babushka

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— Oi querida, faz tempo que não ouço a sua voz — Melina dizia suavemente para a tela do computador — malen'kiy pauk (aranhinha) você está mais loira. 

— Oi, babushka (vovó) — A mão foi automaticamente parar em seus cabelos quando eles foram citados — Decidi clarear um pouco, papai não ficou muito feliz, mas eu gostei. Ficou bom?

— O seu pai é de outra época, e ele sempre foi apaixonado pelo seu cabelo natural. — Melina disse — Particularmente amei, combinou com você, está linda malen'kiy pauk (aranhinha). Você não me ligou para falar sobre o seu cabelo, o que aconteceu.

— Sarah perguntou sobre a mamãe, e eu contei. 

Liz quase não tinha segredos com Melina, a avó era quase o seu diário ambulante. Mesmo com toda a distância, era para a mais velha que ela corria quando precisava conversar,  principalmente se o assunto envolvesse a mãe, e hoje não seria diferente. Precisava desabafar com alguém, e sabia que Melina seria a pessoa perfeita.

— O que aconteceu? — Melina deu um gole no chá que tomava e deu toda a sua atenção a sua neta.

— Ela viu as cartas que o papai manda, estavam na cama dele, não sei se cartas que ele ainda não enviou, cópias, ou se a mamãe manda de volta... 

— Liz, não tente entender algumas coisas que envolve sua mãe, o passado dela como Viúva Negra já diz muito. Natasha faz muitas coisas para despistar, para camuflar, ou simplesmente por hábito. Essas cartas não devem chegar diretamente para ela, alguém deve interceptar essas cartas, podem ser cópias, podem ser as originais. Vamos voltar ao que é importante.

Liz sabia que a avó era direta, ela sempre tinha sido — Eu também acho que alguém recebe as cartas para ela, mas voltando, chegaram algumas cartas para o papai hoje, algumas eram das que ele envia para mamãe e outras aleatórias, eu pedi para Sarah colocar no quarto dele, enquanto eu fazia o almoço, ela curiosa do jeito que é, viu que tinha umas cartas abertas na escrivaninha dele e decidiu ler. — Liz continuando contando o que havia acontecendo recentemente.

Melina ouvia atentamente o que a Liz contava, sabia que isso aconteceria cedo ou tarde, dessa maneira ou de outra. Não se espantava que Sarah havia fuçado as coisas do pai, a menina tinha uma curiosidade maior que ela. Melina podia ter milhares de coisas para fazer, mas naquele momento, ficaria todo o tempo necessário ouvindo a neta, sabia o quanto a menina necessitava de alguém com quem pudesse conversar. 

E ali ela ficou, ouvindo a neta contar sobre a irmã, descobrindo sobre a mãe, sobre o medo que estava da irmã, pesquisar sobre a mãe e ver as coisas negativas que falavam sobre ela. Diferente de Liz, a caçula de Natasha não tinha memórias sobre a mãe, e era sensível como o pai, qualquer coisa negativa sobre a mãe a deixaria abalada. Aconselhou a neta a continuar conversando com Sarah sobre a mãe, e para tomar cuidado com a curiosidade excessiva da pequena. 

— Você é filha da sua mãe, sei que quando desligar essa ligação vai hackear a rede e proibir pesquisas no computador da Sarah — Melina disse, mas ao ver a reação da neta, sorriu — Você já fez isso, malen'kiy pauk (aranhinha) 

— Faz alguns dias, a Hill comentou alguma coisa sobre a Sarinha ser muito curiosa para o bem dela, e disse que faria isso, eu disse que não precisava, eu faria — Liz disse sorrindo

— Olha só, estou orgulhosa de você

— Babushka, a maioria das avós não ficaria orgulhosos da neta saber hackear

— E eu não sou a maioria das avós

Subitamente o olhar de Liz se fixou em algo além da tela do computador e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Malen'kiy? (Pequena?)

— YA skuchayu po ney, mne by khotelos', chtoby ona byla zdes', chtoby pogovorit', pomoch' mne s domashnim zadaniyem, posmeyat'sya s Saroy, pozhalovat'sya na papu. (Eu sinto falta dela, queria que ela estivesse aqui para conversar, para me ajudar com a lição de casa, para rir com a Sarah, para reclamar do papai.) — Ela poderia ser forte como mãe quando quisesse, mas era sentimental como o pai — Ona vytirala moi slezy i govorila, chto vdovy ne plachut. (Ela secaria minhas lágrimas e falaria que viúvas não choram)

— Lyubov' moya, mne zhal', chto tebe prishlos' proyti cherez eto. Yesli by ya mog, ya by poshel za tvoyey mater'yu i popytalsya yey pomoch'. (Meu amor, eu sinto muito que você tem que passar por isso, se eu pudesse já teria ido atrás da sua mãe e tentaria ajudá-la.) — Melina se sentia mal em não poder ajudar, mas era quase impossível localizar Natasha, quando ela não queria ser localizada — Vdovy plachut, ne vedites' na etu lozh'. (Viúvas choram sim, não se prenda a essa mentira.)

— Mama nauchila menya, chto vdovy plachut, no eta fraza vsegda byla nashey. (Mamãe me ensinou que viúvas choram, sim, mas essa frase sempre foi algo nosso.) — Liz disse com um sorriso, lembrando de todas sa vezes que a mãe havia lhe dito que viúvas choravam sim — YA rasskazal yey, kogda ona menya spasla. (Eu disse para ela quando ela me resgatou.) 

- Khorosho, chto u tebya yeshche yest' chto-to, chto svyazyvayet tebya s mamoy, nikogda ne teryay etogo, inache ya pridu i pob'yu tebya. (Que bom que você ainda tem coisas que te ligam a sua mãe, jamais perca isso, ou irei até aí te bater) - Melina fez com que Liz gargalhasse - Postupay, kak tvoy otets, lyubov' moya, otprav' pis'mo svoyey materi, izley svoyu dushu, rasskazhi yey vse, cherez chto tebe prishlos' proyti, i vse, chto yey nuzhno znat'. YA znayu, chto my ne znayem, poluchit li ona pis'ma na samom dele, no yesli da, to ona vas vyslushayet. (Faça como o seu pai, meu amor, envie uma carta para sua mãe, derrame o seu coração, conte tudo o que tem passado e tudo o que ela precisa saber. Eu sei que não sabemos se ela realmente recebe as cartas, mas se ela recebe, ela estará te ouvindo.)

— Farei isso, obrigada por meu ouvi babushka (vovó) — Liz disse limpando suas lágrimas 

— YA lyublyu tebya, malen'kiy pauk. (Eu te amo, aranhinha) — Melina havia aprendindo a demonstrar os sentimentos com as netas — Me ligue sempre que queira conversar.

Uma linha segura de Melina começou a tocar, o que chamou a atenção de ambas, principalmente de Melina, já que era uma linha segura muito específica. 

— Queria poder falar mais com você, mas preciso atender — Melina sorriu para a neta, logo desligando a ligação e indo atender o outro telefone

— Melina... claro, venham. Estarei esperando por vocês

em algum lugar do mundo

— Natasha, tudo pronto, já avisei a Melina, vamos? — Yelena comunicou a irmã, colocando o celular de volta no bolso

— Vamos... — Natasha disse respirando fundo




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