Flashback pt. 2

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No pequeno sofá ao canto do quarto foi onde eles se permitiram ficar, observando a pequena menina que ainda dormia. O silêncio parecia deixá-los mais ansiosos e preocupados com a situação.

— Sabe de uma coisa? — Steve deu um brave risada silenciosa — Ela se parece com você

— Quê? — Natasha sabia que Steve ia aprontar alguma, ele passava tempo de mais com Clint para o gosto dela. Em vez de falar qualquer coisa, apenas permaneceu olhando fixo para o loiro.

— Ela é pequena — ele apertou ela mais forte em seu abraço — assim como você.

— Você não pode estar falando sério — Natasha tentava, não tentando, se afastar do abraço de Steve, que segurava ela mais forte e começa a rir da reação da ruiva.

— Estou sim, mas, além disso... — Ele pressionou um beijo na fronte dela — Ela me lembra de você, os olhos e o jeitinho.

— Nós mal tivemos contato com ela, como você pode falar isso? — Natasha perguntou

— Queria poder te responder isso de uma maneira melhor, mas não sei te dizer, mas o jeitinho dela é parecido com o seu.

Natasha ia responder quando percebeu que a menina começara a se mexer na cama, antes que pudesse se levantar, o som do choro invadiu o quarto. Em um piscar de olhos, Natasha já estava ao lado da cama, pegando a pequena menina no colo e a acalmando.

— Vse v poryadke, ty s nami (Esta tudo bem, você esta com a gente) — Natasha dizia enquanto pegava a menina no colo — Eta malen'kaya devochka khochet byt' balerinoy. On ne znayet ni zhalosti, ni reversa, no umeyet stoyat' na tsypochkakh. On ne znayet ni mi, ni fa, no naklonyayet svoye telo to tuda, to syuda. On ne znayet ni tam, ni sam, no zakryvayet glaza i ulybayetsya. (Esta menina, tão pequenina, quer ser bailarina. Não conhece nem dó, nem ré, mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi, nem fá, mas inclina o corpo para cá e para lá. Não conhece nem lá, nem si, mas fecha os olhos e sorri.) -— Natasha dizia suavemente enquanto se movia de um lado para outro com a menina que lentamente se acalmava.

Steve ainda estava próximo ao sofá, mas agora em pé, observando a cena a sua frente. Percebeu que Natasha estava dando conta da situação, e decidiu que seria melhor manter a distância, e não assustar mais a menina.

- Ona krutitsya, krutitsya, krutitsya, yeye malen'kiye ruki v vozdukhe, i u neye ne kruzhitsya golova i ona ne dvigayetsya. Ona nadevayet na volosy zvezdu i fatu i govorit, chto ona upala s neba... (Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar, e não fica tonta nem sai do lugar. Põe no cabelo uma estrela e um véu, e diz que caiu do céu.)

— Eta malen'kaya devochka khochet byt' balerinoy. No potom on zabyvayet vse tantsy i tozhe khochet spat', kak drugiye deti. (Esta menina, tão pequenina, quer ser bailarina. Mas depois esquece todas as danças, e também quer dormir como as outras crianças.)

A voz suave da garota em seus braços finalizou o poema que Natasha havia começado, fazendo com que a ruiva se olhasse para Steve, e desse um breve sorriso.

— Você entende o que eu falo? — Natasha perguntou suavemente — Posso sentar com você no sofá?

— Da — A garota respondeu a primeira pergunta, mas excitou com receio de responder à segunda quando viu o homem parado ao lado do sofá. Natasha percebeu a reação da garota.

— Você não se lembra dele? — A menina negou com a cabeça — É o Steve, ele te carregou até o avião.

— Ele é legal — Ela respondeu se lembrando dele — E forte.

— Sim, ele é legal e forte — Natasha disse com um sorriso no rosto, antes de deixar um beijo rápido na cabeça da menina e ir em direção ao sofá.

Ao se aproximar de Steve, conseguia ver um leve sorriso no rosto do namorado, sabia que o beijo na pequena não tinha passado batido do olhar dele. Mesmo após a ruiva se sentar no sofá, Steve permanecia em pé ao lado.

— Ele não vai sentar com a gente? — A garotinha perguntou

— Ele vai sim — Natasha respondeu olhando para Steve, que entendeu o recado, e se sentou ao lado da namorada, passando rapidamente o braço pelos ombros da mesma.

Aquele momento, se visto por alguém de fora, seria facilmente confundida com uma família cuidando de sua filha doente, mas não era a realidade. Ali estavam dois agentes, e uma pequena garota que haviam "resgatado", ambos extremamente apegados, porém inseguros e confusos demais para assumirem isso para outros.

Os olhos da pequena garota se fixaram na placa metálica presas no pescoço de Natasha por uma fina corrente, sem ter medo de ser repreendida, levou as mãos até o curioso objeto.

— O que é isso? — Perguntou curiosa, enquanto apontava

— Isso é uma dog tag — Natasha disse, as tirando de dentro da camiseta

— E servem para quê? — Agora ela parecia uma criança da sua idade, curiosa com qualquer coisa e fazendo mil perguntas.

— Acho que o Capitão aqui pode te responder melhor do que eu, pequena — Natasha disse enquanto tirava a corrente do pescoço e entrega para a garotinha

— São placas de identificação militar — Steve começou a explicar — Aqui tem nosso nome e nosso tipo de sangue — Ele apontava com o dedo para a dog tag, claro que ali haviam mais informações, mas nada que mudaria a vida da pequena

— Steee...ve — A garota leu com certa dificuldade, não porque não sabia ler, mas sim porque as letras na placa já estavam gastas — Mas se identificam quem você é, por que não estão com o nome da Natasha?

— Foi um presente do Steve para mim — Natasha respondeu rindo da ingenuidade da pequena. Essa ingenuidade dava sinais do porquê havia sido deixada para trás pelo red room. — Sabe uma coisa que eu percebi?

— O quê? — Em tão pouco tempo ela já se sentia confortável com eles.

— Você sabe o nosso nome, mas a gente não sabe o seu — Natasha disse cutucando a barriga dela, que sorria

— Eles me chamavam de Zoya — Ela respondeu tímida

— É russo? — Steve perguntou

— Sim, significa vida — Natasha respondeu

— Eu não gosto dele — Zoya respondeu sincera — Me lembra das pessoas que me machucavam.

— Acho que a gente pode te encontrar outro nome depois, que tal? — Natasha perguntou, tentando trazer novamente um sorriso ao rosto da pequena.

— O Steve vai ajudar? — Natasha concordou com a cabeça — Eba.

O casal abriu um sorriso com a empolgação voltando ao rosto da garota, que agora eles sabiam que se chamava Zoya. Se dependesse deles, permaneceriam ali por mais tempo, mas precisavam que ela fosse examinada. Steve preferiu ir chamar a médica do que estragar o momento entre elas. Enquanto Steve estava fora, Natasha aproveitou para perguntar se Zoya sabia o porquê havia sido deixada para trás, a menina foi sincera em dizer que eles falavam que mesmo com ela aprendendo rápido, ela não servia para eles. Antes que pudesse começar pensar em outros motivos para eles terem deixado a menina para trás, Steve entrou no quarto, acompanhado de Cho.




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Um poema russo da grande escritora, Cecília Meireles.

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