O coração batia loucamente contra o peito, enquanto seu cérebro o forçava a correr e correr sem parar, tendo sua visão dificultada por conta de toda a grande tempestade e a dor latente em sua cabeça. Sua respiração ficava a cada segundo mais escassa e ele sentiu suas forças o abandonando segundo a segundo, até que virou naquele beco e seus olhos assustados se encontraram com os meus a luz da lua. Ele era apenas um garotinho amedrontado, que fugia da fúria de um pai bêbado. Medo, isso o resumia naquele momento, mas agora, o observando sentia seu medo ido embora gradualmente, logo ele não precisaria mais de mim. Logo ele se encontraria com seu verdadeiro eu. Em breve...
Ele bufou, sem desejar esconder seu descontentamento por Tawan tomar um lugar ao seu lado e recebeu um sorriso de satisfação desse. Pete permaneceu com o olhar cravado em Arm, sentado a sua frente, enquanto comia a gororoba do dia. Em poucas semanas ele havia se acostumado com a rotina dali, não era tão ruim como achava que ia ser e Vegas havia facilitado e muito sua adaptação ser mais pacífica. Quase ninguém cruzava seu caminho ou dos dois que estavam sempre colados com ele, contudo, Tawan parecia mais incomodado do que antes. Embora Vegas tenha deixado claro que não o queria rondando Pete, ele parecia não ter entendido o recado, porque sempre arranjava uma maneira de fazer isso.
— Você não cansa? — Pete perguntou, sem desviar o olhar para encará-lo.
— Não ache que o Vegas vai te proteger pra sempre, você é apenas um brinquedinho que quando ele se cansar jogará fora e todos irão disputar pra acabar com sua raça primeiro, mas adivinha... farei isso antes de todos. — Tawan ameaçou em um tom baixo, enquanto sorria amplamente, acima de qualquer suspeita para Vegas, que os encarava de sua mesa a dada distância.
Pete sorriu ladino, pegando parte de sua comida e depositando na bandeja de Tawan, que o encarou confuso. Algo havia mudado nele desde três dias atrás, quando foi mantido isolado da maioria dos presos. Ele não foi para a solitária, não havia cometido nada que o levasse para lá, mas sim uma cela onde ficou sozinho e se inundou em pensamentos, a maioria desagradáveis. Seus sonhos se tornaram mais vívidos e naquela primeira noite, tudo voltou a sua mente: a discussão de seus pais, o tapa que seu progenitor desferiu em sua mãe, o grito saltando de sua garganta em uma tentativa de impedir mais um ataque e o olhar surpreso de seu pai quando sentiu o canivete entrar a primeira vez em sua pele. Tudo se tornou intenso demais para Pete, até mesmo o cheiro do sangue parecia o rondar, fazendo-o lembrar do monstro que havia se tornado. Acima de tudo, ele não podia mais negar o que fez, ele não era mentiroso ou mesmo covarde, também não era burro. Percebera bem cedo, que Tawan não queria apenas o irritar, desejava mais do que tudo, chamar a atenção de Vegas, mas sem se indispor com ele, seria horrível ter o outro o odiando. Então, Pete apenas estava entrando em seu jogo.
— Você não acha a comida daqui, uma delícia? — Pete ergueu uma sobrancelha em sua direção, recebendo os olhares curiosos dos que estavam sentados na mesma mesa e de Vegas, que ainda não havia nem tocado na própria comida, apenas os encarando.
— Você acha que sou burro? — Tawan rosnou em sua direção e Pete apenas ergueu a mão, empurrando, com o indicador, seu rosto para trás.
— Acho. — respondeu em tom debochado.
Existia algo quase como suicida em suas ações e conhecendo como o conhecia, era exatamente essa sua intenção, acabar com toda a confusão em sua mente de uma vez. No entanto, no fundo, também existia algo que o excitava e o tirava do tédio. Era uma dualidade horrível para ele que ainda não se entedia.
Tawan bufou se erguendo abruptamente do seu lugar e jogando a bandeja para um dos lados, salpicando comida nos presos mais próximos. Ninguém ousou se mexer ou reclamar, apenas encararam-no por um breve segundo e continuaram a comer. Pete voltou seu olhar para a própria bandeja e sorriu satisfeito por não ter se esforçado muito para Tawan derrubar a máscara diante de Vegas. Sim, ele era burro demais, Pete pensou. Essa era a parte excitante.
