Capítulo Seis

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"Não há desgraça tão profunda quanto aquela que você encara pessoalmente."
[Jay Kristoff]

A cada dia que passa, eu me sinto mais como um cadáver ambulante, define bem a forma que me sinto.

Eu tenho tentado contar os dias, provavelmente a conta não está certa, não encontrei relógios ou janelas, é como se esse lugar fosse um maldito submundo. Três dias, esse foi o resultado da minha conta.

Eu tenho tentado de tudo para não dormir, sinto que há algo se esgueirando no escuro, como um predador aguardando a distração da sua presa, para então, atacá-la. O farfalhar de passos e suspiros dolorosos impedem que o silêncio completo domine o lugar, não sei de onde eles vêm, mas estão por toda parte. Sinto que nunca estou sozinha, e isso não é reconfortante.

Eu tenho estado presa à ala norte da casa, não sei se a direção está certa, mas lembro-me erroneamente de no fundamental, a esquerda ser relacionada ao norte, então ala norte, à esquerda, ala sul, à direita.

Eu estou encolhida no canto da parede atrás da porta, não saio desde que fui jogada como lixo nesse quarto asqueroso e fétido. Ele cheira a mofo, algo putrido e comida estragada. Tenho medo de descobrir a fonte desses odores.

A última vez que comi algo, foi antes de sair de casa, supostamente três dias atrás. Meu estômago dói e sinto pontos extremamente doloridos em meu corpo, certamente hematomas se formaram em decorrência dos últimos acontecimentos. 

A parede úmida e com cheiro de terra, apesar de nojenta e pegajosa, é estranhamente reconfortante, como se eu estivesse regredindo ao tempo em que eu era um feto. Eu gostaria disso.

A escuridão parece me chamar, o sono me abraça como se eu nunca tivesse sido abraçada antes. A dor, a fome, o medo, o desespero, tudo some, restando o conforto do descanso.

Tudo de repente é levado por um redemoinho cinzento e estranhamente agressivo, arrancando todo o breve e reconfortante descanso.

Os arredores passam a adquirir uma tonalidade visceral, suja e nojenta, como a pele escorregadia de uma lesma esmagada com suas entranhas expostas.

O ar se torna quente, como se eu estivesse em frente à um forno industrial, prestes a ser jogada lá dentro para ser queimada viva.

Há uma massa estranha se aproximando, parece uma elevação desse chão nojento e escorregadio, como o que se forma ao bater cabeça. Percebo aos poucos que há algo sendo espirrado, não, sendo expulso da massa esquisita.

Cada vez que o bolo estranho se aproxima, eu percebo as nuances da estranheza, as coisas sendo expulsas são braços e pernas, buscando uma idependência própria da massaroca estranha.

Meus pés se afundam no chão, me prendendo no lugar no momento em que decido ficar longe do que quer que aquela coisa seja.

Quanto mais eu me mexo, mais o chão me prende, mais a coisa se aproxima, com os braços tentando alcançar algo inalcançável, gemidos horríveis e dolorosos acompanham o amontoado de carne, como se todos aqueles membros reclamassem por compartilhar espaço.

Eu começo a me debater, a coisa se aproxima, ansiando me devorar e me tornar parte da nojeira compartilhada,  o ar esquenta e minhas pernas submersas até os joelhos tornam-se dormentes.

Me sinto presa por um desespero claustrofóbico, como se meus músculos precisassem ser torcidos para lembrarem dos movimentos.

Fecho meus olhos tão forte que sinto que podem ser empurrados para dentro do meu cérebro pelas pálpebras. Uma lufada de ar pútrido é jogado em meu rosto, quase posso sentí-lo derreter pela toxicidade do bafo da criatura.

Presa por Jeff The Killer Onde histórias criam vida. Descubra agora