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O som do malhete ainda ecoava em sua mente, era como uma maldita tormenta

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O som do malhete ainda ecoava em sua mente, era como uma maldita tormenta. Para o jovem rapaz de vinte e cinco anos, aquilo tudo não passava de um terrível e inexplicável pesadelo. Sua vida havia, em termos mais fáceis de se explicar, virado de cabeça para baixo.

Agora caminhando pelos corredores do presídio, se sentia em uma selva rodeado por ferozes predadores e com a certeza de que ele não passava da mais nova e suculenta presa. Como sobreviver a tudo isso? Ele não fazia a mínima, mas precisava sobreviver para provar sua inocência. Mas como provar aquilo do qual não se tem certeza?

Ali, sendo praticamente arrastado por um dos guardas até sua cela, os gritos dos detentos se misturaram com seus pensamentos, o arrastando de volta a sua nova e cruel realidade. Entre olhares mortais e palavras que ele preferia nem mesmo repetir em pensamentos, sentiu seu corpo se encolher em um arrepio, quando finalmente parou enfrente a uma das celas, na ala C, e os dois detentos lá de dentro se levantaram para o encarar ameaçadoramente.

O guarda que o arrastou até ali, esperou que seu colega abrisse a cela, então retirou as algemas dos seus pulsos e o empurrou para o interior da mesma com certa brutalidade. Um pequeno sorriso de canto era exibido, como se tentasse lhe mostrar sua superioridade, e permaneceu ali até que seu companheiro voltasse a fechar a cela e os dois sumissem em meio aos corredor.

Pete já tinha assistido a inúmeros filmes de ação com a temática de presidiário inocente, mas nada se comparava aquilo. Nos filmes, o cara que era preso injustamente sabia como se defender, no entanto, ele apenas estava acostumado a apanhar. Apanhar de seus colegas de classe quando estudava, dos caras da sua rua e principalmente, de seu pai, que o batia por simplesmente respirar o mesmo ar.

— Então você é o novato?

Uma voz cortante o fez saltar minimamente e então prender a respiração por um décimo de segundo. O detento mais alto caminhava lentamente na sua direção, quase como se quisesse prolongar seu sofrimento. Em um mecanismo automático de defessa, seu corpo, dava um passo mínimo para trás a cada novo movimento do outro. Seus olhos percorriam em todas as direções a procura de uma saída que ele sabia não existir. Quando seu corpo finalmente bateu contra a grade de ferro, sentiu seus olhos se arregalarem e seu coração bater loucamente contra seu peito, em resposta ao medo que o consumia. Sua respiração ficou presa junto a um grunhido, na garganta, quando o cara parou na sua frente e voltou seu olhar para o número estampado em seu uniforme. No fundo, no entanto, soterrado em meio a memórias infundadas e irreais, ele ria. Ria do quão patético o homem à sua frente era.

— 1739? Que irônico você não acha? — o homem falou se curvando na sua direção e sorrindo minimamente sarcástico. Sua vontade era revirar os olhos, mas se conteve. Nem sabia o porquê de querer fazer aquilo.

— Chega Pol, você já assustou ele o suficiente. — o outro detento, que era um pouco menor que o primeiro, se colocou entre os dois, empurrando de leve o maior. Sua voz soava branda, arrancando vários resmungos de desaprovação do outro.

— Tsc, Você é um chato Arm, só queria saber com que tipo de presidiário estamos lidando. — o cara mais alto falou fazendo caminho de volta e se acomodando em sua cama.

— Eu me chamo Arm e esse imbecil aí é o Pol. — o mais baixou falou se virando para Pete, que ainda segurava a respiração e mantinha os braços cruzados na frente do corpo como forma de defesa. — Não liga pra ele, você pode ficar com a parte de cima — disse apontando para a cama acima da sua — Você teve sorte de pegar esse pavilhão, é um dos menos lotados. — Arm falou tentando deixar o recém-chegado mais tranquilo, enquanto se sentava na própria cama.

Pete não se sentiu mais aliviado, pelo contrário, algo no olhar do mais baixo o deixou ainda mais nervoso. E mais uma vez, bem em algum lugar dentro de sua mente, uma gargalhada ecoou. Ele soltou o ar com certo desespero e sentiu o olhar dos dois presentes na cela o analisar, enquanto ele caminhava até o local indicado por Arm. Ele queria ter o dom de sumir às vezes, naquele momento esse desejo era ainda maior.

— Qual sua acusação 1739? — o mais alto perguntou encarando suas costas. Ele estava deitado na cama apoiado sobre um dos cotovelos e exibia uma curiosidade quase palpável, mas... invés de lhe responder, Pete apenas se deitou fitando o teto do lugar que sabia não lhe pertencer, ou achava que não, e vagou em pensamentos.

O furacão que sua mente se encontrava estava deixando-o desnorteado. Pensar em sua mãe, em como ela deve ter se sentido decepcionada, o arrastavam sobre uma lama espessa e fétida. Por outro lado, algo se manifestava e um questionamento ganhava cada vez mais força: por que, além de todo desespero que transbordava em seus poros, em algum lugar longínquo, ele se sentia em paz?

Uma grande movimentação começou e Pete apenas ergueu a cabeça minimamente, o suficiente, para ver o mesmo guarda que havia o levado até ali, passar enfrente a cela encarando-o.

— Você tem muita sorte novato, chegou quase na hora do rango. — o mais baixo... como era mesmo o nome? Ah! Isso... Arm disse com um sorriso travesso.

— Vamos lá 1739, vamos te mostrar a maravilha que é esse hotel cinco estrelas. — o mais alto falou sarcasticamente.

Os dois aparentavam ser calmos, mesmo que, ironicamente, estivessem em um presídio de segurança máxima, mas Pete temia que fora dali ele fosse conhecer o inferno na terra. Uma chama se acendeu em seu olhar e rapidamente se foi, mas algo como uma euforia borbulhou em seu interior só de pensar sobre isso.

— Eu... me chamo Pete. — falou timidamente, após um longo e incômodo silêncio.

Nenhum dos dois à sua frente respondeu, mas de alguma maneira, sabia que ambos haviam entendido.

Prisioneiro 1739↬VegasPete | OneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora