Rio de Janeiro- 01 de fevereiro de 2012.
Letícia 🐚
P
arei o carro na frente do morro estava na rocinha pois como prometi, ia saber como estão os filhos do sabiá. Eu não imaginava que ele era pai e pra completar duas crianças, acho isso meio impossível.
Estava com o Gasparzinho, ele não quis abrir mão de vir na Rocinha disse que é para me proteger, que morro tem invasão e blá blá blá mas sei bem que ele tem uma ficante aqui e é por isso que ele veio.
Olhei pro meu cabelo pelo retrovisor que por sinal está bem armado hoje, sorri pro espelho antes da visão ser tapada por um cara descamisado e com um fuzil nas costas.
— quer oque aqui dona?
Letícia: Vou subir, vim ver a dona Maria.- falei, sorrindo bem simpática.
TK me disse que eles moram no alto do morro com uma tia do sabiá, desde que ele foi preso ela quem cuida deles.
— Ih moça, posso deixar subir não.
Letícia: Claro que pode, eu vim e vou subir.- arqueei a sobrancelha.
— Sem ordem do chefe nenhum estranho sobe, foi mal moça.
Não sabia que existia essa viadagem, mesmo tendo morado praticamente a minha vida toda num morro.
Apesar que antes eu só sabia brincar, tentar ir aos bailes escondida, sair com os meninos não prestava atenção nessas coisas muito menos depois que meu pai morreu, todo o meu brilho pela favela sumiu, e me mudei.
Letícia: olha aqui seu..
Gasparzinho: Avisa que o Tk mandou.- me cortou, falando bem sério.
O menino encarou por um tempo e pegou o radinho se afastando. Faltou pouco pra eu mandar esse ser ir se fuder, que chatice.
Gasparzinho: aqui quem tem poder é nois, lelê.-arquei a sobrancelha.- um docinho que nem você, ninguém leva a sério.
Olhei feio pra ele que só deu um sorriso beijando minha bochecha, eu o empurrei dando dedo do meio.
Só veio pra me atentar, Mereço.
Letícia: vai se fuder, Itallo.- falei e olhei o retrovisor, o menino estava voltando.- porque não vai ver sua feiosa?
Gasparzinho: Ih garota feiosa é você, a mia é uma thuthuca.- dei língua pra ele
— Podem subir, o teco já tá esperando pra levar vocês lá.- sorri satisfeita.- só seguir reto que tu vai ver a pracinha, teco vai ta lá
Concordei ligando o carro e dando partida estacionei perto da pracinha, preferi continuar a pé já que o Teco ia nos levar e mostrar a casa.
Olhei para o banco de trás e peguei a boneca e o carro que comprei pras crianças, sai do carro e itallo saiu logo atrás, observei um cara nos olhando e vindo na nossa direção.
Teco: então é você que tá indo visitar o sabiá?
Letícia: Sim e você deve ser o teco, não é?.- ele concordou.-
Teco: Como é que tá as coisas lá?
Letícia: pra ser bem sincera não tá muito bem não, um chefão da polícia tá pressionando ele, por conta do julgamento.
Gasparzinho: esses vermes.- cuspiu no chão e eu fiz uma cara de nojo
Teco: Tão tirando o couro do chefe, mas a Helienai não pode fazer nada não?
Letícia: Entrei em contato com ela e ela falou que está analisando o processo, mas a poucas chances dele ser absorvido, como o esperado.
Andamos mais um pouco até parar numa casa verde com o portão de ferro dentro parecia ter algumas plantas, uma bola de futebol.
Teco: Dona Maria.- gritou batendo no portão, e logo uma menina apareceu.- Cadê a tia Maria?
— Se ela não atendeu é porque não está né.- Falou, cruzando os braços- e essa, quem é?
Teco: Coé Rayane fala direito po, essa é Letícia, amiga do teu pai.
Peraí, a filha do sabiá parece ter uns quinze anos e misericórdia estressada que nem ele, achei que eram crianças de sei lá, 6 anos.
Ouvi um "amigo do pai" olhei pela porta e vi um menino deitado no sofá, que provavelmente é o outro filho do sabiá.
Ambos parecem ser adolescentes, to em choque.
Letícia: oi, sou Letícia e esse é o gasparzinho, meu irmão, o sabiá pediu pra eu vim ver vocês.- sorri
Rayane: amiga. sei, meu pai tá bem?.- senti um certo deboche, mas ok.
Ryan: quando ele vai voltar?- perguntou, chegando logo atrás da irmã.
Letícia: Calma, adolescentes. vou responder todas as perguntas de vocês, querem tomar um sorvete?
Eles se olharam e concordaram ao mesmo tempo, pegando um na mão do outro saindo pelo portão.
fofos até.
Teco: Bom, tá entregue chefinha, vou subir, qualquer coisa me acionem ai.
Rayane: Vai mesmo, seu folgado.- ela revirou os olhos, chegando do meu lado.- fazer alguma coisa da vida
Teco: Vou nem te falar nada, Rayane.- ajeitou o fuzil nas costa.- To vazando.
Gasparzinho: Vou contigo, tenho umas paradas pra resolver.
Letícia: não tinha vindo pra fazer minah segurança?.- fiz minha cara de deboche.
Gasparzinho: Calma lelê, as cria ai conhece a favela toda eu ja venho, te amo.- me abraçou rapido indo atrás do Teco.
Letícia: sonso.- encarei ele se afastando, serrando os olhos.
Rayane riu enquanto trancava o portão começamos a andar e fiquei observando os dois e pelo pouco que conheço do sabiá eles são iguais a ele. Rayane na personalidade e Ryan na aparência.
E sim, percebi isso em apenas dez minutos de conversa. chegamos na sorveteria e eles já estavam pedindo quatro bolas na casquinha.
Eu pedi só uma de morango, fui no caixa pagar e me sentei com eles, que já estavam tomando o sorvete deles.
Rayane: Sim e meu pai tá ou não tá bem?-perguntou, colocando a colher na boca.
Letícia: ele está muito bem, com saudade de vocês, e espera voltar logo pra vocês
Ryan: nosso aniversário é mês que vem..ele vai conseguir vir?.- perguntou baixo, e meu coração ficou apertado.
Meu pai fazia aniversários incríveis pra mim, pros meus irmãos até pro itallo, eram momentos incríveis. ele fazia questão de chamar a favela toda, era uma semana de festa, com muita comida e um bolo enorme.
Esses momentos fazem eu sentir falta dele, e ver duas crianças sentindo falta do pai parte meu coração não posso deixar eles sem o pai no aniversário.
Letícia: Vou fazer de tudo pra que ele venha, eu prometo.- sorri.