O Chefe

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Observo a pequena criatura que suga meu seio avidamente.

Ela tem mãos tão pequenas, cabelos escuros, mas bem espessos, os dedinhos avermelhados tocam meu seio enquanto a boquinha suga meio seio, seus olhos são castanhos e ela tem um nariz pequenininho e achatado.

Sorrio mais uma vez em lembrar do apuro que passamos ontem, mas estou bem mais aliviada de saber que ela está bem. Escolhi um nome ontem mesmo assim que demos entrada no hospital, foi tudo tão rápido que ainda estou levando u tempinho para processar.

Quer dizer, o parto estava previsto para daqui há quatro semanas, bem, Helena nasceu com 3,500kg e 45 cm, parece pequena e indefesa, mas é bem grande para um bebê de trinta e três semanas. Ela é forte e tão linda, realmente estou encantada com a minha pequenina.

Não pensei que ser mãe seria assim, também não esperava por um presente de Natal desses, mas enfim, meu primeiro Natal de muitos com a minha filha, não poderia reclamar, estou tão feliz de poder segurá-la.

— Boa tarde.

Bem, isso realmente não era algo que eu poderia esperar.

Vejo Guilhermo Vieira entrando no quarto onde estou com Helena, achei que ele havia viajado de todas as formas, ontem depois que ele e o João Paulo me deixaram aqui não o vi mais. Em minha cabeça imaginei que de alguma forma ele ficaria bravo demais e que a viajem o ajudaria a se acalmar.

Quer dizer, fiquei grávida e não contei ao meu chefe, como eu esperaria que fosse diferente? Ele é um homem calmo, mas sei que tem dificuldade em lidar com negativas e que principalmente é do tipo que odeia mentiras.

Então deveria embarcar ontem as 21:45 no primeiro voo pra Orlando, à essas horas ele já deveria estar lá aproveitando o Natal com os amigos dele, celebrando a véspera do Natal.

— Boa tarde.

Eu não sei o que falar e de fato, não sei se poderia dizer qualquer coisa que de alguma forma mudasse o que ele pensa sobre mim. Escolhi omitir a gravidez do Guilhermo porque sabia que ele reagiria negativamente e porque mulheres grávidas para uma empresa são de certa forma vistas como um peso.

Sei disso, presenciei diversas vezes algumas meninas de alguma forma sendo questionadas sobre atestados ou afastamentos na empresa no decorrer desses anos na XX Construtora.

É uma conduta tóxica que eu até já encaminhei para a ouvidora, porém sem muitos progressos, alguns casos inclusive ficam em análise e nunca saem disso. A verdade é que ninguém vai parar para se importar o suficiente com uma mulher, tão pouco uma mulher grávida.

— Como você se sente? — Guilhermo pergunta estendendo as flores.

— Bem — sorrio e pego o buquê bem surpresa.

Acho que de todas e quaisquer pessoas que eu poderia imaginar que viriam, Guilhermo seria o último.

— E ela?

— Também, achei que o senhor havia viajado.

Deixo as flores num canto na cama, felizmente como sou beneficiária do convênio médico da empresa tive direito a vir para um hospital particular, não fica muito longe da empresa, foi para onde o João Paulo orientou que os bombeiros nos trouxessem após os primeiros atendimentos dos bombeiros.

Ainda nem sei como poderia agradecer a ele, ele me ajudou com o parto, chamou os bombeiros e me ajudou a sair do elevador com Helena, me acompanhou até aqui e depois voltou com uma malinha dela com roupinhas e minha bolsa com as chaves do meu apartamento e tudo mais.

Garota Feia - CONTO - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora