Aquele sem dúvidas foi um período atípico para Pete Phongsakorn. E de todas as coisas que poderiam ter lhe acometido, ser acusado de assassinato, foi de longe a pior. Dois fatores o deixavam extremamente intrigado, no entanto: 1) Ele não lembrava de quase nada sobre o começo daquele verão, do qual o acusavam de cometer tal ato, além de alguns flashs desconexos, que a essa altura ele se questionava se realmente eram lembranças daquela noite em questão ou de tantas outras para trás. 2) Seu pai havia sido encontrado morto no meio da sala de estar da sua casa, segundo a perícia, vítima de vários golpes de um objeto pontiagudo e ele havia se tornado o principal suspeito.
Durante grande parte do julgamento ele permaneceu de cabeça baixa e quando sentou no banco dos réus e finalmente percorreu seu olhar pelo recinto, era possível ver a confusão instalada em seus olhos. Ele travava uma guerra insistente com sua memória a procura de algo que pudesse o ajudar, mas nada do que ele conseguia lembrar lhe parecia útil naquele momento.
Sua mãe, sentada logo nos primeiros bancos, chorava copiosamente de cabeça baixa sem conseguir o encarar, o que o deixava ainda mais nervoso. A mulher era consolada por uma jovem moça de cabelos negros na altura dos ombros, que vez ou outra também limpava uma lagrima timidamente, mas essa também não o encarava.
O silêncio pairava sempre que uma pergunta era direcionada ao jovem e quando esse tentava responder, uma gagueira indecorosa o atingia, piorando ainda mais sua triste situação. Suas mãos suavam frio e ele tentava a todo custo se convencer ser apenas o efeito do ar condicionado ligado no menor grau. Seus olhos exibiam bolsas enormes e escuras e uma vermelhidão que indicava que ele não dormia a dias e que também havia chorado por excesso de horas.
Seu semblante pálido e olhar apreensivo, demonstrava o quanto ele estava com medo, no entanto, parecia existir uma fagulha de adrenalina nos recantos mais profundos de seus olhos. Bem no íntimo, um brilho era distinto de todas as outras emoções, contudo era tão imperceptível, escondido sobre tantas outras camadas, que quase ninguém conseguia enxergar.
— Por decisão do júri, o réu Pete Phongsakorn foi considerado culpado e condenado à prisão perpétua com pena máxima de trinta anos, que será cumprido na penitenciária de segurança máxima Bang Kwang com início da pena imediatamente após o veredito.
O som do malhete ecoou em sua mente, sem conseguir acreditar no que acabara de ouvir e num ato de desespero, gritou aos quatro ventos que não havia cometido tal crime, mas era tarde demais. Tarde demais.
Pobre garoto, estava sendo condenado ao inferno ou talvez ele fosse o próprio inferno. É difícil saber.
— Eu não fiz nada! Eu não fiz nada!
Ele se ajoelhou em meio às lágrimas, mostrando o quão debilitado estava. Uma crença era alimentada até o último segundo que sua sentença seria outra, afinal ele se considerava inocente, mesmo que em alguns momentos tenha se questionado.
As algemas foram colocadas em seus pulsos e ele foi carregado por dois guardas, um de cada lado, até a parte de fora do tribunal.
— Mãe, a senhora tem que acreditar em mim. — ele falou em meio uma onda de soluços quando passava pela fileira de bancos onde a mais velha ainda permanecia de cabeça baixa — Por que a senhora não me olha? Por quê!? — seus ânimos se exaltaram e por um breve segundo a mulher encolheu os ombros, mas não ousou o encarar. Ela estava fragilizada demais.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma palavra, os dois guardas aplicaram um pouco mais de força em seus braços e o arrastaram, no entanto, foi quando passou por mim — no antepenúltimo banco — e me encarou, que um sorriso mínimo se formou no canto da sua boca. Ele sabia do meu interesse por ele e tudo o que pude fazer, foi seguir meus instintos.
Quem eu sou? Não é importante. Quem ele é, sim.
Não me leve a mal, você não entenderia quem sou, na verdade, nem eu mesmo me entendo, só sei que sinto essa necessidade absurda de o observar e se estou relatando é porque não aguento mais sufocar tudo dentro de mim. Então, eu não me questiono quem sou, você também não deveria.
Mas esquecendo esse assunto e voltando a Pete Phongsakorn, ele se questionava por qual motivo não lembrava de nada, o que ele deixara passar e o que aconteceria a seguir. Seu coração batia com afinco, quase saltando pela boca e sua mente estava completamente embaralhada, em partes, um apagão tremendo e em outras lembranças que não faziam mais sentido. Ele não sabia mais o que era verdade ou que era mentira.
— Quando esse inferno vai acabar? — ele se perguntou baixinho, mesmo sabendo que não receberia uma resposta divina. Ele deveria acreditar em algo divino? Muito provavelmente a essa altura não acreditava mais. Em verdade, posso afirmar que ele apenas se iludia achando que acreditava. Ele era realmente um tolo.
Fora quase duas horas rodando em um ônibus com mais onze prisioneiros que o encaravam de uma maneira aterrorizante, até finalmente chegar ao seu destino: a penitenciária de segurança máxima Bang Kwang. Era ali seu novo lar, se é que se podia chamar assim.
— Enfileirados!
Uma voz grave e terrivelmente rude, gritou assim que saíram do ônibus, o despertando de seus pensamentos. Quando não seguiu o comando a tempo, sentiu uma forte dor atingir a parte de trás de seu joelho, o fazendo se curvar, batendo-o no chão com força, deixando escapar um grunhido de dor.
— Você não ouviu o que falei!? — o guarda vociferou, enquanto apertava seu maxilar e erguia sua cabeça, fazendo com que ele o encarasse.
Uma poça de lágrimas se formou em seus olhos e o guarda, que havia gritado e o obrigava a encará-lo, balançou a cabeça em negativa parecendo desapontado.
— Levanta. — ordenou, seu tom se tornando minimamente mais brando, mas seu olhar ainda permanecia severo, quando empurrou com força seu queixo para a lateral.
Pete levantou-se às pressas com medo de ser repreendido novamente e tomou seu lugar onde foi indicado. Seu joelho latejando e o lembrando como seria tudo dali para frente. Após escutar o que os guardas tinham a dizer — ele, assim como os outros — foi encaminhado ao interior do presídio.
O quão perigoso ele era para está em uma penitenciária de segurança máxima? Ele não achava que fosse, no entanto, eu me questiono, será mesmo que ele não era perigoso? Afinal de contas, sua sentença havia sido injusta?
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Prisioneiro 1739↬VegasPete | Oneshot
FanfictionFoi quando o juiz declarou sua culpa no assassinato de seu pai, que Pete sentiu sua vida mudar completamente. Ele não estava preparado para conviver naquele meio (presídio) e precisava provar sua inocência. Uma grade dúvida, no entanto, surgia em s...