7. O quadrúpede rockstar

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Subi rapidamente as escadas até o segundo andar, onde a maioria das eletivas aconteciam e se eu me descuidasse poderia acabar dando de cara com Brian e tudo o que eu mais queria era evitar aquele encontro maligno. Como eu já esperava, assim como nas eletivas de inglês e teatro, na de fotografia os alunos também estavam mesclados e anos e turmas a faziam juntas. Não reconheci ninguém a princípio, cheguei a pensar que ficaria sozinho naquela aula e antes fosse. Instantes depois todos tomaram seus lugares e o professor chegou.

– Boa tarde a todos! – Ele aparentava ter uns trinta e poucos anos, era alto, parecia frequentar academia. Usava uma camisa xadrez amarela de flanela com as mangas erguidas, revelando tatuagens em um de seus braços. Vestia calça preta ajustada e sapatos marrons. Seu cabelo era curto e moderno, a cor escura contrastava com sua pele clara, mas não ofuscava seus olhos verdes que chamavam certa atenção por detrás daqueles óculos. Ele também tinha uma barba fechada que o deixava com a aparência mais séria, embora não fosse tanto o caso. – E aí, todos fizeram a atividade da semana passada? – Ele colocou sua mochila sobre o birô enquanto alguns alunos erguiam as mãos e respondiam positivamente à sua pergunta. – Ótimo, imagino que já trouxeram as fotos impressas também, não foi? – As mãos abaixando lentamente no silêncio enquanto ele segurava o riso. – Quem já tiver com o material impresso, pode colocar aqui em cima – ele apontou para seu birô, posicionado na frente da classe – e quem não tiver cópias impressas, pode me enviar agora mesmo pelo e-mail. Vamos fazer uma exibição aqui!

Pelo que entendi, a atividade se tratava de fotografar objetos a partir de seu próprio ponto de vista e contar uma história, criando um contexto entre suas imagens. Enquanto as fotos eram exibidas, os alunos, em duplas, narravam suas ideias por trás de cada fotografia e o Sr. Torres pontuava observações sobre ângulos, luz, cenários, composições, aquilo tudo parecia grego para mim. As fotos exibidas na tela, instalada em frente a lousa, com o auxílio de um projetor, eram mais aleatórias que meus pensamentos mais furtivos e, por mais que certos aspirantes a fotógrafos ali tentassem explicá-las, não faziam o menor sentido para mim. Diversas delas pareciam obra de criança quando pega o celular dos pais e acidentalmente sai registrando sabe-se lá o quê por aí.

– Antes de finalizarmos aqui galera, deixa eu explicar o tema da nossa próxima atividade pra vocês – disse ele em tom de suspense após sua explicação sobre os efeitos da luz sobre as superfícies diversas de um objeto. – Então, é o seguinte, o tema é: Capturando sentimentos. – Ele fez uma pausa com os olhos arregalados e as mãos abertas, após a apatia da turma continuou – Caramba galera eu sei que é o último tempo, – ele olhou as horas no relógio acima da lousa e continuou – quase quinze e trinta já, mas isso aqui tá tão animado quanto um enterro! – A turma riu. – Sim, Srta. Matos? – Ele atendeu a uma aluna que estava com a mão erguida, imaginava que fosse do segundo ano B.

– Vai ser individual ou em dupla de novo Sr. Torres?

– Mas é impressionante mesmo, né? Eu nem expliquei a atividade ainda e a senhorita já quer saber se vai ter mais uma desculpa pra se encontrar com o Sr. Guedes depois das aulas, tu não tem jeito! – Ele pôs as mãos na cintura e fez uma cara irônica de reprovação, arrancando mais risos da classe.

– Eu professor? Jamais. – Debochou Amanda, repousando a cabeça no ombro de seu namorado.

– Odeio compactuar com os encontros de vocês dois, mas sim, Srta. Matos, a atividade será em dupla mais uma vez. E fiquem todos à vontade pra continuarem com suas duplas anteriores ou, se quiserem, trocar também tá valendo tudo, vocês que decidem. Bem, pra esta tarefa, que é até bem autoexplicativa na verdade, eu quero que fotografem um sentimento, mas tem que ser um sentimento de verdade. Não vale fingir não, hein? Tô de olho! Eu quero dor, raiva, medo, amor, sejam criativos. Selecionem uma única imagem, finalizem como quiserem e a tragam IMPRESSA – enfatizou – em tamanho A3 na próxima aula. Estamos combinados? – A turma confirmou.

Eu morreria congelado por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora