— Eu me ofereci, não se preocupe — João Paulo coloca a bolsa em cima do sofá e depois vem e mostra os balões em formato de bonequinhas.
— Obrigada, não precisava — digo e acomodo Helena entre meus seios.
A seguro como se segurasse um pacote de feijão, nada que faça constantemente, fora algumas colegas de trabalho que tiveram filhos nesses anos nunca tive que segurar um bebê com menos de três meses de nascido.
João Paulo vai até o banheiro e sei que ele lava as mãos, Guilhermo fica me encarando como se de alguma forma ainda estivesse tão zangado comigo que não sei explicar. Olho para a minha pequena joia e a beijo na cabeça, ela cheira tão bem, ela se encolhe e faz bico de choro, pego a manta e jogo sob ela acomodando-a da melhor forma.
Sei que ela precisa arrotar agora.
— Eu não sabia que você fazia partos, João — Guilhermo fala assim que João Paulo sai do banheiro.
— Eu fiz quatro períodos de medicina antes de migrar para arquitetura, aprendi algumas lições — João explica. — E tenho quatro irmãs, deve imaginar o quanto isso é recorrente lá em casa.
Eu também não sabia disso, não tenho muito contato com o João Paulo, na maioria das vezes nos vemos nos corredores ou em reuniões, mas nada além disso, não pensei que ele sabia como realizar um parto ou primeiros socorros.
— Não sei mais como agradecer — revelo sincera.
— É o mínimo, Katarina — ele sorri e fica ao lado esquerdo da cama. — Ela está bem?
— Ela dormiu a noite toda, ficou em observação na neonatal, mas está ótima, a médica examinou ela e disse que apesar de ter nascido algumas semanas antes ela é saudável.
— Fico feliz que tenha dado tudo certo, pensei em mandar uma selfie para mamãe de nós três, ela ainda não acredita que te auxiliei no parto, seria pedir demais?
— Talvez a menina ainda seja nova demais para tirar fotos — Guilhermo replica de imediato. — E a Katarina tem que descansar.
Que? Nada a ver.
— Não tem problema, João, podemos tirar sim — respondo e sorrio. — É o mínimo que posso fazer para agradecer.
Não entendo essa reação dele, porém não dou a mínima.
— Obrigado, se não for incomodo é claro.
— E não é, vem.
Acomodo Helena no meu braço meio de lado e me inclino para o lado dele, João se abaixa e se senta na cama ao meu lado, ele ergue o Iphone para cima e aponta para nós três, dou meu melhor sorriso para a câmera e ele tira a foto.
Nesse momento Helena solta uma arrotinho baixo, me faz sorrir ainda mais, ela relaxa em meu braço junta as mãos no rostinho. João fica de pé e depois sorri olhando para a foto.
— Você não tinha que ir passar o Natal com seus pais, não? — Guilhermo questiona. — Assumo daqui.
— Claro, deixei meu número na sua bolsa, Katarina, qualquer coisa pode me chamar, ok?
— Sim, muito obrigada João, não sei mais como agradecer, é sério, obrigada, a Helena e eu somos gratas pela sua ajuda e carinho.
— Imagina — ele fica sorrindo todo sem graça e depois vai se afastando. — Nos falamos depois, tchau Gui, cuida bem delas duas.
— Pode ficar tranquilo — Guilhermo diz bem incisivo.
João se afasta e depois sai do quarto acenando, olho para meu patrão enquanto meu sorriso desaparece.
— O que o senhor está fazendo?
— Estou cuidando para que repouse, com pessoas aqui te perturbando não vai acontecer.
Acredito pouco nisso, mas não quero discutir.
— Sei.
Respiro fundo e olho em volta, preciso do meu primeiro banho do dia e de tomar café, ainda não consegui fazer nada disso, ontem eu consegui tomar banho sozinha e me senti grata porque além de um pequeno incomodo nas partes íntimas, estava andando sozinha, fiz xixi, a enfermeira disse que se eu estiver bem amanhã já ganharei alta e Helena também.
— Do que precisa?
— Você está falando mesmo sério ou só vai ficar para me perturbar?
— Eu quero que você saiba que não sou esse monstro que você pensa que eu sou, estou ao seu lado e vou te apoiar integralmente — garante ele com muita calma agora. — Só me assustei com tudo e foi bem rápido, não é mesmo?
Isso é verdade, não esperava que fosse um parto assim, estava tudo organizado para um parto daqui há algumas semanas longe de um elevador ou algo do tipo.
— Precisa de algo?
— Sim, tenho que tomar banho e me trocar, vou colocar ela no carrinho, você olha ela enquanto eu estiver no banho?
— Posso olhar, ela não tem chupeta?
— Tem uma dentro da bolsa dela, está ali no armário.
Talvez esse seja um dos maiores confortos que eu já tive na vida, ter uma suíte só minha com direito a banheiro, armário e refeições bem caprichadas. Puxo o carrinho e arrumo o pequeno travesseiro, me estico e a coloco de lado lá, ela se estica e faz cara de choro, olhinhos fechados.
— A mamãe está aqui querida — digo e a cubro com a manta.
— Vou lavar as mãos — Guilhermo diz indo até o banheiro.
— Ela fica quietinha, eu não demoro.
Saio da cama e tomo cuidado enquanto arrumo Helena no carrinho, ela se agita e começa a dar pequenos resmungos, vou até o armário e pego a bolsa dela, pego a chupeta cor de rosa dentro da caixinha e depois vou até ela. Por sorte já deixei bem higienizada. Retiro da caixinha e depois enfio a chupeta na boca dela, ela cospe e se agita e começa a choramingar baixinho.
— Está tudo bem meu amor — falo para ela. — Eu te amo tanto meu amor, não chora.
Helena ouve a minha voz e faz bico de choro e isso me faz sorrir, mas também me faz sentir meio dolorosa, Guilhermo volta do banheiro com as mangas da camisa dobradas, indico o sofá.
— Eu não vou demorar mais que cinco minutos.
— Fique tranquila, já fiz isso mais vezes do que pensa.
Ele puxa a manta e pega Helena no colo com um jeito bem cuidadoso e tranquilo, a coloca apoiada em seu peito e pega a manta, joga por cima dela e depois vai para o sofá todo tranquilo.
Isso realmente me deixa um pouco chocada.
Pego minha bolsa e caminho para o banheiro, assim aérea e curiosa.
Para alguém que não gosta de crianças ele está indo bem rápido até demais.
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Garota Feia - CONTO - DEGUSTAÇÃO
NouvellesKatarina Costa trabalha para um gigante na área da construção, ela se vê numa situação complexa ao ter sido abandonada grávida depois de um relacionamento de cerca de quinze anos. Logo no momento em que ela mais precisou o ex a abandonou. Agora ela...