Capítulo 11 - Vida e morte

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Viver é difícil. Doloroso. 

Morrer é mais fácil. Mais rápido que adormecer.

É estranho que toda a gente tenha tanto medo da morte, viver magoa muito mais que a morte.

Raewyn sentia que tinham passado dias desde que tinha sido atingida. Mal sentia o seu corpo e encontrava-se num estado de dormência total. Como se não estivesse viva, mas não morta também. 

Não se tinham passado dias, ela percebeu. Apenas alguns segundos.

Subitamente os seus sentidos voltam ao seu corpo e consegue ouvir e sentir o tumultuo á sua volta. Mas não tem forças para abrir os olhos.

— Raewyn! - um grito ensurdecedor soa perto do seu rosto. Neteyam. - Raewyn, por favor abre os olhos. Abre os olhos!

— Neteyam... - Raewyn reconhece a voz de Jake.

— Não! Ela não pode morrer! Eu preciso dela. - Raewyn sente algo molhar o seu rosto - Abre os olhos Raewyn! Por favor, Eywa. Ajuda-me.

Com esforço Raewyn abre os olhos lentamente vendo toda a família Sully á sua volta, a sua garganta está seca e não consegue proferir nenhuma palavra. A dor no seu peito começa a tornar-se mais forte e ao ver o ombro de Neteyam em sangue o seu coração começa a doer também. Mas sabe que ele ficará bem, foi apenas atingido de raspão.

— Raewyn! - Neteyam leva uma mão ao rosto de Raewyn quando a vê acordada - Vais ficar bem! Nós vamos levar-te de volta a casa e eles vão cuidar de ti. Prometo.

Raewyn balança a cabeça levemente não tendo forças para mais nada. Sente alguém apertar a sua mão e vira a cabeça na direção da pessoa. Encontra Tsireya lavada em lágrimas e logo percebe que algo não está bem.

— Está tudo bem Reya. Eu vou ficar bem. - Raewyn diz mesmo não acreditando nisso ela própria.

Tsireya começa a chorar mais desesperadamente e Raewyn percebe no rosto de todos que algo lhe está a escapar. Raewyn deixa a cabeça tombar não tendo mais forças para a deixar levantada e o seu coração cai ao ver a imagem ao seu lado. 

— Aonung? 

Raewyn olha para o rosto do irmão deitado ao seu lado.

— Porque é que ele está a dormir?

Ninguém lhe responde e Raewyn começa a entrar em panico. 

— Tsireya! Porque é que o Aonung está a dormir?

— Ele perdeu demasiado sangue, Rae. 

— Não!

Raewyn ouve um grito descomunal e apenas se apercebe que foi ela própria que gritou quando a garganta lhe começa a doer. 

— Não, não, não.

— Raewyn... Temos de te levar ou tu também vais perder demasiado sangue. - Raewyn sente dois braços fortes erguerem-na do chão e tenta soltar-se querendo voltar para perto de Aonung. - Vai ficar tudo bem. Amo-te Rae.

Com essas ultimas palavras Raewyn sente-se ser envolvida pela escuridão mais uma vez e os sentidos abandonarem o seu corpo.

✳✳✳

Assim que a curandeira acabou de enfaixar o ombro de Neteyam ele foi a correr em direção ao Marui de Raewyn ver se tinham noticias dela. Neteyam nunca se iria perdoar se Raewyn não acordasse. Ela tinha-se colocado á sua frente e salvado a sua vida. Mas a que custo?

 Quando lá chegou viu Tonowari, Ronal e Tsireya em volta do corpo de Raewyn, todos com lágrimas nos olhos e expressões sombrias. 

Quando dão pela sua presença, Neteyam prepara-se para para se ir embora mas é surpreendido pelas palavras que saem da boca de Tonowari.

— Ela deve amar-te mesmo muito. - Tonowari aclara a voz tentando não mostrar fraqueza em frente ao rapaz. - E lamentamos tudo o que vos fizemos passar. Se ela acordar... podem cá ficar e poderão liderar o clã. Não queremos perder mais um filho.

Com isto, os três saem deixando Neteyam sozinho com Raewyn. Ele senta-se ao seu lado e agarra na sua mão. O tronco de Raewyn está todo enfaixado e alguns frascos com líquidos encontram-se ao lado do seu corpo. 

— Hey Rae... - Neteyam sente a sua voz tremer e limpa a lágrima que lhe escorre pelo rosto. - Sou eu. Por favor, não vás. Eu preciso de ti aqui, comigo. 

Neteyam faz carinho no rosto de Raewyn passando o polegar pelos seus lábios sentindo falta de os ver sorrir.

— A guerra acabou. - Neteyam tenta pensar em algo feliz - O Coronel morreu. De vez. - dá um beijo na testa de Raewyn - Por favor acorda. Não consigo viver sem ti. Amo-te. Eu vejo-te Raewyn.

✳✳✳

Passaram-se dias e todo o clã estava em baixo. Aonung tinha morrido e Raewyn encontrasse inconsciente sem sinais de voltar a acordar. A família de Raewyn tinha concordado em apenas fazer o funeral de Aonung quando ela acordasse, não o queriam fazer sem ela.

Tsireya já não sorria, passava os dias sozinha, apenas aceitando a companhia de Lo'ak. Ninguém sabia o que fazer para a animar. Neteyam também passava os dias sozinho na praia onde costumava passar horas a fio com Raewyn. 

Neteyam não olha na direção da sua mãe quando ela se senta ao seu lado, sabe que se o fizer irá começar a chorar.

— Neteyamur... - Neytiri coloca o braço sobre os ombros do filho e aperta-o contra o seu peito de forma protetora.

— Eu amo-a mãe. - Neteyam não consegue impedir as lágrimas de escorrerem e agarra-se a Neytiri ainda mais desesperadamente. 

— Eu sei... Ela vai ficar bem.

Neytiri tentava acreditar nas próprias palavras e do fundo do coração reza a Eywa para que salve Raewyn. Tal como Raewyn salvou o seu filho.

✳✳✳

Raewyn leva a mão ao peito sentindo-se apertada no meio de tantas ligaduras. Abre os olhos com cuidado e o seu pânico acalma ao ver que se encontra no seu Marui. Mas o alivio logo é substituído por tristeza e desespero ao lembrar-se dos últimos acontecimentos que presenciou. Aonung...

Com esforço Raewyn levanta-se e dá alguns passos saindo do seu Marui e dirigindo-se para o de Aonung. Ela não estava á espera de encontrar lá o corpo do irmão.

— Aonung... - Raewyn sente os joelhos baterem no chão e as lágrimas começarem a escorrer. - Desculpa... É tudo minha culpa, eu devia proteger-te. Desculpa...

Raewyn leva a mão ao rosto pálido de Aonung e encosta a sua testa á dele desejando poder estar no seu lugar. 

É estranho que toda a gente tenha tanto medo da morte, viver magoa muito mais que a morte.

— Eu vou viver a vida que tu mereces Aonung. Vou viver uma vida por nós os dois. Prometo.

I see you //NeteyamOnde histórias criam vida. Descubra agora