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CAPÍTULO 3 : Choi Jongho

Eu era uma criança quando me apaixonei por ela. Uma criança com um sentimento doentio que até hoje consome meu corpo. Mas não irei já passar para o final, falando de como ela ficou no meu barco, depois da não conseguir matar. Eu vou começar tudo pelo início. No capítulo anterior, posso vos dizer que ainda tinha boca intacta, então até meus treze anos, eu ainda era um garoto normal, traumatizado, mas normal quanto a aspeto físico, apenas era feio, mas ninguém é perfeito.

•••

— Ei, feioso, vem aqui. — Líder me chamou, num tom baixinho e me obrigou a entrar dentro de um buraco, mas que por sorte os dois cabíamos perfeitamente, só tínhamos que rastejar por uns metrinhos.

Não sei o que era aquele lugar, mas parecia ser escondido. Ela me puxou assim que saiu do buraco, e eu acabei me assustando com esse ato, mas não falei nada. Ela tinha um sorriso no rosto, um sorriso maléfico. Puxou-me pelos cabelos e enfiou minha cara num pote de farinha. Eu tive que fechar meus olhos rapidamente, sufocando-me devido a ela estar fazendo força. E então, ela me tirou, escrevendo "Loser" na minha bochecha. Como eu sei o que ela escreveu? Ela me mostrou no espelho.

— Gostou? É o que você é. Podem vir, ele já pode apreciar um pouco do espetáculo. — E foi nesse momento que eu quis gritar com ela. Estavam batendo em San, bem na minha frente. Eu chorei, eu berrei, pedi para pararem, mas não pararam. Apenas pararam quando ele cuspiu sangue, e ainda Líder pisou a cara dele depois, quando me soltou, já que eu estava sendo segurado por ela.

— Eu odeio você! — Disse, empurrando ela é indo até San. — Vem, San, vai ficar tudo bem. — Tentei o colocar naquela abertura que eles tinham saído e eu tinha entrado, mas não consegui. San tinha desmaiado. Entrando em desespero, eu chamei por ajuda, até que Jongho apareceu na abertura, dizendo para eu lhe dar os braços de San enquanto o segurava pelo corpo.

Nesse dia, eu pensei que Jongho estava do nosso lado. Eu juro que pensei. Ele disse que queria ser nosso amigo, mas infelizmente tinha que obedecer à Líder então teria que ser segredo nossa amizade.

Eu fui tão trouxa, mas tão trouxa que eu considerei Choi Jongho como meu amigo.

Jurei ele ser meu amigo, porém, continuem com a ilusão wue isso é verdade, por mais que ele esteja aqui, do meu lado, eu tratarei ele com uma mera ilusão na minha cabeça. Só vocês, que estiverem lendo minhas palavras escritas à mão em folhas velhas e numeradas tanto por número de páginas como por capítulos de livro, vocês saberão toda a verdade, e porquê Choi Jongho morreu para mim e digo tê-lo preso em Utopia.

Lá para a frente vocês vão entender porque ele ficou preso, sendo que nós saímos de lá juntos ainda adolescentes. Juro contar tudo, mas um passo de cada vez.

Minha memória felizmente é boa, porém, em algumas coisas eu jurei querer esquecer, como meu trauma de ver pessoas mortas, e até hoje eu não sei como eu olho alguém morto e acho normal. Isto se chama superação? Eu não sei, realmente não sei. Se alguém achar, ok, se não, ok também.

Superei alguns traumas, pelo menos isso. Superei o bullying, superei o medo, superei...

Ok, não, isso eu não superei. Estou escrevendo e sei que não superei, e se alguém ler meu livro futuramente, me fale. Seria possivelmente ficarmos juntos se ela não sofresse o que sofreu e eu o que sofri? Seria possível nós ficarmos juntos? Ou mesmo, seria possível eu fazer ela superar meus traumas e ela os meus? Seria possível eu ficar no lugar de Jongho?

Seria possível meu Jung Wooyoung ser filho dela?

