que os Metkayina haviam aceitado o povo deles em suas pequenas áreas florestais.
-Não me faça te derrubar daí! A voz de Tanhi a fez fazer uma careta-Sua idiota!
-Você ainda não é a chefe dessa família- Rangal mostrou a lingua a ela e girou no ar para aterrizar.
  Quando Walak colocou as patas no chão os ultimos guerreiros e seu pai vieram com pressa em seus Palulukans, eles gritavam para sinalizar que não era nada demais apenas alguém da tribo. Quando desceu do Ikran o mesmo saiu voando sem esperar muito,já que odiava a presença dos predadores terrestres.
-Rangal!-O pai da garota rosnou saltando de Herwiva, a Palulukan de seu pai, era albina e por isso carregava esse nome.
-Onde você estava?-O mais velho perguntou.
-Eu fui até os Metkayina- Ela falou alto o suficiente para todos escutarem,sua irmã estava pousando com seu Ikran quando seu pai se aproximou com raiva.
-Onde está com a cabeça? Não somos um povo marinho! Nem podemos tentar nosso pelo não nos permite ficar muito abaixo da agua!-O velho segurou seu braço,agora seu olhar era preocupado.
-Tem uma parte de mata perto das raízes deles,podemos ficar ali até acharmos um local seguro-Ela puxou o braço do aperto-Podemos aprender com eles.
-Você desonra nossos ancestrais- Tanhi suspirou.
-Luto para que eles continuem vivendo em nós-Ela olhou em volta-estamos em perigo,nossos irmãos e irmãs vão nos ajudar—Eu já ia me casar com um deles,qual o problema deles ajudarem meu povo?
  O clima estava horrível e seu pai não poderia questioná-la pois revogar um pedido era vergonhoso demais,então a única saída era enfrentar isso de frente e reunir o povo para a viagem.

     Não demorou até grandes Ikrans estarem sobrevoando a morada do mar,assustando os outros animais dali até mesmo o ikran da mãe de Loak que sumiu por três dias e não atendeu o chamado da mesma por medo. Os Lahi eram um povo fechado e tinham poucos deles,Kiri havia contado dez mas Aonung insistia que eram doze.
-Dez mil mortos-A voz de Tsireya o tirou de seus devaneios,eles estavam observando de longe enquanto o povo se estabelecia na pouca mata que tinha da ilha.
-A dor deve ser inimaginável-O garoto suspirou e voltou a procurar com os olhos os cabelos pálidos da navi que esteve a pouco ali.
-Nossos irmãos sofrem muito por conta das trufas e do tamanho de seus Ikrans- Ela explicou.
-O que são trufas?
-São ovos,ovos de Kanu-Ela parecia perdida em seus pensamentos-os únicos que tem contato com esses seres são os Lahe.
-Achei que os Kanu eram só uma lenda-Ele se lembrou de sua avó contando algo sobre as penas de um Kanu,que elas tinham propriedades mágicas e que eles eram o espírito da própria Eywa,se você encontrasse um você estava sendo abençoado pela grande mãe.
-Na verdade a festa anual é para celebrar o ovo de Kanu,quando não tem nenhum celebramos apenas a vida,sempre quis que um desses aparecesse no festival…
   Loak estava muito interessado na conversa mas os cabelos brancos de alguém fez sua atenção virar de imediato, a garota de antes estava saindo de uma das cabanas,o garoto se levantou num subito assustando sua amiga que o olhou esbaforida.
-Loak!
-È ela!-Ele comentou observando ela ir ajudar alguns outros Lahes que faziam mais cabanas de couro.
-Ra’al-Tsireya comentou se levantando-filha mais nova do chefe do clã Maweypey,vê os cabelos brancos?-ela cochichou-é por causa da exposição a energia das trufas,elas fazem isso com cabelo dos Navi depois de muito tempo em contato…Dizem que pode até deixar você com alucinações,por isso nunca tocamos nos ovos.
    Loak achava lindo,era diferente e muito especial,mas ela não era a única com os cabelos assim,ele tinha observado mais uma pessoa alem dela. 
—Está interessado?—A garota o olhou de maneira estranha.
—Eu estou curioso—Admitiu.
—O que vocês estão fazendo?—Aonung os surpreendeu, Kiri estava com ele mas parecia só tê-lo seguido.
    A irmã de Loak olhava a menina de cabelos brancos vagamente,parecia também pensar em algo que ele não sabia ao certo do que se tratava,e quando ele reparou a garota estava vindo em sua direção,encarando Kiri de volta.
—Os Sully,assim que se chamam,certo?—Ela balançou os cabelos e sorriu—estão a muito parados ai?—ela notou Aonung e Tsireya,os comprimentou educadamente—irmãos.
—Ah sim nós…—Loak ia falar mas foi interrompido.
—Na verdade Rangal…—Aonung deu um passo corajoso a frente surpreendendo a todos—eu sou o garoto que você salvou a dois anos atrás.
—Ah! Que bom ver que não se meteu em mais furadas,tentar entrar num ninho Kanu? É muita bobagem—Ela sorriu docemente—Aonung é seu nome certo?
—Ah você se lembra…—Loak e Tsireya se entre olharam e riram quando o mais velho pareceu corar—sou eu.
—Me lembro,você mandou um presente pra mim ano passado,um pedido de casamento.
    Loak e todos ali estavam muito surpresos,a prateada por outro lado parecia muito tranquila sobre o que acabara de falar e Aonung parecia orgulhoso.
—Que bom que teremos a chance de nos conhecermos melhor,fiquei de te responder a carta.
—De fato.
—E então esse ano tem algum ovo?—Loak chamou a atenção dela para ele,o papo sobre casamento o deixou desconfortável.
—Vou saber hoje,nossa Kanuy esta doente e eu sou a proxima na linha,como podem perceber—ela mexeu nos cabelos—vai ser uma grande festa,so temos que manter os humanos longe.
   O dia passou lentamente já que o jovem queria saber tudo sobre a recém chegada,Tsireya estava estranha,falando pouco quase beirando a mudez.
—Tem uma menina que eu conheci—Loak comentou em sinais com seu Tulkun,Payakan.  A criatura o olhou curiosamente,e ele sabia que Tsireya tinha os olhos voltados para Loak a um tempo—Somos amigos,muito amigos—Ele riu respondendo sobre a Tsireya—essa menina,Rangal… Ela parece ser durona como a mamãe.

