2.3 ༻✸༺

56 13 123
                                    


A garota abriu os olhos lentamente, tentando se lembrar do que havia acontecido. Sua visão estava turva e aos poucos, ela percebeu que estava deitada em uma cama simples, feita de madeira áspera e palha, ocupando um canto do quarto, coberta por um lençol desgastado e alguns trapos que servem de cobertor.

Ao lado, uma pequena escrivaninha de madeira, com pernas bambas e uma única cadeira de madeira rústica, sob ela encontram-se papiros, penas de pavão e frascos de tinta colorida, aguardando os raros momentos de inspiração.

A luz do sol entra timidamente pelas frestas das janelas desgastadas do humilde quarto. As paredes de barro e pedra mostram sinais de idade e desgaste, enquanto o chão de terra batida é marcado pelos passos cansados do seu ocupante.

No chão, alguns objetos pessoais estão espalhados desordenadamente: um par de sapatos gastos, uma bacia de metal amassada e um pente de madeira quebrado. Uma vela meio derretida arde em um castiçal improvisado, lançando sombras pelas paredes nuas.

Uma prateleira de madeira encostada na parede abriga poucos pertences: alguns papiros antigos com páginas amareladas, um porta retrato, uma jarra de barro rachada e um pequeno crucifixo de madeira desgastada, símbolo de esperança em meio à pobreza.

Apesar da simplicidade e da falta de recursos, o quarto emana uma sensação de dignidade e resiliência, testemunha silenciosa da vida difícil e das lutas diárias.

"Certamente estou no quarto do incircunciso, mas como vim parar aqui? Será que venci a luta?" pensou a garota, tentando se levantar e sentindo dores em todo o seu corpo.

Uma bandeja na escrivaninha com alimentos frescos aguardava por ela: um pão macio, uma maçã suculenta e uma caneca de café quente.

Um desenho chamou sua atenção: era um retrato do Asher e de uma garota, feito a lápis de olhos. Mas logo seus pensamentos foram interrompidos pela voz do Asher que se aproximou da cama onde ela estava deitada.

— Deveria descansar, deve estar a dias sem comer? Preparei para você um café para devolver suas energias — rindo, sentou na cadeira. — Não tenho muito a oferecer, mas pelo menos, o gosto do meu café é melhor do que da minha vó.

A garota virou o rosto em protesto, mas sabia que ele tinha razão. Sua vida tinha saído do controle e ela havia perdido seus suprimentos, ficando com fome por vários dias.

Ela sentou com dificuldade e aceitou a bandeja oferecida pelo garoto, sentindo-se grata por sua bondade, mas preferiu não demonstrar.

— O que sua namorada acha sobre ter outra garota em sua cama? Como eu disse, chanokeus são todos iguais — provocou.

Asher observou atentamente ela contemplando a ilustração no porta-retratos. A cena capturada ali era um vislumbre de um momento especial, quando ele presenteou Acsa com um pedaço de bolo de limão, e ela, apesar de suas reservas iniciais, aceitou o gesto. Neste dia, Asher preparou a tela com um pedaço de lençol que ele sujou com o próprio bolo e pediu para ela esticar enquanto ele rabiscava a cena.

Era como se aquele simples ato de generosidade tivesse sido capaz de dissolver as sombras de desconfiança que envolviam seu coração, em relação ao novo lugar e às pessoas desconhecidas, trazendo um brilho de esperança aos seus olhos.

— Não é minha namorada — declarou Asher, segurando a ilustração com reverência. — Não sou um chanokeu, e mesmo que fosse, cada um de nós é único em sua essência. Somos indivíduos únicos, não devemos julgar uns aos outros por nossas origens ou aparências.

Sua voz era firme, mas carregava um tom de serenidade que desafiava qualquer tentativa de argumentação superficial. Ao ouvir suas palavras, a garota ficou momentaneamente atônita, surpresa pela resposta inesperada e pela sinceridade palpável que transbordava das palavras de Asher.

Apócrifo: A Queda de EedanOnde histórias criam vida. Descubra agora