Capítulo Um

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Das grandes traições inicia-se a rebelião de uma alma


As nuvens brancas e brilhantes ficaram para trás, o céu foi coberto por uma grande massa cinza escuro, o aviso da aproximação de uma tempestade.

Tento não pensar sobre os últimos acontecimentos enquanto passamos rapidamente pela paisagem, tão rápido que tudo é apenas um borrão verde com pitadas de marrom.

Tento não sentir falta de Dave, mas é estranho não estar com ele, não ter ele na minha rotina parece estranho, parece errado, parece incompleto sem ele, como se um pedaço fosse arrancado.

Eu ainda o amo e amo muito. Algo nele faz eu me sentir viva e completa, sem ele eu sinto que não sou nada. Se ele não ficar comigo, ninguém irá me querer. Ele é o único capaz de me amar como sou. Os outros só querem meu corpo, ele me quer por inteiro, ele me ama. Mesmo que tenha feito o que fez, ele é o único que pode me amar.

E se eu perdoá-lo?

- Sai dessa Jess.

Gleice exclama, me arrancando dos pensamentos em que eu estava começando a me afundar.

- Foi mal. - respondo com um sorriso forçado, começando a me sentir desconfortável no banco.

- Você disse que tentaria se divertir, não estou vendo você tentar. - Gleice resmunga mal humorada.

- Eu sei, estou tentando. - fecho a janela quando o vento começa a me causar mais frio do que é confortável.

- Então tente melhor. Trouxe você para que tentasse esquecer o Dave e para impedir que você cometesse a burrice de voltar com ele, então não estrague a viagem com essa atmosfera auto depreciativa - ela torce o nariz quando pronuncia o nome do Dave, por um momento penso se foi a escolha certa concordar em vir.

Ela está certa, eu devia tentar melhor, meus esforços não estão sendo suficientes para afastar essa névoa deprimente. Eu adoraria apagar os últimos dias da minha memória, mas como isso não é possível, eu terei que aprender uma forma de manter isso longe. Uma forma de manter o Dave longe dos meus pensamentos.

O resto da viagem foi silenciosa, foi muito difícil não pensar no Dave, mas consegui um pouco, pretendíamos chegar antes do anoitecer, mas tivemos que parar para abastecer e isso nos atrasou um pouco, com sorte Gleice dirige como se estivéssemos em uma corrida.

Chegamos ao pôr do sol. Apesar das nuvens escuras que cobrem o céu, a luz insistente do sol ainda conseguiu atravessar as camadas de nuvens e deixar suas nuances.

Gleice adentra a floresta e segue uma trilha estreira, notar que o carro está em um caminho tão estreito faz eu me sentir tensa, como se a qualquer momento o som de um galho arranhando a lataria do carro fosse nos fazer parar.

- Precisamos parar por aqui. - ela habilidosamente estaciona o carro atrás de um arbusto grande, a tensão deixa meu corpo, mas não totalmente - Vamos fazer o resto do caminho andando. - Concordo em silêncio.

Nós descemos do carro, pegamos nossas mochilas e seguimos a trilha, bem mais estreita que a que passamos com o carro.

A floresta está parcialmente escura, o sol poente não é forte o suficiente para deixar a floresta tão iluminada, apesar disso, Gleice parece seguir como se fizesse isso todos os dias, com uma habilidade profissional que eu definitivamente não possuo.

Meus pés se enrroscam nos musgos e raízes, tropeço em pedras e bato partes do meu corpo em galhos que não prestei atenção o suficiente. A cada passo que dou, desejo profundamente que cheguemos logo.

Presa por Jeff The Killer Onde histórias criam vida. Descubra agora