1.2 ༻✷༺

203 30 304
                                    

— MORRAAA!!! — Com um grito estrondoso que rasgou o silêncio do quarto, Asher saltou da cama, seu corpo tremendo com o susto.

Um pesadelo terrível assombrou sua mente durante toda a semana. Seu grito ecoava em sua cabeça, Asher sacudiu a cabeça, tentando se livrar das imagens perturbadoras. Ainda atordoado pelo sonho que acabara de ter, ele esfregou freneticamente as mãos no rosto e no corpo, como se tentasse apagar a lembrança assustadora. Sonhar com a morte não era uma experiência agradável, e menos ainda quando já quase acontecera antes. Ele prometeu não beber mais hidromel antes de dormir.

O aroma de café com ovos e bacon frito invadiu o quarto, envolvendo Asher em um abraço acolhedor. Ele adorava estar em casa, longe da comida insípida e insalubre da escola. O cheiro lhe deu forças para levantar cedo da cama, mas uma infeliz promessa feita à sua avó pairava em sua mente: ajudá-la nas tarefas da oficina durante as férias de verão, incluindo preparar a entrega de um artefato a zaqen Ecter.

Asher entrou no banheiro e lavou o rosto com o resto de água que sua avó deixou no balde. "Uma santa senhora", pensou. Preferia carregar pedras pelas montanhas de Naamá do que tirar água do poço, mas desviou seu olhar para o espelho improvisado, feito de um pedaço enferrujado da armadura de seu avô, que refletia sua imagem distorcida. 

"Não sou o melhor espécime, mas pelo menos estou ficando forte", Asher refletiu, orgulhoso de seus músculos mais definidos. Planejou para essa semana, passar a maior parte do seu tempo livre adiantando os trabalhos na oficina, ajudaria sua avó a criar novos artefatos e espadas. Com seu corpo agora pronto para o dia que o aguardava, Asher saiu do banheiro e encontrou Magdala na cozinha, esperando por ele.

— Ei, você está ficando forte, hein! — ela brincou, apertando seu bíceps. — Pronto para entregar o artefato a zaqen Ecter?

— Não irei, nosso combinado foi apenas preparar e não entregar o artefato.

Magdala tentou persuadir Asher quando recebeu sua resposta negativa. Desenhou um quadro vívido de uma senhora indefesa subindo e descendo os penhascos de Bekôrah, implorando por ajuda, mas Asher riu tanto que parecia estar sendo torturado com uma pena. O garoto sabia que era mais fácil acontecer algo com ele do que com ela nessa jornada. Desistindo de seu sentimentalismo, Magdala mudou de tática e apelou para o desejo dele de se encontrar com a princesa Yohanna. Provocava enquanto colocava o café na mesa e cortava o pão para o café.

— Ela que vai perder a chance de me v... — Asher parou repentinamente a sua fala, quando bebeu um gole do café —, mas que troço de café é esse? Um cheiro de chulé com gosto de batata crua, me passa o mel para tentar adocicar esse negócio.

— Que blasfêmia falar do meu café, saiba que essa receita tem gerações de família e trate de beber tudo, vou fiscalizar — brincou.

— Difícil entender como a família chegou aqui com esse café? Se ele não me matar, nada mais conseguirá.

— Quando você se casar com a princesinha Yozinha, vai sentir a falta do meu café especial. Pensando bem, vou passar a receita para minha princesa.

— É Yoguinha! Isso comprova o quanto você não me ama, querendo perpetuar minha tortura. Agora não sei, se é me casando com a princesa ou me obrigando a tomar esse café horroroso pelo resto dos meus dias? — rindo bastante, bebeu o café em um gole, mas não sem antes resmungar e fazer algumas caretas. — Depois dessa é melhor a gente ir para oficina e preparar o artefato.

Com cuidado, Asher envolveu o artefato em seus dedos depositando-o na caixa. As vidas de Asher e sua avó eram marcadas por desafios e dificuldades. Residindo na parte mais pobre da região central de Naamá, eles lutavam para sobreviver em uma rotina implacável. Para eles, a vida nas alturas era extremamente difícil, mas isso não roubava a alegria de seus corações.

Apócrifo: A Queda de EedanOnde histórias criam vida. Descubra agora