Rainy day (1/?)

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O clima estava nublado, provavelmente iria chover. Então, eu larguei a minha caneta preta em cima da mesa e pausei a música que estava ouvindo. Eu costumava ficar extremamente distraído quando estava escrevendo, então eu me levantei e me espreguiçei, pegando meu celular e vendo que já eram 6 da manhã. Eu fiquei escrevendo por tanto tempo que nem me dei conta de que tinha virado a noite. Suspirei, pegando meu sobretudo preto atrás da porta. Coloquei meus sapatos e um moletom vermelho, vestindo meu sobretudo por cima. Também coloquei meus fones de ouvido, clicando em qualquer música calma. E então, "Space boy - Beach house" começa a tocar. 

Saí de casa, relaxando e curtindo a vibe da música. Tirei um cigarro do bolso e acendi, começando a fumar no meio do caminho, e após alguns minutos, eu chego no parque. E estranhamente, vejo um homem sentado no banco, parecia ter a minha idade. Ele também se parecia comigo em questão de vestimenta, mas ao invés de um moletom vermelho, era um azul. Pausei a música e abaixei os fones de ouvido, me aproximando dele.

- Olá, senhor solitário. - Soltei uma leve risada, fazendo ele sair de seus pensamentos. Ao encará-lo, percebi que seus olhos eram apenas um vazio negro, mas ainda sim ele parecia me enxergar.

- Quem é você? - Ele disse confuso.

- Eu sou a morte, e eu vim aqui te buscar. - Brinquei.

- A morte não é tão bonita assim. - 

- E você já a viu? -

- Não pessoalmente, mas já pensei. - Ele olhou pra baixo, suspirando. Eu coloquei o cigarro na boca, me sentando no banco e soltando a fumaça pro ar.

- O que te trás aqui a essa hora, senhor solitário? -

- Você não é íntimo meu pra saber da minha vida. -

- Eu sei. Mas pense bem, quando será que vamos nos ver novamente? Eu posso viajar daqui alguns dias, e serei apenas uma memória na sua mente vazia. - Ele pareceu inquieto por alguns segundos.

- Eu não sei se quero falar sobre. Me diz você primeiro, o que trás você aqui, senhor "morte"? -

- Eu virei a noite sem querer, e está um clima particularmente bom pra fumar. E você? - Eu digo, com meu sotaque aparente na fala.

Ele suspirou antes de começar a falar. - ...A minha vida tá uma droga, sinceramente. Eu tenho 24 anos, e eu ainda moro com meus pais. Eu tô tentando fazer qualquer merda pra conseguir um emprego, eu tô até sinceramente pensando em me expor na internet pra isso. E depois que eu conseguir, provavelmente vou passar o dia trancado num apartamento, enchendo o cu de bebida alcólica, e eu vou me sentir tão merda que não vou levantar nem pra tomar banho, e vou viver o resto da minha vida sabendo que não fiz porra nenhuma. - Assim que ele terminou de falar, eu apaguei meu cigarro e joguei no chão, o abraçando.

-...Que porra você tá fazendo?! - 

- Eu estou te abraçando. -

- Um abraço não vai resolver meus problemas. -

- Eu sei que não, é que... você só precisa. - Eu vi lágrimas se formarem em seus "olhos", e ele se virou e retribuiu o abraço, começando a chorar.

-  Ei, calma. Coloca tudo pra fora, eu sei que você precisa.

E então, ele continuou me abraçando e molhando meu sobretudo com suas lágrimas. O garoto não parou por pelo menos uma hora inteira, e sempre que eu pensava que ele ia parar, ele voltava a chorar. Até que começou a chover, eu até ia sair mas ele continuou lá e me pediu pra ficar. Então, lá estavamos nós. Dois homens adultos, se abraçando no banco de um parque, que deveria ser ensolarado e feliz. Mas nós dois sabíamos que o clima era bem melancólico.

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