Capítulo 02

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𝔑𝔢𝔦𝔩

Meu pai não me ouvira chamá-lo.

Ele estava acordado, encarando o notebook sob o seu colo, não me notando. Seus dedos faziam um batuque irritante no teclado. Mas nada do que eu fizesse iria desperta-lo daquele transe incessante.

Minhas mãos ainda tremiam bastante pelo susto que levei ao sonhar com o desespero. Não de maneira encarnada, mas algo que me fizera ter medo. Não havia cor e muito menos forma. Era simplesmente um sentimento tão avassalador que tal lembrança soava como o presente.

Olhando para o seu quarto quase completamente apagado, coloquei a cabeça para dentro me dando por vencido. Ele não iria me levar de volta a cama e me abraçar até que eu dormisse. Eu teria que caminhar até ele.

Ele estava sozinho como sempre, não tendo a companhia de Audrey, eles dormiam em quartos separados diferente do vovô e da vovó. Benjamin era uma pessoa solitária que agia como se fosse descompromissado e não tivesse que ser um marido para uma tremenda megera. Eu acharia estranho tal comportamento se não estivesse meramente agradecido.

Caminhei calmamente até a sua cama, fazendo-o finalmente me notar, levando as mãos ao peito e respirando mais profundamente.

- Neil! - Sussurrou o meu nome de forma esganiçada - Você me assustou!.

- Desculpa pai - Subi na cama, olhando calmamente para o seu computador antes que ele o fechasse rapidamente, como se ver aquilo fosse me matar.

- O que aconteceu? - Perguntou largando-o retirando o fone de ouvido.

- Tive um pesadelo.

- Quer me contar? - Sua pergunta fora sútil e ele a fazia conforme puxava o edredom ao seu lado, me cobrindo calmamente.

- Eu não sonhei com algo - Suspirei agarrando-me a coberta enquanto me deitava sob o travesseiro - Era um sentimento de angústia.

Meu pai me olhou confuso tentando compreender as minhas palavras. Apenas o que eu lhe disse não o faria chegar a alguma conclusão.

- Você está com medo - Ele olhava nos meus olhos provavelmente notando. Senti quando ele me encostou em seu peito, fazendo-me sentir o seu coração bater tranquilamente - Não pense nisso, filho.

Fechei os olhos ao sentir sua mão acariciar a minha cabeça. Algo que provavelmente me traria sono.

- Era angustiante não saber o que me causava aquele sentimento.

- Você sentiu medo por que o desconhece. Mas isso tudo não é real, foi apenas um pesadelo - Assenti sentindo a sonolência me atingir.

- Boa noite, pai - Sussurrei não mais lembrando do motivo de estar ali. O cafuné em meus cabelos não me deixava raciocinar.

- Boa noite, filho - Senti um beijo em minha testa antes de apagar completamente. Me perdendo na escuridão onde aquele sentimento de angústia não mais me alcançava. Mas não pude deixar de sonhar com o que havia visto em seu computador.

O sorriso dela jamais iria sair da minha mente, principalmente o seu olhar marcante e feliz. Eu gostaria de ouvir a sua voz naquele fone.

.....

Senti o peso da claridade em meus olhos me cegar voltando a fecha-los rapidamente, levando as mãos para puxar o edredom por toda a minha cabeça. Estava com sono demais para me levantar, mas a minha vó parecia empenhada em me acordar principalmente quando o tirou com tudo de meu rosto.

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