                                  [...]

   Os dias passarem rápido para Rangal já havia se tornado um hábito e a dor de cabeça se instalava cada dia mais e ela sabia que isso significava que um ovo seria entregue esse ano.
    Um som anasalado a fez olhar em volta,sua irmã do outro lado sinalizou,ela havia se esquecido que elas estavam caçando. O animal à frente delas estava bem distraído,ela acertou a posição e mirou nas entradas de ar,sua irmã mirou no macho maior e quase simultaneamente elas derrubaram os dois disparando o pequeno grupo que se alimentava.
—Sua cabeça esta aonde?—A mais velha perguntou quando se aproximaram—Rangal!
—No meu dever —Ela se abaixou e tirou a flecha do animal também,fez suas preces e amarrou-o para que elas pudessem transportar.
—A tempestade perto daqui sinaliza que o Kanu está agitado.
—Eu sinto uma terrível dor na cabeça—Ela comentou e logo depois chamou Walak que não demorou a chegar.
-Deveríamos caçar mais um?—Sua irmã olhou os animais .
—Não,é perigoso ficarmos aqui.
   Como um mal pressagio a chuva começou,Rangal sentiu seu corpo ficando sensível e cada gota que tocava seu corpo era como um tambor batendo em seus ouvidos,ela caiu no chão ofegante.
—Rangal!—Sua irmã a amparou—Ran…
  Uma enorme sombra cobriu as duas e as gotas cessaram,Ronal ouviu o chamado da criatura e notou sua irmã com a cabeça baixa. Tudo deveria ser mágico e incrível,mas era um tanto doloroso.
   A criatura chamou mais uma vez e Ronal balançou se levantando e olhando para ela,era incrível como ela não se acostumava com a presença do Kanu,mesmo depois que seus cabelos começaram a embranquecer e ela viu pela primeira vez,e seguiu vendo todos os anos.
   Era um ser alado bem grande,do tamanho de um Toruk,com asas alargadas como uma canoa,era todo branco exceto por suas manchas azuladas nos olhos, barriga e costas,o rabo afinava num esporão o qual ela já tinha visto em ação,essa região era usada para a caça.
—Deve ir buscar os ovos se ele te levar—Sua irmã sussurrou.
—A caça…
—Não importa apenas vá!
Ronal chamou seu Walak mas ele não apareceu como esperado,entao ela esperou a criatura descer e pega-la,quando subiu ela sentiu a conexão imediata,seu corpo vibrando e seus pontos brilhantes piscando com a energia compartilhada. Ao fazer a ligação a intenção do Kanu invadiu sua mente,ela se sentia calma agora.
    Ele bateu as asas e sumiu com ela para as nuvens,ela se virou e Walak os seguia de uma distancia segura,ele sabia que poderia ir ate certo ponto e esperaria ela la.
—Então você conseguiu—Rangal acariciou a criatura—eu sinto muito que eu tenha evitado esse dia…
   A ligação trouxe uma nova onda de sensação,e ela pode sentir que estava tudo bem agora,incrivelmente o Kanu se comunicava de forma clara e ela nunca entendeu essa conexão de alma.
    Não demorou ate ela ver as enormes montanhas e ver os raios caindo ao lado deles,afinal os Kanu controlavam esses raios e ate mesmo as marés,suas antenas azuis nas costas eram canalizadores. No topo da montanha ela saltou desfazendo a ligação,e o ninho gigante descansava com três ovos dentro dele.
  —Três? Isso nunca aconteceu…
  Ela os tocou com cuidado,mesmo a criatura sendo grande seus ovos eram de um tamanho que era fácil ela levar mas três seria um perigo—não bastasse manter os humanos longe de um,agora tem que ficar cuidando de três—ela reclamaou e o Kanu a olhou fixamente—não me olha assim…

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