São várias perguntas, mas vamos voltar ao foco, eu não quero me perder nos capítulos, eles são bem mais que planeados, mas acabo me perdendo, peço desculpa.

Onde eu estava? Oras, sobre Jongho ter-nos ajudado depois de espancarem o corpinho magro de San. Me senti tão mal quando o levei junto com o Choi mais novo para dentro da cabana, vendo o olhar de Hongjoong que antes parecia estar feliz, agora com os olhos marejados, preocupadíssimo pelo estado de San, que felizmente tinha acordado, mas estava bem atordoado e cheio de dores. Doía ver San chorando quando Jongho o colocou na caminha dele, ele chorando de dor no corpinho magro. Sentei perto dele e dei um beijo na sua bochecha. Ouvi um "ew" vindo de Jongho, mas não liguei, apenas agradeci e o mandei embora, ficando do lado de San todos os dias, já que ele faltou às aulas e Líder me obrigou a confirmar que ele estava doente, e com isso descobri que ele não comia direito, e mesmo receando que ela não falasse verdade, presenciei dias a fio com San passando mal por não comer e seu corpo emagrecer ainda mais. San era pele e osso, e eu me senti tão mal vendo que eu estava saudável, que podia ser considerado mais rechonchudo, enquanto ele parecia estar desnutrido de tanto que estava emagrecendo.

— Você vai ficar bem, San. Você vai crescer e ficar forte. — Eu dizia todas as noites, e surpreendente, San ficou maior que eu quando chegamos à adolescência, e foi aí, que tudo piorou.

A adolescência é uma fase complicada, eu entendo, vi a de todos eles, sejam os mais velhos como os mais novos. Até a mim foi complicado. Mesmo eu sendo bem quietinho, eu recebia cada comentários das garotas mais velhas, sobretudo sobre teorias, uma delas me lembro até hoje porque foi sempre utilizada desde os dias que me lembre estar e até agora ainda dizem tal coisa.

"Quem tem nariz grande, tem pênis grande"

Eu sofri de assédio. Sim, eu, sendo homem, sofri de assédio. E vi as garotas sofrerem.

Eu vi a Líder sofrendo assédio e espancar os garotos que tentavam fazer coisas com ela. Esses que diziam que não era por mal, apenas queriam conhecer coisas novas, já que ela conhecia, não sabendo que tudo isso que ela sabia era origem de traumas.

Ela foi abusada. Eu sei disso. Ouvi ela contando a Jongho. E Jongho me disse.

Sim, Jongho me disse.

Disse também gostar dela. E que queria fazê-la superar seus traumas.

Foi naquele momento que eu jurei querer esquecê-la, pois eu já sofria de tudo nas mãos dos seus cachorrinhos, sofria de assédio pelas garotas que eu nunca iria retribuir e sei o quanto deve ser difícil ser mulher, mas homem também pode sofrer, até mesmo por vítimas, no caso, todas elas.

Assédio é horrível. E acreditam que San, já sofrendo o que sofria, passou também a sofrer só porque tinha nariz pequeno? Ficavam falando que seu pénis era pequeno, e ele, já destabilizado, deixou-o ainda pior, pois já não bastava comentários horríveis sobre seu corpo magro, fazerem uma comparação ridícula o deixou mais em baixo.

E mesmo a mim sendo verdade essa coincidência, nunca liguei, é um pênis, todos os seres humanos nascidos com genes masculinos têm um.

Eu fico do lado dessas vítimas, mas não esqueço que elas me fizeram o mesmo. Um dia pagarão, nem que seja com a própria vida, mas que, por favor, não seja cometido o crime horrendo que fizeram com que uma simples criança que só queria brincar se tornasse o que ela é hoje, que mesmos sendo horrível, depois de eu falar com ela dentro do meu barco, entenda porque Líder é assim.

Mas isso não explica e não tira o facto do que ela fez comigo, com a minha boca.

Eu nunca a perdoarei.