— Você realmente não tem medo da morte? — Tawan rosnou mais uma vez e quando não teve a atenção de Pete, o puxou pelos cabelos, obrigando-o a se colocar de pé. — Por que você não me responde?
— Já falei que você é burro, o que mais você quer ouvir? — Pete usou de uma voz calma, o que irritou ainda mais Tawan.
— Você vai se arrepender disso 1739.
E lá estava o número que Pete aprendeu a odiar, sendo mencionado pela pessoa que ele também odiava. Tawan soltou seus fios abruptamente, o empurrando ao encontro do chão, mas parou seus movimentos, quando Vegas se aproximou para ajudar Pete a levantar e o direcionou um olhar mortal.
Algo do qual não falei, andei observando Vegas por um tempo também, desde que despertou nele certo interesse por Pete, e ele não parecia o tipo que guarda a raiva para outro momento, exceto se quisesse ser terrivelmente cruel. Apenas seu nome conseguia fazer outros tantos estremecerem, seus olhos exibiam uma crueldade mórbida e sua voz, parecia lançar adagas amoladas, entretanto, tudo se suavizava quando estava ao lado de Pete.
— Ve... — Tawan engasgou com as próprias palavras quando Vegas avançou em sua direção e o agarrou pelo pescoço, apertando com tanta força que um pouco mais e ele o quebraria.
— Solta ele. — a voz de Pete fez Vegas soltar o aperto minimamente, enquanto virava o corpo para trás e o encarava confuso, mas logo sorriu ao notar o mesmo que sempre notei em seus olhos: uma chama que se intensificava.
Vegas soltou a pressão do pescoço de Tawan no minuto seguinte, o empurrando na direção do chão, assim como ele fez com Pete, então voltou a passos largos no sentido da sua mesa, cruzando com Pete e sorrindo em satisfação quando o viu sustentar o olhar. Pete suspirou, em partes aliviado, por Vegas tê-lo escutado. Então correu seu olhar ao redor do salão, observando todos o encarar perplexo e perceber Arm e Pol com a boca aberta, enquanto olhavam ininterruptamente dele para Vegas e depois para Tawan, como se rondassem um milhão de perguntas em suas mentes.
O Pongsakorn pegou a bandeja em mãos, decidido a sair do campo de visão de Tawan e ter o mínimo de paz, mas foi impedido de dar qualquer passo por esse, que segurou em seu braço e o puxou com tanta força que a bandeja que segurava caiu no chão. Pete suspirou exaurido, pensando que nada mais poderia piorar, mas podia e ele descobriria em breve.
— Você é realmente ridículo... — Tawan debochou. — Se fazendo de indefeso pra conseguir a atenção dele? — acusou, seu olhar indo em direção a Vegas, que no momento havia começado a sua refeição. — Vamos vê até quando ele vai suportar um mentiroso de merda e covarde como você. — cuspiu as palavras com desdém.
As mãos de Pete se fecharam com força e Tawan, notando o ato, gargalhou, zombando de Pete mais uma vez. Pete não conseguia controlar a raiva que sentia por essas duas palavras, ele lutava para que elas não o consumissem, mas quando Tawan as repetiu por mais duas vezes, em completo deboche, sentiu sua vista ficar escura e seu sangue ferver por dentro. Voltando a si quando um grito fino ecoou por sua mente e se deu conta do que estava fazendo, mas diferente de parar, ele continuou.
— Nunca. Mais. Nunca mais repita essas palavras. — proferiu entredentes, enquanto batia a cabeça de Tawan contra a quina da mesa repetidamente, até esse perder totalmente a consciência.
— PETE! Você vai matar ele. — a voz de Arm saiu em uma mistura de surpresa e medo, mas permaneceu apenas o medo quando Pete o encarou mortalmente.
Não era a intenção de Pete o matar, bom, não que ele achasse que fosse, mas foi impossível controlar a raiva dentro de si, quando o rosto de Tawan se transformou no de seu pai, o cegando completamente. Ele odiava seu progenitor e isso havia ficado claro a cada dia mais. Ali parado, olhando o corpo de Tawan em seus últimos espasmos, percebeu que não conseguiria mais fugir de quem de fato era.
— Prisioneiro 1739!
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Prisioneiro 1739↬VegasPete | Oneshot
Fiksi PenggemarFoi quando o juiz declarou sua culpa no assassinato de seu pai, que Pete sentiu sua vida mudar completamente. Ele não estava preparado para conviver naquele meio (presídio) e precisava provar sua inocência. Uma grade dúvida, no entanto, surgia em s...